Pelas lives, o som dos novos tempos?

Mais interação, mesmo de longe; músicos lutam pela reinvenção

Por: Da Redação  -  02/08/20  -  16:10
Supla entrevista Erasmo Carlos em seu canal no YouTube
Supla entrevista Erasmo Carlos em seu canal no YouTube   Foto: Reprodução

Uma câmera na mão e uma ideia na cabeça. A máxima do “Cinema Novo” de Gláuber Rocha poderia ser aplicada, sem nenhuma dúvida, ao universo das lives musicais, a coqueluche da quarentena. Certamente, seu artista favorito já fez ou participou de alguma delas. Já há até quem veja nelas a “revolução” na indústria na música. Mas há quem não pense bem assim. 


“Tem que se considerar uma coisa: a live não salva, economicamente, a vida de nenhum artista, a não ser Gusttavo Lima e Ivete Sangalo. Isso tem que ficar claro. Não é modelo de negócio para os artistas no Brasil. O modelo de doação pode ser um elemento importante para vários artistas, equipe técnica, para as bandas. Mas não salva a carreira dos artistas. Pode ser um elemento de contribuição? Claro. Mas não acho que é um novo modelo”, diz Gustavo Anitelli. 


Com o Teatro Mágico, ele explica que a opção foi fazer algo que chama de Experiência, onde a divisão de palco e plateia some, numa troca de experiências ímpar. “Tinha uma demanda do público de se relacionar com a gente. Não queria exclusivamente nos ouvir, também queria dizer e que a gente entendesse o que causava as nossas canções. Pra gente, também tem sido uma experiência muito rica”, demonstra. 


Paga, a Experiência tem ajudado a atenuar um pouco a situação econômica da trupe. “Para a gente, tem sido estruturante. Um bom modelo, sem dúvida nenhuma. São vinte ingressos por noite. Para quem estava acostumado a fazer uma apresentação com mil ingressos por noite, há uma diferença brutal. Mas esses 20 ingressos não têm atravessadores. Os mil ingressos tinham um outro custo – som, viagem, entre outros elementos. Sem dúvida, esse ticket que o público está pagando tem sido válido para a nossa companhia. É um outro formato de financiamento pelo público do seu artista”, opina Anitelli. 


Música e distanciamento


Supla também entrou no mundo das lives. Faz de cada aparição uma experiência, que vai do talk-show, onde já recebeu, entre outros, a atriz (e ex-namorada) Bárbara Paz, o skatista Bob Burnquist e o “tremendão” Erasmo Carlos. Mas o Papito não deixa a música de lado – ainda que as performances sigam o protocolo dos dias atuais. 


“Também tem interação com o público, que vai conversando com a gente, e aqui tem minha banda também. Só que todo mundo respeitando o distanciamento social: a banda fica no estúdio, eu fico de casa mesmo. Cada um arruma uma forma de arrecadar. Por exemplo: consegui um pequeno patrocínio legal, uma cerveja, que faz todo o pagamento, sobra um dinheiro e também pago os músicos, equipe... Então, já dá uma força para todo mundo. Isso é uma coisa positiva”, avalia. 


Até quando esperar? 


Na opinião de ambos, as lives funcionam bem como um amparo pontual – e até mesmo como um impulso para o trabalho nas esferas digitais. 


Porém, a expectativa pela volta das apresentações presenciais é grande e recorrente entre os músicos. 


“As lives estão aí, mas elas não vão substituir. Até para o Gusttavo Lima e a Ivete Sangalo: vão fazer até quando? Também ‘enche o saco’. Pode fazer o show, ganhar dinheiro, mas é uma coisa muito desagradável para qualquer artista. Eu sou um performer; sinto falta do público presente”, diz Supla. 


Anitelli complementa com uma visão mais ampla do funcionamento do mainstream cultural do País. “O mercado da música é um grande funil, essa que é a verdade. O que funciona para o Gustavo e para a Ivete não funciona para todo o mercado. No Brasil é assim: é (abraçar) um ou dois artistas e fingir que ele é replicável. A internet tem uma pluralidade enorme e formatos de financiamento. Mas o elemento presencial é insubstituível”. 


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