Vontade de poder

A não vontade de poder acaba sendo uma ofensa para muitos, principalmente quando se torna o anti-espelho daquilo que são

Por: Luiz Alca  -  21/02/21  -  19:13
  Foto: Free-Photos por Pixabay

O filósofo alemão Friedrich Nietzsche falava muito em vontade de poder, demonstrando o horror que sentia por essa atitude humana, para ele execrável, pelas consequências envoltas em vaidade e ambição, muito mais do que poderia contribuir para o desenvolvimento. Já para Charles Darwin, essa vontade de poder, remanescente da origem do homem, era causa de desenvolvimento, apesar das dores e dos sofrimentos causados.


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Na minha geração, ainda não tão frustrada com os desmandos dos poderosos ou, talvez, alienada de
seus trágicos resultados, ela era enaltecida e, muitas vezes, confundida com força, atitude, perseverança e "garra", palavra que começava a entrar na moda e ganhar respeito. Os irmãos maristas, no meu querido Colégio Santista, falavam muito numa atitude firme para se conduzir aos postos mais altos, aos cargos mais importantes e assim, atuar em favor do país.


Em contraponto, convivi com um pai, modéstia à parte, brilhantemente culto e de uma dignidade à toda prova, mas sem qualquer vontade de poder. A ponto de recusar qualificações mais altas na carreira, de jamais barganhar funções ou bajular os poderosos para alcançar este ou aquele cargo, na atividade profissional. Bastava perceber que seria alçado a uma posição mais alta na condição de delegado de Polícia, que tentava ficar à sombra para ser esquecido. Chegou muito bem ao final, por reconhecimento dos colegas e chefes, jamais por reivindicação própria.


Vivi um conflito bravo nesse sentido, entre a admiração por meu pai e sua maneira de ser e amigos e mestres que me diziam que eu nada conseguiria se não fosse à luta com todas as minhas forças. Aos poucos, fui descobrindo que a não vontade de poder acaba sendo uma ofensa para muitos, principalmente quando se torna o anti-espelho daquilo que são. Ou seja, quando os ambiciosos descobrem que o que lhes é mais importante e objeto do desejo máximo, como status e ascensão social, é inteiramente desprezado por alguém. Torna-se insuportável de conviver.


Como abrir mão um cargo, não aceitar o que parece irrecusável aos olhos mundanos, justamente porque confere o poder que julgam ser fundamental para a existência. Não vê como tantos não conseguem viver sem esses cargos? Os políticos não reeleitos, principalmente, que deixam um e já se desesperam para conseguir outro. É o fascínio da autoridade. Nem que seja para ser síndico do prédio.


A ausência de rótulos ou títulos, o silêncio, a convivência com o nada, o anonimato de vez em quando, também podem ser grandiosos e trazer muita satisfação. Definir o limite dessa vontade de poder, até onde é positiva e quando começa a extrapolar, é importante e lúcido.


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