As palavras petróleo e gás andam juntas na mente dos moradores da Baixada Santista há alguns anos. Residem na esperança de bons negócios, empregos, crescimento econômico. E um dos símbolos dessa pujança prometida, especialmente após a descoberta do pré-sal na Bacia de Santos, é um prédio grandioso, sediado no bairro Valongo, em Santos. O processo que propicia isso é longo, já teve recuos, ma segue aberto. E a Petrobras, seu principal fiador, deseja seguir investindo na Baixada Santista. Mas não sozinha, à espera de bons (e viáveis) projetos.
Esse é o principal mote do debate sobre a indústria de Petróleo e Gás na Baixada Santista, tema de mais um encontro do projeto A Região em Pauta, do Grupo Tribuna. A live, transmitida no Facebook na última segunda-feira, teve mediação da editora-chefe, Arminda Augusto, e do editor de Porto & Mar, Leopoldo Figueiredo.
Com eles, participaram importantes nomes ligados ao setor. O debate trouxe importantes discussões, complementadas com este caderno.
O edifício citado mais acima é onde funciona uma espécie de QG das operações de exploração e produção de gás e petróleo das plataformas da Bacia de Santos. Uma redução no número de funcionários atuando no local poderia indicar uma retração ou desistência da Cidade. Gerente- geral da Unidade de Operações de Exploração e Produção da Petrobras na Bacia de Santos (UO-BS), João Ricardo Lafraia, a Petrobras não vai sair de Santos. A alteração é fruto de uma readequação de planos.
“Atualmente, temos 2 mil pessoas empregadas, trabalhando direto nos nosso prédio de Santos. Dessas 2 mil, 1 mil trabalha em regime especial off-shore 14x21, sendo que 80% deles não residem na Baixada Santista. O que nós fizemos foi facilitar o controle administrativo e agilização dos processos de viagem internamente na companhia. Foi somente isso: uma otimização administrativa. Não tem sentido 90% das pessoas que não moram em Santos, terem que vir do Rio, desembarcarem em São Paulo, e descerem para Santos para, depois , voltarem para o Rio de Janeiro”, avalia.
Como prova da aposta da Petrobras na Cidade, ele cita a construção do novo COI-BS (Centro de Operações Integrado). Ele já está pronto e terá capacidade para 500 trabalhadores. Operamos cinco das nossas plataformas próprias.
“É um centro de excelência de primeiro mundo, com tecnologia de ponta, fazendo com que a gente possa ter essa produtividade a mais”, frisa.
Elogios e projetos robustos
Lafraia argumenta que a Cidade tem grande importância para a Petrobras, sob vários aspectos.
“Nós temos projetos robustos na nossa Cidade, na Baixada Santista. Esse é um grande centro de operações que nós temos. Esperamos que possamos continuar contribuindo com o desenvolvimento regional, o bem-estar da população, contribuindo com as atividades laborativas da área de petróleo e gás nessa Região”.
Presidente da Associação Comercial de Santos (ACS), Mauro Sammarco se mostrou satisfeito com a promessa do gerente da Petrobras.
“É uma boa notícia ouvir que a Petrobras não tem planos para sair daqui. Acho que a região tem muito potencial. Temos muito para trabalhar, para desenvolver a movimentação de cargas no Porto de Santos”.
Base off-shore, sonho ainda acalentado
A Bacia de Santos tem uma importância estratégica para a o negócio de petróleo e gás. São 13 plataformas no pré-sal e quatro no pós-sal, sendo que estão a caminho, perfazendo 19 plataformas operadas pela Unidade de Negócios. Por isso, a base off-shore (um centro de operações de apoio para abastecimento das plataformas em alto-mar) na Região é um desejo acalentado por muitos envolvidos no setor. Porém, a cautela dá o tom neste momento.
“Santos é sempre um local possível, tem um grande porto, uma estrutura viária de altíssima qualidade, uma capacitação técnica que permite isso. Agora, a gente tem quem entender o momento da Petrobras, na visão de ser uma empresa altamente rentável. Nós estamos procurando colocar nossos investimentos naquilo que ninguém faz, que é na produção e exploração. Deixar a infraestrutura para que a indústria, como um todo, ajude na construção. A gente acredita que a base Santos, será viável co ma parceria de grandes empresas, como uma alternativa à infraestrutura que já existe no Rio”, afirma José Ricardo Lafraia.
Outros números superlativos mostram o peso do pré-sal no negócio de Petróleo e Gás. Segundo dados da Petrobras, no pós-sal (1984), havia 4.108 poços, com a produção máxima de 500 mil barris por dia. No pré-sal, já em 2018, depois de sete anos de exploração, com apenas 77 poços, a operação é de mais de 1,5 milhão de barris de petróleo por dia. Com seus 350 mil metros quadrados de extensão, a Bacia de Santos é fundamental nesse aspecto.
O gerente da Petrobras lembra que a alternância de operações entre bases já foi uma ideia da companhia, superada por contingências econômicas. “Antes havia uma possibilidade de diversificação das bases, mas com o campo de Búzios e outros aparecendo mais ao norte, mais próximo ao Rio, começou-se a concentrar a logística no estado do Rio de Janeiro. A Petrobras está operando por lá desde a década de 80, com a Bacia de Santos. Não impede que, no futuro, a gente encontre petróleo mais ao sul, o que pode tornar viável a instalação de outras bases em regiões fora do Rio”.
Vocação para produção
Professor-doutor da Universidade Santa Cecília (Unisanta), o professor doutor Aldo Ramos Santos, crê que, futuramente, a Região possa, enfim, contar com uma base off-shore.
“Dá para acreditar na instalação, pois temos uma vocação ligada à área de produção. Temos um Pólo Petroquímico como o de Cubatão; um porto cada vez mais se modernizando, que vai permitir o escoamento de derivados de petróleo; o gás natural, que poderá acionar usinas termelétricas, tendo fornecimento para a Cidade, para Região. Além de tudo isso, vai desenvolver a área acadêmica, trazendo centros de pesquisa. Desenvolver um polo petrolífero na Baixada Santista é o nosso sonho”.