Zanardi, técnico do sub-20 do Santos: 'Jogador da base não pode ficar no profissional sem jogar'

O treinador concorda com Jorge Sampaoli que o atleta que tem idade para atuar no sub-20 não pode ficar no time principal sem jogar e deve retornar à base

Por: Nathalia Perez & De A Tribuna On-line &  -  12/04/19  -  15:43
  Foto: Pedro Ernesto Guerra Azevedo/Santos FC

Antes mesmo do Guarani avançar à semifinal da Copa São Paulo de Futebol Júnior deste ano, o então técnico da equipe sub-20 do Bugre Márcio Zanardi recebeu uma ligação de um colega de longa data. Era Marco Maturana, gerente executivo do Departamento de Futebol de Base do Santos, propondo que o treinador assumisse o comando do time recém-eliminado da Copinha ainda na fase de grupos.


Zanardi não hesitou em aceitar o convite. No entanto, por respeito ao Guarani e por questões éticas, só voltou a negociar sua ida ao Peixe quando a competição se encerrou para o Alviverde, na própria semi, onde caiu para o São Paulo. "Eu pensei: 'quem não gostaria de trabalhar no Santos?'. Deu tudo certo e, graças a Deus, eu consegui estar aqui", disse o treinador à Tribuna On-Line.


Terceiro nome à frente do sub-20 do Santos em três meses, ele chegou ao CT Rei Pelé para substituir Emerson Ballio, que foi promovido do sub-15 à última categoria da base para a disputa da Copa São Paulo depois da polêmica demissão de Leandro Mehlich um mês antes do início do torneio. Após a eliminação, Ballio retornou ao time formado por atletas nascidos de 2004 em diante.


Embora o momento da equipe sub-20 seja conturbado e de uma busca urgente por resultados que não foram atingidos nos últimos dois anos, Zanardi encara com naturalidade a pressão e as cobranças. "Isso é normal em times grandes. Mas está sendo um desafio maravilhoso fazer com que os jogadores voltem a atuar em alto nível", falou. O auxiliar Mauro Di Giuseppe, o preparador físico Juliano Valim, o preparador de goleiros Fabio Antunes, o fisioterapeuta Gustavo Augusto e os roupeiros Bruno e Zacarias compõem sua comissão técnica.


Com 15 anos de trabalhos notáveis na carreira, o comandante técnico santista fez seu nome nas categorias de base. Pelo Corinthians, foi multicampeão com o sub-11, sub-13, sub-15 e sub-17, conquistando títulos inéditos para o Timão. Ele também teve passagem pela Portuguesa, levando o clube à semifinal da Copa São Paulo em 2018 ao contrariar prognósticos e bater de frente com o Flamengo na penúltima fase.


Além dos canecos levantados na base do Corinthians, um de seus maiores triunfos foi ter revelado jogadores que hoje se destacam internacionalmente e dentro do futebol brasileiro. Os zagueiros Marquinhos, do Paris Saint-Germain-FRA, e Antônio Carlos, do Palmeiras, o atacante Malcom, que pertence ao Barcelona-ESP, o volante Maycon, titular no Shakhtar Donetsk-UCR e Guilherme Arana, lateral-esquerdo do Sevilla, são alguns exemplos.


Por ter trabalhado em diversas categorias, Zanardi possui uma ampla visão das dificuldades que as classes de formação de jovens atletas passam no Brasil. "Vejo os jogadores muito mais preocupados com o extracampo. Então, eu vim para o Santos para fazer com que eles voltem a ter foco total no campo. Eles precisam querer e gostar de estar aqui", afirmou, destacando a qualidade individual dos jogadores alvinegros. Inclusive, ele já conhecia as características de muitos atletas com quem trabalha hoje.


Zanardi orienta jogadores durante o treino
Zanardi orienta jogadores durante o treino   Foto: Pedro Ernesto Guerra Azevedo/Santos FC

Sparrings


Desde que Jorge Sampaoli chegou à Vila Belmiro, o termo "sparring" não sai da boca dos profissionais do Santos. Citado em sua apresentação no clube, o termo se refere a jogadores das categorias de base que participam cotidianamente dos treinos com o time principal, e é uma metodologia que acompanha o treinador argentino em sua trajetória à beira do gramado. 


