Nas batidas da música, o poder de transformação

Projeto Musicalidade na Gota, em Santos, muda vida de crianças e adolescentes da região

Por: Tatiane Calixto & Da Redação &  -  06/11/19  -  12:13
Atividades de violão na Gota têm transformado para melhor a vida de Giovanna, Miguel e Ana Beatriz
Atividades de violão na Gota têm transformado para melhor a vida de Giovanna, Miguel e Ana Beatriz   Foto: Vanessa Rodrigues/ AT

Entre notas e ritmos, o projeto Musicalidade na Gota, realizado há três anos pela Gota de Leite, em Santos, tem foco na música, mas vai além. Atende crianças e jovens gratuitamente, fazendo com que encontrem não só o compasso das melodias aprendidas nas aulas, mas também a batida perfeita na vida.  


Nele, são oferecidas aulas de violão e percussão no contraturno escolar. As vagas são abertas para crianças e jovens de 8 a 17 anos. São 40 chances para cada modalidade, somando quase 100 oportunidades à disposição. 


“A ideia era oferecer atividades no contraturno escolar, mas já tínhamos um projeto voltado para o esporte e queríamos ter algo que incentivasse a cultura. Por isso, chegamos a essas aulas”, explica uma das coordenadoras da Gota de Leite, Adriana Tavares Oliveira.  


Segundo ela, porém, os aprendizados são muitos e impactam não apenas os alunos, mas as famílias deles, que passam a valorizar e buscar por mais cultura. 


O lado bom da vida  


Ana Beatriz de Melo Silva, de 11 anos, frequenta o projeto há pouco mais de três meses. Está tirando as primeiras notas do violão ao mesmo tempo em que amplia seu repertório cultural.  


“Eu nunca tinha entrado em um teatro e fiz apresentação no Guarany”, diz, orgulhosa. Ela chegou ao Musicalidade na Gota de tanto ouvir a amiga Giovanna falar do projeto. “Como eu ficava em casa à tarde, vim pra cá. E foi ótimo para não ficar sem fazer nada”.  


A amiga de Ana Beatriz, Giovanna Emannuele dos Santos Costa, de 11 anos, está há dois anos no projeto. Ela sonha em ser cantora e saber tocar violão é uma forma de incrementar a futura e desejada carreira.  


Ainda que tenham expectativas diferentes em relação às aulas de violão, Ana Beatriz e Giovanna desenvolvem habilidades que usarão em diferentes momentos da vida. Segundo Thiago Moura de Oliveira, professor de violão, como eles tocam juntos, aprendem a trabalhar em grupo, ter disciplina e persistência e exercitar a coordenação motora e a atenção.  


“Crianças que tinham problemas com indisciplina conseguiram melhorar ao longo do ano. Temos esse feedback dos pais e até da escola. É claro que nós, professores, incentivamos e orientamos, mas essa consciência acontece muitas vezes de forma orgânica com a música”. 


O professor italiano Mikele ficou maravilhado com a batida da percussão e não deixou mais o Brasil
O professor italiano Mikele ficou maravilhado com a batida da percussão e não deixou mais o Brasil   Foto: Vanessa Rodrigues/ AT

A prova 


Miguel Holovate Mariano, de 10 anos, faz aulas de violão e percussão e conta que abraçou o projeto para ter mais concentração nas aulas. “Eu vim porque, quando reparava, estava com a cabeça longe”, admite o garoto, que garante ter melhorado bastante com ajuda da música e do projeto. 


Preocupação constante com novos horizontes 


O professor Thiago Moura de Oliveira também conta que outra preocupação é mostrar novos horizontes aos alunos. “Além de didática, queremos apresentar uma diversidade de repertório, tanto no que diz respeito aos ritmos brasileiros quanto inseri-los num contexto mundial”.  


Por isso, trabalham bastante com ritmos do Nordeste e MPB. E para dialogar com os jovens, não abrem mão de músicas que estão em séries e filmes. O sucesso do filme que mostrou a história da banda Queen, por exemplo, foi o gancho para que fossem apresentados os clássicos do rock aos alunos.  


“Eles são de uma geração digital. Aqui, é um momento de voltar às raízes. Muitos chegam aqui sem referências. Acredito que hoje a música pop é tão digital e eletrônica que eles não veem os instrumentos. Visitamos um estúdio e muitos nunca tinham visto a maior parte dos instrumentos. O projeto é importante para aumentar o repertório cultural deles”. 


Percussão encanta os mais jovens 


Matheus Galvão Andrade tem 9 anos e confessa que não sabia muito bem o que era percussão quando foi incentivado pela mãe a se inscrever no Musicalidade na Gota. A verdade, no entanto, é que ela acertou em cheio. “Eu me apaixonei pelas aulas. Quando estou tocando, eu sinto uma energia muito boa”. 


João Guilherme de Souza Dias, de 14 anos, também destaca a empolgação nas aulas de percussão. Mas segundo ele, outras questões que o motivam são a mistura cultural e a possibilidade de criação nas aulas. 


Temas, por sinal, muito importantes para o professor Mikele Pasini. Italiano, Mikele já era músico e apaixonado por percussão antes de chegar ao Brasil. Veio para cá com o sonho de tocar na bateria de uma escola de samba. Realizou o sonho durante um desfile no Rio de Janeiro e não voltou mais para sua terra natal. 


Apesar de ter estudado outros instrumentos, ele conta que, quando sentiu o som do tambor, se encontrou. “Ao chegar no Brasil, me surpreendi ao ver que os músicos percussionistas, às vezes, sofriam preconceito. Trago para a aula essa valorização da percussão e cultura popular. Além da exigência de leitura de partitura e estudo, porque o percussionista é um músico”, explica Mikele, que já esteve na África para aprofundar seus estudos.  


Thiago fica atento ao que está em evidência para as aulas
Thiago fica atento ao que está em evidência para as aulas   Foto: Vanessa Rodrigues/ AT

Perfil  


Musicalidade na Gota 


O que é?  


Aulas gratuitas de violão e percussão para crianças a partir dos 8 anos até adolescentes de 17. São 40 vagas para cada modalidade. O objetivo é, além de oferecer uma atividade no contraturno escolar, incentivar e ampliar o repertório cultural dos jovens. 


Onde é? 


Gota de Leite, na Av. Conselheiro Nébias, 388, Encruzilhada, em Santos. Telefone 3202-0220. 


Logo A Tribuna
Newsletter