Amores líquidos

Relacionamento humano não é plastificado, não se vende em shopping, não é utilitário. É muito mais

Por: Luiz Alca  -  20/12/20  -  12:15
  Foto: Imagem ilustrativa/Unsplash

Em seu livro do mesmo nome do título, o sociólogo polonês Zygmunt Bauman, fala sobre esse tipo de amor que domina hoje toda a modernidade líquida que assolou a sociedade. Não se trata de um não-amor, de um mal querer, mas de um afeto curto, sem solidez, que vai até a página 20 do livro, quanto muito. Trata-se de pré-sentimento de amizade, amor familiar ou a dois que se fundamenta apenas no ato, na ação contínua das pessoas envolvidas. De tal forma que somos amigos ou amantes enquanto eu der a você exatamente aquilo que espera e na hora em que espera, quer seja gentileza, prazer ou delícia. O parente, parceiro ou amigo é bom desde que traga satisfação imediata e será descartado quando essa faltar. É assim que as relações amorosas se tornam episódios amorosos, como coloca brilhantemente o autor. Acontece que não vivemos apenas dos episódios, precisamos da confiança de uma relação, o que tanto nos segura em momentos difíceis em que o compartilhar é o grande bálsamo.


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Não há dúvida e precisamos estar plenamente conscientes disso que a maioria dos nossos relacionamentos sociais e comerciais são líquidos. Seríamos muito infantis, ingênuos e românticos além da conta se procurássemos solidez nesses segmentos. Na vida em sociedade é assim mesmo “oi, tudo bem? Beijo! Outro!” Amores sólidos são poucos, mas fundamentais na nossa vida. São aqueles que seguram legal, os momentos de festa e os de dor, os que sabem manter a cumplicidade no ponto certo, os que comportam atração e choque, ou seja, momentos maravilhosos de carinho, doçura e afeto e também momentos, senão maravilhosos, mas fortes, de discussões, desentendimentos e até, brigas.


Justamente porque aí se estabelece a intimidade, a confiança do poder falar o que se pensa e(ou) o que tanto se precisa. Numa vida a dois, num relacionamento entre mãe e filho, por exemplo. Como uma mãe não segura um desabafo de um filho e espera sempre dele o sorriso social e a conversa formal? E como um filho não entende que a leve cobrança da mãe quanto à sua presença e participação é um ato de amor? Relacionamento humano não é plastificado, não se vende em shopping, não é utilitário. É muito mais. Sua grandeza está nesse sólido que segura qualquer parada e não num líquido que se perde quando derramado ao chão. Que é gelo fino e como tal, pede rapidez, superficialidade. Como dizia Ralph Emerson “quando se esquia sobre gelo fino a salvação está na velocidade”. Não podemos viver apenas de amores líquidos, precisamos de um braço firme, de um olhar seguro, de uma fisionomia que, nos passando confiança, nos faça lembrar a Deus!


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