A forma como educamos nossas crianças está mudando. Com a ascensão de novas tecnologias e das redes sociais, a interação virtual se sobressai ao conhecimento clássico, teórico, que sai dos livros e tem dificuldade de entrar na cabeça das crianças. Por isso, o Grupo Tribuna promoveu, nesta segunda-feira (28), o fórum A Região em Pauta com o tema Educação – habilidades socioemocionais, uma discussão com especialistas do ramo a respeito dos rumos para uma educação mais humana.
Com um grande público de professores e profissionais da educação no auditório do Grupo Tribuna, em Santos, o evento foi dividido entre as falas de Daniel Castanho e de outras especialistas. Ele é presidente do Conselho de Administração e um dos fundadores da Ânima Educação, que destacou a importância de humanizar o ensino, ainda que incluindo tecnologias na educação.
Estiveram presentes, em um segundo painel, a psicóloga Rosana Primi, graduada pela UniSantos e pós-graduada em Psicossomática, que atua em um colégio da rede particular; Renata Gaia, pedagoga pelo Mackenzie que também atua em um colégio tradicional na cidade, e Cristina Opstal, mestre em Semiótica e Linguística Geral pela USP, docente na Unisanta e professora efetiva de Ensino Fundamental - Anos iniciais na Prefeitura de Santos. Atualmente, é coordenadora de Políticas Educacionais da Secretaria de Educação e, no evento, representou as escolas públicas.
Mudanças necessárias
O palestrante Daniel Castanho afirmou que está mais do que na hora da forma de ensino ser reinventada. O momento é de transição. Apesar de algumas escolas adotarem métodos tecnológicos de ensino, deve partir dos professores a mudança. Mas como criar profissionais que instiguem o pensamento crítico dos alunos? Segundo o empresário, este é o maior desafio.
Durante a palestra, ele ressaltou que, além de incluir tecnologia no ensino, é preciso ensinar o valor das interações humanas, valorizar a criatividade nata e fomentar a curiosidade natural das crianças ao invés de podar esse tipo de pensamento com o intuito de formar profissionais, no futuro, que não têm iniciativa.
A insatisfação com o modelo atual de educação, com giz e lousa, e com professores que aplicam provas, notas, fazem chamada e passam dever de casa é uma faísca para que possamos pensar em um novo jeito de educar, seja em escolas públicas ou privadas.
"Uma sociedade desenvolvida tem por trás uma escola e universidade muito fortes. A gente só vai conseguir se reinventar quando entender que a escola é uma locomotiva e o professor é responsável por isso. É preciso ser apaixonado e inconformado. Apaixonado pelos alunos e inconformado com essa situação do país. Só assim vamos fazer a diferença", finalizou.
Socioemocional
Para a psicóloga Rosana Primi, a autonomia de alunos e de professores deve ser prioridade. Isso porque, a partir do momento em que as pessoas têm autoconhecimento, são mais capazes de difundir aquilo que sabem. “A vida inteira é preciso que a gente se ponha em treino”, disse. Com o conhecimento socioemocional, fica mais simples lidar com questões desafiadoras do dia a dia.
Outra questão abordada pela especialista foi a de que alunos estão, cada vez mais cedo, tendo que lidar com crises de ansiedade. Esse sintoma indica a necessidade de ensinar as crianças e adolescentes a lidar com questões internas, emocionais, para depois venha a preocupação com o mundo externo, o que exige um novo olhar sobre a educação dentro das instituições, algo mais humanizado.
Já Renata Gaia defende que, como a escola traz diversas novas experiências para as crianças, é preciso que o investimento seja feito nos professores, a fim de prepará-los para orientar os alunos da melhor forma possível. “Na verdade, a formação socioemocional é familiar, e a escola entra como uma parceira disso”, disse.
Outro ponto fundamental na educação é criar uma valorização do espaço da escola e de todos que estão envolvidos neste universo, desde os responsáveis pela limpeza das salas de aula até os diretores e coordenadores pedagógicos.
Sobre a tecnologia, Renata diz que, para incentivar a mudança, “Não é preciso ter equipamentos. Não exige nada além do humano para fazer diferente”.
Representando o ensino público, a professora Cristina Opstal disse que, as habilidades socioemocionais vão além da criação de empatia, e também servem para fomentar novas ideias. A partir disso, é preciso “pôr o holofote em iniciativas que já estão dando certo. O importante é valorizar o caminho, e não só o resultado”, finalizou.