Prejuízos do ensino remoto vão além dos estudos

Déficit no desenvolvimento traz apreensão

Por: Da Redação  -  11/04/21  -  19:50
Profissionais da Educação vivem expectativa pelo início da vacinação
Profissionais da Educação vivem expectativa pelo início da vacinação   Foto: Matheus Tagé/AT

A ausência do ambiente escolar de forma regular por tanto tempo vai deixar marcas em crianças e jovens estudantes. E elas não serão facilmente absorvidas. Para especialistas, é uma questão para anos. Por conta disso, o trabalho de reabilitação do tempo perdido precisa ser iniciado agora. É o que entendem os especialistas que participaram do A Região em Pauta.


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De acordo com Priscila Cruz, presidente-executiva do movimento Todos pela Educação, o prejuízo vai além dos quatro anos preconizados em alguns estudos. “Com o descaso no trato da pandemia, batendo o recorde mundial de semanas sem aula, fica difícil. O Brasil é um dos países com mais tempo de escolas fechadas. Não tenho dúvida de que esse retrocesso vai ser muito maior do que quatro anos”, aponta.


Para ela, o prejuízo não é só na aprendizagem, mas também no desenvolvimento cognitivo, social, emocional, físico de crianças e jovens. “Temos um problema seríssimo de saúde mental entre os adolescentes. Temos um problema seríssimo de alimentação insuficiente, especialmente entre as crianças mais pobres”.


Ensino remoto em números


Pesquisa publicada em agosto do ano passado pelo Unicef, em parceria com o Ibope, faz uma análise sobre os impactos da pandemia em crianças e adolescentes. E traça um retrato do que é o ensino atual, e seus efeitos, no contexto da pandemia.


Ao todo, 92% dos que vivem com crianças ou adolescentes de 4 a 17 anos que estavam matriculados antes da pandemia, afirmaram que eles seguem realizando em casa as atividades escolares durante a quarentena. Destes, 63% receberam atividades cinco dias da semana na semana anterior ao estudo.


Além disso, 73% pontuam que eles tiveram ajuda de alguém da casa. Enquanto isso, 76% dos que moram com crianças ou adolescentes dizem que o tempo de exposição a telas em momentos que não estão realizando atividades escolares cresceu.


Temor e críticas


O ex-senador Cristovam Buarque questiona o nível das aulas online oferecidas aos alunos. De quebra, revela temor quanto às consequências desse panorama. “Esses quatro anos de retrocesso são do ponto de vista pedagógico. Essas crianças que estão há um ano sem aula, ou com aula à distância - e não é aula, mas transmissão de uma aula presencial. Eles precisam de uma aula cinematográfica, e não teatral. Elas vão voltar à escola com uma perda de massa cerebral, e isso que é grave. Precisarão, além do professor, de psicólogo, de neurologista”, enumera.


Ele compara a situação do ensino na pandemia com um grande terremoto que atingiu uma localidade já em más condições. “Imagine um povoado pobre, só de casebres, e aconteceu um terremoto. Piora em cima de uma tragédia. Essas crianças que estão há um ano sem aula, ou com aula à distância - e não é aula, mas transmissão de uma aula presencial. Eles precisam de uma aula cinematográfica, e não teatral”.
Enquanto isso, Walter Alves, do Sindicato dos Professores de Santos e Região, demonstra preocupação com os docentes.


“Passamos 2020 ouvindo principalmente as professoras que trabalham com anos iniciais, Fundamental I e Infantil, onde a dificuldade era muito grande para o trabalho online. Muitas perderam emprego, foram submetidas a redução de jornada e salário. Além disso, os professores tiveram que usar os seus equipamentos, transformar a casa em sala de aula, com tecnologia que até algum tempo, poucos dominavam, mas sem qualquer tipo de apoio”, narra.


Segue busca por soluções. E por vacina


Se o momento permite que os problemas sejam apontados, também pede que soluções sejam apontadas. E os envolvidos no setor têm receitas factíveis para que o prejuízo seja mitigado a curto prazo.


“De curto prazo, mitigar os efeitos da pandemia na educação; planejar a volta às aulas quando tiver uma situação mais favorável, que permita a reabertura das escolas. Mas esse planejamento é importante. Estou falando da avaliação da aprendizagem dos alunos, reforma das escolas... Fico indignada com o tempo que a gestão pública, em muitos lugares, não utiliza para obras. A gente precisa de água potável, tratamento de esgoto, ventilação nessas escolas. A gente precisa de espaço para, depois, fazer o distanciamento. Para poder, aos poucos, retomar as aulas presenciais”, alerta Priscila Cruz.


Cristovam Buarque, por sua vez, cita alguns exemplos de sucesso em políticas educacionais, como como Sobral/CE. A brecha do que a gente ensina e o que deveria ensinar aumentou. O rico faz intercâmbio ou escola bilíngue. E o terceiro é o Brasil comparado com outros países. Melhoramos, mas os outros melhoraram mais”, pondera.


Vacinação


Todos concordam com uma coisa: a vacinação dos professores será decisiva para uma retomada segura das aulas presenciais. “A vacinação de professores é de prioridade absoluta. Isso já está acontecendo, é um dos grupos prioritários em São Paulo e outros estados”, descreve Priscila, seguida por Buarque. “Teria vacinado os professores antes de todos, menos dos médicos e profissionais da saúde”.


Walter Alves, no entanto, faz um alerta sobre o escalonamento das vacinas entre os professores. Para ele, a grande maioria não vai ser beneficiada nesse primeiro momento, o que deveria atrasar a retomada das aulas.


Começando a vacinação a partir dos 47 anos, cerca de 30% apenas será vacinado prontamente. Mas, se a gente olhar para a Educação Infantil e Fundamental 1, o percentual de professores abaixo dessa faixa etária é muito grande, média de 30 anos. Tudo indica que, ate meados de maio, toda nossa categoria não esteja plenamente vacinada, com segunda dose. É uma situação paliativa”, raciocina.


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