Ser feliz diferente

Por que uma pessoa não pode ser feliz sozinha, se curtir, rever conceitos, ter a si mesmo como companhia e das melhores?

Por: Luiz Alca  -  20/12/20  -  12:26
  Foto: Imagem ilustrativa/Unsplash

 Uma das conseqüências mais perigosas da Sociedade Sistemática em que estamos inseridos - por mais que pareçam mudar os invólucros - até a raiz dos cabelos é estabelecer fórmulas para tudo, dentro do seu controle, é claro e passar modelos prontos para as pessoas seguirem e assim, alcançarem os resultados propostos. O exato caminho as automatização, o anular o mistério da individuação que tanto enriquece o homem, sempre lembrando que ele é a única natureza capaz de questionar os caminhos de sua existência.


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Uma manipulação trágica que vem de longe e ainda permanece em corações e mentes, o que a chamada modernidade não conseguiu mudar por mais que os jovens pareçam não ligar para isso, é a noção de felicidade, junto com a realização. 


O que em comportamento se estuda como os critérios da intitulada Boa Vida, teoria montada em seis pilares: o conforto, a segurança, a companhia, o apoio religioso, a família e a longevidade. Seis aspectos fundamentais para alguém ser feliz. Sem eles, fica difícil alcançar a melhor vida, ou pelo menos, um seguir satisfatório e pleno?


Com certeza, não, desde que se use do pensamento, da tentativa de compreensão, da busca interna, da leitura menos equivocada e influenciada da singularidade, esse magnífico privilégio da Grande Força a cada um de nós. Dá sim, para ser feliz diferente, contestando um a um dos seis itens, como fórmula obrigatória.


Pela ordem, o conforto. Ele não pode ser estabelecido, já que para cada um de nós, a definição muda. O que é confortável para mim pode não ser para o outro. Se não me agrada morar numa casinha modesta, mas pé na areia numa praia e dormir numa rede, para muitos, é o deleite e o que se enquadra na sua noção de conforto.


A segurança, ah, a segurança. De que adianta pagar o preço altíssimo de conseguir uma precária segurança abrindo mão da nossa total liberdade? Obrigados que estamos a nos confinar atrás de câmeras de segurança, carros blindados, guarda-costas? 


É delicioso estar acompanhado de quem amamos, admiramos ou nos traz o prazer da conversa, do afeto, do carinho. Mas nem sempre a companhia é isso e quantas vezes nos saturamos com certas presenças? Porque uma pessoa não pode estar feliz sozinha, se curtir, rever conceitos, ter a si mesmo como companhia e das melhores?


Quantas vezes diante de um trauma ou de um conflito difícil de ser enfrentado por alguém, ouço: "o que falta a fulano é uma religião". Nem sempre, meus amigos, nem sempre. Creio muito na força da fé, do encontro místico, mas em tantos casos a religião mais abafa e fanatiza do que ajuda a decifrar caminhos e superar dificuldades? Há pessoas agnósticas muito felizes e pensar em contrário já é um condicionamento.


O papo da família é o que me atinge mais diretamente. Vira e mexe ouço "a família é tudo não?" ou "o que seriamos sem a família". Tenho vontade de responder com bom humor "então minha vida é nada", já que minha família biológica é hoje reduzidíssima. Mas como sou feliz com os amigos que tenho, com pessoas tão queridas que compensam as carências e iluminam meu cotidiano.


Fechando, a longevidade. Uma vida longa com saúde e lucidez, sim; do contrário, viver muito passa a ser um suplicio. O mais importante é acrescentar vida aos anos, do que anos à vida, não é?


Como é bom, descobrir que se pode ser feliz diferente...


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