Nunca se falou tanto sobre responsabilidade social. Ou, na verdade, nunca se viu tanto desse conceito aplicado na prática. A pandemia por conta do novo coronavírus aguçou o senso de ajuda das pessoas e, sobretudo, das empresas. Por isso, o projeto A Região em Pauta, de A Tribuna, trouxe esse tema para a discussão, bem nos moldes dos tempos atuais – de forma remota, online, pelo Facebook. E muito foi falado.
Sob o comando da editora-chefe de A Tribuna, Arminda Augusto, a conversa na última terça-feira contou com a presença de quatro pessoas ligadas à ideia de responsabilidade social. Cada uma delas, no seu espectro de atuação, ofereceu elementos para entender a importância desse sentimento, que vira ação que sai do coração. E que une grandes e pequenos, empresas e indivíduos. É disso que trata esse caderno especial.
Um conceito amplo, mas objetivo
Responsabilidade social é algo que vai além do senso comum do “salvar o planeta”, sobretudo quanto às preocupações ambientais. É bem verdade que o mundo nunca precisou tanto de socorro, especialmente para combater (e vencer) a covid-19. Para Juliana Soares, coordenadora de Mobilização e Relacionamento do Instituto Ethos de Responsabilidade Social, o conceito é mais amplo, mas muito claro.
Trata-se da relação ética e transparente da empresa com todos os públicos com os quais ela se relaciona e pelo estabelecimento de metas empresariais que impulsionem o desenvolvimento sustentável da sociedade, preservando recursos ambientais e culturais para as gerações futuras, respeitando a diversidade e promovendo a redução das desigualdades sociais.
“É importante considerar o impacto da empresa a partir das decisões e atividades passadas e presentes e que podem ser positivas ou negativas. Os impactos positivos devem ser potencializados, e os negativos, eliminados”, reforça Juliana, destacando a atuação do Instituto Ethos, que existe há 22 anos.
Coerência
Para ela, a percepção do quanto é preciso estar inserido na sociedade deve nortear as ações das empresas, respeitando uma ideia de coerência. “Do que vale uma empresa fazer doações para organizações sociais que cuidam de crianças e idosos, se ao mesmo tempo o processo produtivo da empresa causa impactos negativos como condições de trabalho degradantes aos empregados, ou poluição ambiental, não tem relações transparentes com a administração pública e ainda perpetua desigualdades em seus quadros funcionais?” questiona a coordenadora do Instituto Ethos.
E a coerência também passa por entender o momento atual de crise. “Tem uma frase que, ao longo dos meus mais de 10 anos trabalhando com essa temática, faz mais sentido ainda nesse momento: ‘Não há como ter uma empresa sadia em uma sociedade doente’. E nesse ponto de vista, as empresas tomaram à frente em muitas ações, considerando a sua força e o poder de impactar positivamente a sociedade e de contribuir com os meios que possuem para o enfrentamento da crise”, complementa Juliana.
Redes sociais incrementam relações com sociedade
A coordenadora do Instituto Ethos ressalta que a entidade fez uma pesquisa no mês de abril sobre o comportamento das empresas com relação à pandemia. E ela traz uma perspectiva positiva sobre a forma de lidar com a crise provocada pelo coronavírus. Juliana conta que o levantamento aponta que 36% dos ouvidos acreditam ser possível normalizar as atividades de um a seis meses depois da quarentena. Outras 23%, em até um ano.
O instituto abrange um universo de 500 empresas associadas. “O cenário que estamos vivendo é de grande incerteza, temos dificuldade de fazer qualquer previsão para o futuro, e conhecer como as empresas estão enfrentando a crise e quais são visões sobre o momento é importante para entendermos como estamos e dar indicativos de ações que podem ser potencializadas pelo coletivo das nossas associadas”, explica Juliana Soares.
E a internet, em especial as redes sociais, pode funcionar como um termômetro do sucesso – ou fracasso – de políticas desenvolvidas pelas empresas durante a pandemia. “As mídias sociais são importantes nesse contexto. É válido e necessário que as empresas usem todos os seus meios para impactar positivamente a sociedade. E usar as redes sociais para inspirar outras pessoas e empresas a terem ações de impacto positivo na sociedade é algo super bem-vindo”.
Juliana reforça que é via de mão dupla: assim como as boas ações são celebradas, as ruins são cobradas pela web na mesma velocidade. “Um dos princípios da responsabilidade social é o accountability, a prestação de contas sobre as decisões e os impactos das empresas para a sociedade. Nesse ponto, as redes sociais formam um canal até mais rápido, mais direto com as empresas, que também demandam uma resposta mais rápida sobre os questionamentos da sociedade direcionados a ela”.
Juliana, porém, insiste na importância da conexão entre ações e posturas também na internet, por meio das empresas preocupadas com responsabilidade social. “A empresa se responsabiliza por todas as suas decisões e impacto na sociedade e atua para o seu desenvolvimento sustentável. Se ela faz isso, assume o papel de protagonista em algumas agendas e mobiliza outros atores a fazer o mesmo, é algo muito positivo. Se for postar só para lacrar (marcar posição na internet com discursos fortes), é algo que não se sustenta”.