Coletivo AfroTu ressignifica peso do afroempreendedorismo na região

O coletivo surgiu após realização da feira cultural 1ª Afro Santos em novembro de 2018

Por: Da Redação  -  14/03/21  -  22:44
  Foto: Divulgação

A força empreendedora pode se manifestar de forma individual. Mas, de forma coletiva, ela ganha ainda mais corpo. “Tu não acredita?” Pois o coletivo AfroTu, que reúne artesãos da Baixada Santista, vem ressignificando o peso do afroempreendedorismo. Tudo com muito talento e sensibilidade.


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O coletivo surgiu após realização da feira cultural 1ª Afro Santos em novembro de 2018, mês da Consciência Negra. Luciana da Cruz, artesã da Lumimus - Moda e Decô Sustentável, idealizadora da feira, criou o AfroTu, que nasceu das necessidades e dificuldades dos colegas em seus negócios. Ela foi a articuladora na busca de soluções, cursos, consultorias e desenvolvimento de um ecossistema afroempreendedor.


Segundo ela, o nome veio de uma constatação bem lógica. “Do meu negócio, acabou nascendo outro. Já tinha um coletivo que não tinha nome ainda. Então, rabiscando alguma coisa no papel, daí nasceu o AfroTu - o afro de afrodescendente, e o tu, nossa linguagem regional. E eu falo tu ao longo dos meus 49 anos, boa santista que sou”, conta.


Identificado o que queria fazer, Luciana foi atrás do como fazer. “Comecei a procurar saber como faria, o quer seria. Fomos, ao longo do ano de 2019, aprendendo as coisas para gerir o meu negócio. Quando a gente empreende, vai muito com a cara e com a coragem. Mas, às vezes, sem se preparar antes. Geralmente o artesão não se preocupa em precificar, valorizar seu tempo, “n” coisas. Daí, conforme fui atendendo, criei o nome, a mureta, que leva o logo de Santos. O pessoal adorou”, relata.


Mulheres pretas


À época, o AfroTu tinha em torno de 40 pessoas. O maior número, segundo a idealizadora, foi em torno de 64 pessoas. “No coletivo, as principais características são de ser afrodescendente; não necessariamente vender produtos étnicos. Por exemplo; tenho uma moça que faz móbiles, coisas de feltro, é o negócio dela e ela é preta: então, não precisa ser só turbantes ou coisas inspiradas na África, apesar de que a maioria tende a buscar (referências) na ancestralidade”, pontua Luciana.


O coletivo trabalha na construção da identidade, na autoestima da comunidade negra na arte, decoração, moda/acessórios, oficinas e contação de histórias. “Eu faço parte do Conselho de Cultura e do Conselho da comunidade Negra. Assim que entrei, pedi para fazer um curso para afro empreendedor. Por quê? Já vinha participando de alguns eventos só com a minha marca. Daí a gente encontra mais artesãos, mais pretos artesãos, e a gente sempre trocava e sentia uma dificuldade. Quando entrei no Conselho da Comunidade Negra, solicitei para que a gente trabalhasse, fizesse um curso, para os afroempreendedores. Para ajudar na parte psicológica e questão de autoestima. Muitos acham que o que fazem não está bom, não tem valor”, explica a líder do AfroTu.



Lugar fixo e a pandemia: planos alterados


Ela conta que um dos anseios era um lugar fixo para a realização de feiras e poder vender os trabalhos dos artesãos do coletivo. Em 2019, surgiu o convite para aportarem na Estação da Cidadania, na Avenida Ana Costa, em Santos. Público potencial bom, espaço adequado. O pontapé inicial seria dado em 28 de março. Mas aí veio a pandemia. E tudo mudou – ou foi adiado.


“Íamos começar em março do ano passado. Seria uma vez por mês. Tinha escolhido o último sábado. No primeiro, foi fechada a Cidade. Seria dia 28, e no dia 14 fechou a cidade. Tínhamos quatro eventos no mesmo mês, ia ser muito bom. No primeiro que a gente faz quando reabriu, ficamos duas vezes por mês. Tem a primeira, dia 26 de setembro. Nessa primeira, foi muito bom, porque é um ponto bom. Tem o ponto de ônibus, mercado atrás, igreja na frente... Isso gera um fluxo de pessoas. O público é flutuante, mas muito bom”, avalia a artesã.


Luciana comemora o êxito da iniciativa – e a consolidação de um ideal. “A aceitação, graças a Deus, está sendo muito boa. Esse movimento que fazemos, chamado de black money, de girar o dinheiro entre nós, não é tão só. Hoje, no coletivo, a gente compra uma da outra, procura fornecedores afrodescendentes, mas a gente procura fazer girar o dinheiro na comunidade em si. Não é todo mundo que emplaca de vez, tem um que fica mais pra trás. É um trabalho de formiguinha, mas o pessoal tem muita consciência disso”, explica.


Na pandemia, fecharam até uma parceria com um coletivo de SP para produção ode máscaras veganas. Ponto para quem, mesmo diante dos desafios da vida de empreendedor, está longe do ponto final.


“Você, tendo um sonho, tem que transformar em meta. Tem que ir buscar, trabalhar informação, pesquisa. Empreender é buscar soluções. O não, a gente sempre já tem”.


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