Frustrações desnecessárias

É preciso compreender que não é porque se ama alguém que somos obrigados a gostar das mesmas coisas, embora seja maravilhoso quando isso se dá

Por: Luiz Alca  -  27/12/20  -  11:13
  Foto: Imagem ilustrativa/Unsplash

Quem vive a dois, numa relação legal sem ser perfeita, conhece o enorme prazer de se compartilhar com alguém, no convívio do dia-a-dia ou não, de uma emoção ou de uma idéia que nos entusiasma ou envolve. Perceber que o outro sente de uma forma semelhante a nós é muito bom. Assim se descobrem as afinidades.


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Como é legal verificar que uma pessoa sensibilizou-se da mesma forma que nós ao ler um capítulo de um livro, assistindo a um filme ou a uma peça de teatro. Sentir a troca e a interação dos participantes de um curso, o envolvimento de quem ouve uma palestra, o fascínio semelhante ao do executante de quem está na platéia de um concerto. Faz um bem danado para nossa alma, esses encontros, o que Paul Valery chamava de "pequenos casamentos" que acontecem entre as pessoas.


Ao contrário, é muito frustrante quando percebemos o oposto, ou seja, que aquilo que tanto mexe conosco a ponto de nos causar êxtase, que nos leva ao mágico, passa batido para o outro, não o desperta em nada; pelo contrario, o entedia. De repente, a mulher chega à casa, no auge, querendo passar ao marido, algo que tanto a entusiasmou e ele, nem aí, pergunta o que se tem para o jantar...Assim como o próprio quando quer discutir com entusiasmo a partida de futebol que definirá um campeonato importante e ela, passa batida!


Mas é preciso compreender que não é porque se ama alguém que somos obrigados a gostar das mesmas coisas, embora seja maravilhoso quando isso se dá. Logo, à medida em que vamos conhecendo os parceiros, os filhos, os amigos, sabemos o que dividir e o que é melhor fazer sozinho para evitar frustrações desnecessárias.


Para que obrigar alguém a assistir conosco novamente um filme que nos empolgou, na quase certeza de que dormirá nos dez primeiros minutos de exibição? Ver essa cena é muito pior do que ir sozinho e curtir com o próprio ego. Ainda que essa prática crie um certo desaponto. Esse cuidado desaba em solidão? Não, necessariamente; pode ser um excelente recurso de boa convivência, desde que haja outros pontos em comum. Senão, não dá mesmo.


Evitar o desgaste nos relacionamentos, valendo a pena mantê-los em nome do afeto é um ato inteligente de quem aprendeu que dominador não admira dominado. Que cada um de nós tem que criar a forma certa do convívio. Mais que isso, faz parte da sabedoria do amor.


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