Metas e propósitos

Adoraria que os jovens lessem a crônica de hoje e reavaliassem suas metas para não se perderem por aí, abandonando propósitos sustentadores, ainda que na certeza de que uni-los é um luxo e uma felicidade que não acontece todo dia

Por: Luiz Alca  -  15/11/20  -  19:28
Atualizado em 19/04/21 - 17:49
  Foto: Imagem ilustrativa/Unsplash

A princípio quando se menciona as palavras do título, parece não haver diferença ou que são apenas duas atitudes em favor de uma mesma realização partindo do mesmo ponto, pessoa ou grupo de trabalho dentro de uma área produtiva. Já dei palestras em empresas, já participei de discussões em grupos de RH, percebendo como os dois eram confundidos, ou melhor, só se respeitava a meta, considerando-a o propósito absoluto. “Cumprir metas” é a frase mais importante ao lado da palavra “foco”, também interpretada de forma deturpada.


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Metas são propostas externas que surgem da necessidade, do objetivo do que se constitui um grupo profissional em sua finalidade de resultado e lucro. É ao ponto em que o atleta se propõe a chegar em nome de uma marca, para bater o recorde, o alcance de um comportamento naquilo que é considerado o caminho, a fama que se pretende em nome da valorização dada pela sociedade, o ultrapassar da linha mestra ou ao menos, atingi-la para se enquadrar na condição de vencedor.


Num olhar um pouco menos exigente, o desincumbir-se bem da missão proposta, o não decepcionar um grupo que o escolheu, enfim tudo ligado ao cumprir e que veio de fora para dentro, já que vai exigir atenção, interesse, esforço, discernimento. E sempre muito trabalho, esse dar o sangue ou o vestir a camisa que faz toda a diferença. 


Nem sempre escolhemos as metas, nem sempre. Muitas vezes, elas surgem dentro das circunstâncias e temos que compra-las ou assumir desempenhos que estão vinculados a um cargo, uma função. E quanto melhor o fizermos, mais seremos elogiados, teremos claras vantagens e prêmios.


Já os propósitos surgem dos desejos, das ânsias, dos impulsos. Formam-se dentro de nós muito antes de alcançarem o mundo. Ligam-se ao talento, à imaginação e antes de tudo de ouvirmos com fidelidade a voz do Eu que nos aponta as inclinações, o pendor, os talentos. E já que não existe desejo que não tenha como finalidade o prazer, ele, prazer é um dos faróis desses propósitos.


Só que a vida não é tão dadivosa e nem de longe é justa e perfeita. Poucas dos nossas metas cotidianas são frutos dos nossos propósitos, a grande maioria surge das situações externas, dos compromissos, das voltas que o mundo dá, das obrigações pela sobrevivência, pelos papéis sociais desempenhados. É quando elas pesam muito porque não têm o embasamento do propósito, não era aquilo o que queríamos estar fazendo, na certeza de que em sendo propósito e meta, nada nem ninguém dificuldade segura.


Adoraria que os jovens lessem a crônica de hoje e reavaliassem suas metas para não se perderem por aí, abandonando propósitos sustentadores, ainda que na certeza de que uni-los é um luxo e uma felicidade que não acontece todo dia.


*Texto publicado em 31/10/2015, na revista Luiz Alca Crônicas 2, página 8


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