O momento é emergencial, ninguém estava preparado. É hora de todos se reinventarem – escola, professores, alunos e pais. A casa não substitui a estrutura física do colégio, nem a rotina diante dos profissionais. A adaptação também é um aprendizado, exige calma e cuidado emocional para não transformar a rotina em uma tempestade.
“A escola é importantíssima, mas nesse momento não é o foco principal. O importante é a criança estar preservada e a família ter saúde mental. O que adianta o aluno aprender, fazer a lição, e chegar no final do dia a mãe estar estressada? Aí o casal briga, discute, não tem tempo para uma alimentação de qualidade. Não pode preparar a comida porque estava fazendo a lição com o filho”, ressalta a neuropsicopedagoga Ângela Cotrofe, especializada em crianças e adolescentes.
Transição
Ela acredita que estamos em uma fase de transição, por isso é necessário um tempo para adaptação. “Temos que ter um pouco de resiliência. É um momento de perdas no aprendizado, mas ganhos de ordem emocional, com a família. Conteúdo, vamos recuperar depois. Não é a coisa mais séria. Pior é transformar isso num problema de ordem emocional, psiquiátrica para as famílias. Transformar numa depressão profunda”.
A especialista orienta a criar uma nova rotina para favorecer as relações em casa. O estudante precisa ter um horário para as atividades, os pais para cuidar da casa e ajudar os filhos, sem assumir papel de professores. O fundamental é ter organização.
“O maior benefício que os pais podem dar aos filhos hoje é ensinar as crianças a ter autonomia. E dividir responsabilidades. Quem vai lavar roupa? Passar? Cozinhar? Coloca a criança para ajudar. Isso é aprendizado. Ela pode ajudar a arrumar o armário dela, os brinquedos. Por que não dar um álcool em gel para a criança higienizar os brinquedos?”, pondera.
Ângela Cotrofe diz que valorizar esses momentos é um rico aprendizado para crianças e adolescentes. É a construção de uma cidadania que terá boas recompensas no futuro. “A educação é importante, não acho que o conteúdo deva parar, mas será dado como for possível. Tem melhor aprendizado do que ver os pais trabalhando juntos em casa, com harmonia?”.
A neuropsicopedagoga orienta a se adequar sem dar espaço para a ansiedade, se organizando internamente para o momento. “Amorosidade é a palavra-chave. É hora de amor, de união, de elevar os pensamentos para coisas boas e acreditar que isso vai passar. Porque se você entrar num processo de destruição, de pensamentos negativos, você vai sofrer”.
Foco
Mais do que conteúdo escolar, o foco no momento deve ser preservar o lado emocional dos estudantes e da família, explica a neuropsicopedagoga Ângela Cotrofe. Segundo ela, não adianta o aluno aprender, fazer a lição, mas chegar no final do dia com toda a família estressada. É importante cuidar do corpo e da mente, com sono regular, alimentação saudável.