Comunidade em Ação: História de abuso faz advogada vicentina criar projeto de auxílio a mulheres

Diante do horror, nasceu o Projeto de Prevenção às Violências Contra Mulheres, Crianças e Adolescentes, o Previmca, que funciona em São Vicente

Por: Tatiane Calixto  -  12/09/20  -  09:43
  Foto: Alexsander Ferraz/AT

Há quase uma década, a advogada Ana Paula Borgomoni trabalhou em um caso que mudaria não só a sua vida, mas de inúmeras famílias. Uma mulher que era abusada sexualmente pelo marido na frente dos filhos queria se ver salva. Em diversos momentos, o sistema não conseguiu protegê-la e, no fim, não impediu a morte de uma filha. Mas diante do horror, nasceu o Projeto de Prevenção às Violências Contra Mulheres, Crianças e Adolescentes, o Previmca, que funciona em São Vicente.


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na Paula conta que a mulher queria o divórcio e foi solicitada a medida protetiva. Apesar disso, o homem invadia a casa e continuava a cometer os estupros. Ele chegou a ficar preso um tempo, mas foi solto e retomou a violência.


“Trabalhamos para proteger essa família até que aconteceu uma tragédia. Os filhos, diante de toda aquela situação, fizeram um pacto e tentaram o suicídio. O menino de 7 anos sobreviveu, mas a menina de 14, não”.


Aquilo marcou Ana Paula. A advogada lembra que se sentiu frustrada porque devido a diversos entraves, nem a Justiça e nem o Serviço Social conseguiram de fato proteger a família. Foi então que ela e a psicóloga Fernanda Negreiros decidiram doar tempo, conhecimento e carinho para ajudar a prevenir que outras mulheres e crianças vivenciassem o mesmo terror. Nascia ali o Previmca.


Hoje, o projeto é uma rede de apoio gratuita. Conta com uma equipe jurídica, psicológica, de psicopedagogia e serviço social que atua em duas frentes. Uma, a prevenção, por meio de palestras sobre violência doméstica, saúde mental e empoderamento. E outra, colaborando para que mulheres consigam se ver livres de relacionamentos abusivos, por meio de apoio jurídico para o divórcio ou na geração de renda. Tudo de forma gratuita.


“A parte jurídica é um processo difícil para a mulher. Por isso, o apoio psicológico é fundamental. Assim, como o apoio psicopedagógico é importante para as crianças que sofrem ou vivem em um lar violento”, explica Ana Paula.


Por outro lado, o projeto busca parceria com Ongs para colaborar na geração de renda, impulsionando a independência econômica dessas mulheres que, muitas vezes, dependem do agressor.


Atualmente, o Previmca atende 40 famílias. “Começamos em uma sala no meu escritório. Mas percebemos que algumas mulheres faltavam ao atendimento porque não tinham o dinheiro da condução”. A partir disso, conta Ana Paula, as equipes começaram a se reunir nas próprias comunidades.


O Previmca ganhou apoio institucional da OAB São Vicente e se transformou em um Rotary Satélite, ligado ao Rotary Club de da cidade. “O dia que estou atendendo no projeto, sem ganhar um real, é o dia que saio mais feliz. Eu me vejo como um instrumento de auxílio, mas também me curo a cada olhar de agradecimento e gratidão”, declara Ana Paula.


Apoio psicológico às vítimas


A psicóloga Fernanda Negreiro explica que os atendimentos psicológicos, muitas vezes, servem para tirar vendas e fazer com que as mulheres enxerguem a realidade. “Às vezes, a vítima está tão inserida em um contexto violento que acaba distorcendo o que é amor e cuidado, aceitando a violência como se fosse a única saída”, diz.


Então, o atendimento terapêutico chega para mostrar que ela tem escolha, que existem outros caminhos e que o amor não machuca.


"Para mim, ver a mudança de comportamento, um sorriso, ver a vítima te olhar e dizer: ‘poxa, alguém me ouviu e entendeu que eu não gosto de apanhar’. Isso é maravilhoso. Para mim como pessoa, mãe, me faz pensar no mundo quero para os meus filhos. Então, o projeto também me ajuda no meu dia a dia, na minha profissão. E eu desejo multiplicar boas ações, colos e sorrisos, diminuindo cada vez mais a violência”.


Fernanda conta que o Previmca também está fazendo acolhimento psicológico on-line com às crianças da rede municipal e seus familiares. “Queremos agregar profissionais, aumentar atendimento e cada vez mais desmistificar a ideia de que a vítima da violência está ali porque quer. Nosso objetivo é prevenir danos, gerar amor e transformar vidas”.


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