A humildade

"O verdadeiro sábio é o homem que tem consciência da própria ignorância"

Por: Luiz Alca  -  31/01/21  -  14:20
  Foto: Reprodução/Pixabay

O homem mudou pouco em 2500 anos, em termos de controlar a soberba, de não se deixar levar pela arrogância, pela vaidade e pelo convencimento bobo. Que tanto o diminuem. Sócrates, o grego que pregava pelas feiras e praças, sem nunca ter escrito uma única frase, considerado pai da filosofia ocidental, dedicou seus ensinamentos, naquele século V a.C. a uma cruzada incessante contra a falsa sabedoria humana e essa vaidade que mata qualquer boa intenção.


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Numa Atenas vaidosíssima e convencida de seu poderio, onde imperavam, o solenismo, a falsa
retórica cheia de truques, os intelectuais falastrões e os políticos oportunistas - sim, eles já existiam e
comandavam a cena - afirmava que o verdadeiro sábio é o homem que tem consciência da própria
ignorância, apontava sem medo o recurso bobo do esconderijo nas palavras vazias e de efeito e gritava aos quatro ventos sua frase proverbial "só sei que nada sei".


Não foi à toa que o condenaram a morrer ingerindo veneno, numa taça de cicuta, o que ele o fez com um sorriso, rodeado de amigos e afirmando "ninguém sabe o que é a morte; talvez seja para o homem o maior dos Bens, mas todos fogem dela como se fosse o maior dos males. Haverá ignorância maior e menos fé do que essa de pensar saber-se o que não se sabe?"


Tão distante de Sócrates, mas o reverenciando em sua batalha, não aguento mais a arrogância de
certas pessoas, essa soberba por nada. Do gabar-se pelo que não lhes pertence em sua condição de
veículos, pelo enaltecer-se ou julgar-se superior pela conta bancária, por coisas que são apenas serviço, conforto, prazer.


E quantos se diminuem diante dos valores externos e não, de forças internas, o que configura a humilhação e não, a magnífica humildade. Ou seja, são muitos os que se depreciam por não possuir o material, o que é, no mínimo, uma falsa referência e demonstra baixa autoestima.


O que é humildade, essa grandeza incomensurável? Trata-se do entendimento que nos dá o sentido da nossa limitação, uma saudável reverência à condição de humano (bonito, não?), a consciência do quanto nos falta, de como somos relativos diante da captação do Absoluto.


Nada tem a ver com subserviência - péssima! - e é o oposto da auto complacência de que falamos aqui recentemente. Uma das mais belas qualidades do ser humilde é a possibilidade de aproveitar as lições recebidas com amplidão sem qualquer tipo de vergonha ou temor de estar se diminuindo perante um núcleo. Um "não sei" pode ser muito mais inteligente do que tentar fingir através de palavras vãs que nada explicam ou esclarecem.


A modéstia de Sócrates num tempo de vaidade intelectual é uma lição memorável: por maior que seja o poder e o desenvolvimento atingido somos todos humanamente estúpidos em alguns pontos e
questões. Pensar por si mesmo, olhando o espelho do outro: eis a singela sabedoria.


Não somos reis nem salvadores da humanidade; somos pessoas muito simples que dão a sua
contribuição dentro do permitido pela Lei Universal. Nem mais, nem menos. Só isso e tudo isso.


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