Nos treinamentos comandados por Sampaoli, 80% dos sparrings são atletas de Zanardi. O treinador do sub-20 gerencia uma atividade de aquecimento em outro campo com esses jogadores antes deles entrarem no trabalho tático com os atletas do profissional.


"É uma coisa nova para mim. Ele usa os sparrings para simular como o adversário joga. Antes de irem para o treino tático, os jogadores já sabem o que irão fazer. Por exemplo, se o Corinthians joga em um formato, uma plataforma defensiva, eu passo para eles a forma como o time se porta, a forma como o Sampaoli quer que eles demonstrem no posicionamento. É um trabalho desgastante, porque ficamos com a parte 'chata' ", contou Zanardi. 


Para ele, seu maior desafio no Peixe é justamente mudar essa forma de pensar: "Quero mudar o comportamento dos jogadores, principalmente aqueles treinos que eles não gostam de fazer dentro de campo, que é correr, marcar. A hora que eles entenderem que fazer o ruim, é bom, as coisas vão começar a andar”.


Relação com Sampaoli


A função do comandante técnico do sub-20 nos treinos da equipe profissional vai além de ser um mero ajudante. Ele é parte da comissão na discussão de metodologias de trabalho. “O Sampaoli e todos que trabalham com ele fazem questão de pedir minha opinião, de ouvir sobre o que eu acredito. Eles me abraçaram muito bem. Ele, o Pablo, o Carlos (ambos auxiliares), o Jorge, o Marcos (os preparadores físicos)”, comentou.


Amante do jogo ofensivo, Zanardi afirma que suas ideias geralmente estão alinhadas às do treinador argentino: “Gosto de ter um time muito ativo, que pressiona muito a bola. É muito prazeroso quando trabalhamos com pessoas assim, com um nível muito bom, e vemos que pensamos parecido e estamos no mesmo caminho. Lógico que tenho muito o que aprender. Tenho 40 anos e ele 60. Mas tenho liberdade para estar ao lado dele, para ouvir o que ele fala, então, para muito, está sendo tudo muito útil”.


Após treino do sub-20, Zanardi conversa com seus jogadores
Após treino do sub-20, Zanardi conversa com seus jogadores   Foto: Pedro Ernesto Guerra Azevedo/Santos FC

Inclusive, não são só os conceitos táticos que são compatíveis. Ele partilha da mesma opinião de Sampaoli que se o atleta está encostado na equipe principal e tem idade para atuar no sub-20, ele tem que retornar para a base. Para Zanardi, o jogador tem que ser ativo para o clube o tempo inteiro, e não jogar no profissional mesmo estando no time faz com que o jogador em formação se instale em uma zona de conforto que é ruim para ele.


“A comissão técnica do time principal, junto com o Andreata (gerente de futebol), querem que esses jogadores desçam para o sub-20. Isso é muito importante”, pontuou. Um dos problemas do insucesso da categoria nos últimos anos, aliás, está ligado a isso para ele. Muitos atletas se destacam no sub-17, sobem direto para o profissional e, às vezes, acabam não sendo utilizados ou tendo poucas chances, e, com isso, desfalcam o sub-20.


Outras inspirações


Além de ter um apreço pela filosofia de Sampaoli e utilizá-la como exemplo, há muito de como Telê Santana e Muricy Ramalho pensavam o futebol no que Zanardi costuma aplicar em campo. “Joguei no São Paulo (é ex-volante), então, são pessoas em que conheci lá e me espelhei. Mas costumo pensar que o futebol não tem uma ciência exata e que as pessoas pensam diferente”, disse. O técnico confessou também admiração por Renato Gaúcho, Pep Guardiola e Jürgen Klopp.


O calendário do time sub-20 do Santos tem sequência com a disputa da primeira divisão do Campeonato Paulista, torneio que começa nesta sexta-feira (12). O Santos divide grupo com o Corinthians, Água Santa, Santo André, São Bernardo, São Caetano e Taboão da Serra. O último é o adversário do Peixe na estreia. O jogo será realizado neste sábado (13), às 15h (de Brasília), no CT Meninos da Vila. A entrada é gratuita.


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