Pandemia quebra paradigmas trabalhistas e exige mudanças dos profissionais

Porto & Mar realiza webinar sobre o mercado de trabalho em tempos covid-19

Por: Matheus Müller  -  23/07/20  -  23:41

Após as ondas de demissões que marcaram os primeiros meses da pandemia, o mercado de trabalho começa a ficar mais “otimista”. E nesta nova fase, tem valorizado profissionais com capacidade de adaptação, resiliência e comunicação. A avaliação é do sociólogo Lucas Nogueira, diretor de Recrutamento da Robert Half, empresa que é líder mundial na seleção de profissionais especializados. 


Nogueira aponta que os profissionais dispostos à mudança, que saibam se comunciar bem com suas quipes e resistam às intempéries, como as barreiras criadas pela doença, terão melhores perspectivas. 


A quebra de paradigmas que a pandemia do novo coronavírus ocasionou nas relações de trabalho foi tema do webinar Porto & Mar 2020 “O mercado de trabalho em tempos de pandemia”, realizado pelo Grupo Tribuna na tarde dessa quarta-feira na plataforma Zoom. A mediação foi do editor de Porto & Mar de A Tribuna, Leopoldo Figueiredo. 


O diretor começou o webinar com uma informação positiva: “começa a se perceber um otimismo nas empresas”, referindo-se à manutenção de vagas e retomada de contratações. 


Apesar de ressaltar que o momento não é positivo como no começo do ano, ele diz observar uma estabilidade na questão das demissões. “O número de demissões travou”, cita, com base nos números do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged). 


Nogueira acredita em dois cenários para a tal estabilização, embora tenham ocorrido muitos desligamentos. Primeiro ponto: “aquelas posições menos especializadas já foram na primeira leva (de demissões)”. Segundo: “a empresa não pode desligar o profissional que ficou, que é especializado. A busca por estes (qualificados) leva mais tempo". 


Ainda nessa linha, o especialista vê que os projetos “engavetados” pelas empresas começam a sair do papel. “Quando falamos em emprego estamos falando em perspectiva futura. Se contrata para atender uma demanda”.


Mercado no porto


No setor portuário ele destacou a grande movimentação de profissionais da área do Comércio Exterior (comex). Neste caso, o coronavírus também foi fator crucial, pois a maioria dos insumos para a saúde é importada.


“Percebemos aumento significativo (na contratação) de profissionais de comex, até por conta das novas rotas (muitos insumos são da China e, com os bloqueios tiveram que vir por caminhos alternativos)”, diz Nogueira, que ressaltou a importância do inglês para este grupo, que ajuda no desembaraço dos insumos.


O especialista destacou que o conhecimento, experiências e contatos profissionais, que podem agilizar processos e procedimentos, têm sido bastante valorizados. “A empresa não contrata pessoas, contrata realizações”.


Ele cita que ser difícil apontar uma tendência para as contratações, mas acredita que sairão na frente aqueles que criarem estratégias e cenários futuros, antevendo como será a logística portuária quando for o momento da vacina, por exemplo. Medidas que podem dar agilidade, reduzir custos e investimentos.


Quebra de paradigmas


Nogueira brinca que a pandemia acelerou muitos processos, como se aprendêssemos a nadar e logo fossemos jogados na piscina. Ele vê certa semelhança dessa situação com o Home Office, que parcela da população adotou.


Apesar das empresas e população ainda não estarem preparadas, por falta de equipamentos, tecnologia e mobiliário, os trabalhos têm sido realizados com sucesso. “Aplicamos uma pesquisa (no setor privado) e quase 80% se disseram felizes com o trabalho remoto. Mais 70% dos gestores viram que a produção não caiu”.


A tendência, segundo ele, é que no pós-pandemia haja um equilíbrio entre home office e trabalho no escritório. “Vai existir uma flexibilidade. (A covid-19) veio quebrar um monte de paradigmas. Não são férias em casa. As pessoas trabalham mais”.


Essa possível nova realidade, de acordo com ele, pode inclusive impactar na forma como são locados imóveis comerciais, assim como são ocupados. O especialista explica que podem ser menores e, inclusive, com aplicação de rodízio de empregados.


Novos cenários


Nogueira ressalta as empresas estão diferentes. Ele aponta a queda dos degraus hierárquicos, e que agora funcionários e chefia trocam informações a todo momento, por isso, inclusive, a importância de uma comunicação transparente. 


Aos profissionais as seguintes orientações: se atualizar, buscar se adaptar as constantes mudanças, ser mais curioso e interessado, além de ter o senso de dono. “É preciso se perguntar: qual é o impacto do meu trabalho? Para que eu faço isso?”


“Você não é contratado apenas para uma função, mas para entregar um projeto. Não existe o profissional que diz que só foi contratado para fazer isso (um tipo de trabalho). Entender a sua responsabilidade dentro da estrutura é muito importante”.


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