Ensino domiciliar entra na berlinda por regulamentação

Com apoio do Governo Federal, homeschooling é considerado prioritário e divide opiniões

Por: Da Redação  -  11/04/21  -  22:29
Homeschooling, a educação domiciliar, deve ser regulamentada ainda no primeiro semestre deste ano
Homeschooling, a educação domiciliar, deve ser regulamentada ainda no primeiro semestre deste ano   Foto: Unsplash/Reprodução

Ter as crianças e jovens estudando em casa é a realidade imposta pela pandemia. No entanto, a prática de atribuir à família a prerrogativa de cuidar da educação dos filhos, o chamado homeschooling, a educação domiciliar, deve ser regulamentada ainda no primeiro semestre deste ano, após a votação de um projeto de lei na Câmara. O tema é considerado prioritário no governo Bolsonaro. A pauta, no entanto, divide opiniões.


Clique e Assine A Tribuna por apenas R$ 1,90 e ganhe acesso completo ao Portal e dezenas de descontos em lojas, restaurantes e serviços!


Um dos principais defensores é o ministro da Educação, Milton Ribeiro. Ele participou, recentemente, de audiência pública na Câmara dos Deputados, ao lado da ministra da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, Damares Alves, outra entusiasta do ensino domiciliar.


“A minha grande preocupação é o assunto ser politizado. Não estamos querendo estabelecer um dualismo entre escola, família, desmerecendo professores. Fora que há, naturalmente nos projetos, regulamentação de um acompanhamento trimestral, outro semestral, a respeito do encaminhamento da validade desse ensino. Isso não se trata, como dizem, de uma jabuticaba brasileira, 85% dos países da OCDE já aderiram ao homeschooling”, disse.


O ministro ressalta que a questão da socialização com estudantes inseridos no homeschooling pode ser preenchida por outros ambientes que não a escola: "A própria família, clubes, bibliotecas e até mesmo a igreja, por que não?".


Segundo Ribeiro, o Supremo Tribunal Federal (STF) já reconheceu a legalidade do modelo escolar. Mesmo assim, o homeschooling desagrada alguns especialistas em Educação. É o caso de Alberto Luiz Schneider, doutor em História e professor da Unimes do programa de Mestrado em Ensino. Para ele, trata-se um fenômeno ligado quase que diretamente a grupos extremistas, religiosos, em geral de extrema direita.


“Eles, em geral, não querem se submeter ao controle público e à diversidade. A escola é o lugar para isso: conhecer e aprender a lidar com outros valores morais, religiosos, outras práticas, coisa que grupos conservadores desejam controlar”, avalia.


Schneider alerta que a questão parece mais dogmática do que uma preocupação sincera com o aprendizado dos estudantes. “As famílias que vão assumir dominam conceitos técnicos para falar de Química, Biologia, Língua Inglesa, História? Se não detêm esse domínio, quem vai pagar? Há recursos para pagarem? Esses professores, quem seriam?”, indaga.


Busca pessoal por conhecimento


Para ele, qualquer pessoa deve fazer um esforço de autoeducação permanente. O homeschooling, no sentido mais amplo no termo, do sentido pessoal de conhecimento, é louvável, mas ele faz ressalvas.


“Se as famílias quiserem fazer um suplemento, um esforço doméstico. O problema que vejo: a ideia de substituir a escola, em nome de um ensino que os pais querem controlar. Não submeter à diversidade humana. O conceito de escola é de misturar gente diversa, um lugar tenso, mas também de aprendizado. Muitas das nossas melhores experiências foram nas instituições de ensino. Sou defensor da escola: ela deve melhorar, e não desaparecer”, sintetiza.


Logo A Tribuna
Newsletter