Titular do Santos, Luan Peres diz que não pensa em voltar à Europa

Em entrevista para ATribuna.com.br, o zagueiro revela que começa a viver o melhor momento da carreira

Por: Bruno Lima  -  16/02/20  -  10:59
Atualizado em 17/03/23 - 10:12
Luan Peres tem contrato de empréstimo com o Santos até o final do ano e quer permanecer no Peixe
Luan Peres tem contrato de empréstimo com o Santos até o final do ano e quer permanecer no Peixe   Foto: Matheus Tagé/A Tribuna

Titular do Santos nesse início de 2020, o zagueiro Luan Peres herdou a vaga de Gustavo Henrique, que se transferiu para o Flamengo, e se transformou em um pilar da defesa. Emprestado ao Peixe até o final do ano, o jogador, em entrevista exclusiva para ATribuna.com.br, afirma que não pensa em voltar para a Europa ao final do vínculo e que começa a viver o melhor momento da carreira.

Como foi o seu início de carreira? Por onde passou até chegar ao Santos?
Comecei na Portuguesa, que já vivia momentos difíceis e não estava na elite do Campeonato Brasileiro. Lembro que a minha primeira competição profissional foi a Série C. Fizemos uma boa campanha, mas paramos nas quartas de final contra o Vila Nova. No fim daquele ano tive sondagens do São Paulo e do Sport, mas não deu certo. Segui na Portuguesa e disputei a A2 do Campeonato Paulista. Fui bem e, por ser novo, chamei a atenção e fui negociado com o Santa Cruz, que estava na Série A do Brasileirão. No ano seguinte fui para o Red Bull e disputei o Paulistão. Ao fim me transferi para a Ponte Preta, onde joguei mais uma vez o Brasileirão. Depois fui negociado com o Fluminense, joguei pouco tempo e fui vendido ao Club Brugge. Lá fiquei um ano e vim para o Santos. Tenho mais três anos de contrato com os belgas.

Quem é o seu ídolo no futebol?
O Messi. Sou fã dele. Na infância era o Ronaldinho Gaúcho. Entre os zagueiros, era o (Paolo) Maldini, um zagueiro espetacular, e hoje o Van Dijk, do Liverpool, que é um monstro.

Você estreou pelo Santos numa fogueira, contra o Flamengo, no Maracanã, de lateral esquerdo, e agora começa o Paulista como titular. Acredita que já acumula experiência suficiente para se firmar?
Com certeza. Na época, antes da estreia, falei para a minha família: 'Estou estreando na lateral esquerda, fora da minha posição, no Maracanã, contra o Flamengo, que está voando. Se eu for bem, estou no melhor dos mundos, porque vou estar pronto para qualquer teste'. E foi o que aconteceu, fui muito bem. Logo em seguida atuei como lateral-esquerdo diante do Vasco e, quando fui para zaga, contra o Internacional, no Beira-Rio, não tomamos gol. Isso me fez ganhar confiança e passar confiança para a torcida. Agora começo o ano como titular e estou muito feliz. Claro, sei que tenho que melhorar, mas estou feliz com os meus jogos.

Crê estar vivendo o melhor momento na carreira?
Posso dizer que sim. O Santos é o maior clube em que já joguei até hoje. Fiz nove partidas no ano passado e agora venho numa sequência de cinco. Então, estou começando a viver o melhor momento da carreira.


Como foi a experiência no futebol belga atuando pelo Club Brugge?
Não tive uma experiência tão boa. Eu achava que sair para jogar na Europa seria um sonho, como muitos acham, mas não são mil maravilhas e alegrias o tempo todo. Foi um pouco difícil, porque sou solteiro e os meus pais não foram comigo. Então, foi difícil a adaptação e a questão do idioma. Lá não era nem o inglês que falavam. Uma parte da Bélgica fala francês, a outra holandês e uma terceira fala alemão. A região em que estava era holandês. Foi tudo muito novo. Até a parte dos treinamentos. Eu tinha acabado de sair do Fluminense, estava em forma, mas quando começaram os treinamentos parecia que eu estava de férias e os caras no meio da temporada. Cansava todos os dias. E, na verdade, era o contrário. Eles estavam voltando de férias e eu não. Sofri muito. O treinador falava que eu estava abaixo na parte física e não conseguia entender o motivo.


Luan Peres já atuou em Portuguesa, Ponte Preta, Fluminense e Club Brugge
Luan Peres já atuou em Portuguesa, Ponte Preta, Fluminense e Club Brugge   Foto: Matheus Tagé/Santos FC

Mas qual é diferença no treinamento realizado lá e no Brasil?
Os treinamentos eram só de corrida. O aquecimento já era cansativo. Depois, entrava num trabalho de posse de bola e, em seguida, tinha cronometrado um ou dois minutos para beber água. Na sequência, recomeçava um trabalho de parte física. E isso é a temporada inteira. Não era só na pré-temporada. Isso me desgastou. Tive lesão que não costumava ter por conta desses treinamentos. E eles não entendiam o meu lado. Isso pesou para a minha saída.

A adaptação ao país também foi difícil?
Fora de campo, a cidade e o país são de primeiro mundo. Não se vê sujeira ou violência nas ruas. Mas tinha a parte ruim, porque dava 17 horas e não tinha mais ninguém nas ruas. Praticamente acabava o dia. Aqui em Santos, por exemplo, saio do treino e vou para o calçadão da praia, vejo gente nas ruas passeando e é gostoso.

No final do ano o seu contrato de empréstimo com o Santos termina. Se a escolha dependesse só de você, gostaria de voltar para se firmar no futebol europeu ou permanecer na Vila?
Eu gosto de frisar que o Club Brugge, junto com o Anderlecht, é o maior da Bélgica. Tem uma estrutura muito grande, ganha a maioria dos jogos, não dá para negar a grandeza do clube no país. Mas a minha vontade hoje é de ficar no Santos. No Brasil, em geral, é muito bom. Não troco a oportunidade de morar aqui em relação ao exterior. Morar na Europa não é algo que me encanta. E em termos de futebol, não tenho a menor vontade de sair daqui (do Brasil). Já avisei ao meu empresário e para a minha família. Não sei como vai ser lá na frente, por conta da multa, que é alta (5 milhões de euros, cerca de R$ 23 milhões), mas tudo é negociável. Não quero voltar para lá e ficar infeliz. A minha vontade é permanecer.

Muito se fala sobre a diferença de jogo do Jorge Sampaoli para a do Jesualdo Ferreira. Na sua opinião, quais são as principais diferenças entre eles?
São perfis diferentes. O Sampaoli sempre treinava em função do adversário. A gente podia jogar na Vila Belmiro contra o último colocado, mas íamos atuar em cima da formação do adversário. E o Jesualdo não. Agora nós temos a nossa forma de jogar e o adversário que se preocupe com a gente. São metodologias distintas e não dá para comparar. O Sampaoli é um dos melhores, se não o melhor técnico, com que já trabalhei, mas toda semana era um treino diferente, mudava o sistema. Por vezes perdemos alguns jogos porque ficávamos um pouco confusos.


Luan Peres ainda não balançou as redes pelo Santos e quer quebrar um jejum de anos
Luan Peres ainda não balançou as redes pelo Santos e quer quebrar um jejum de anos   Foto: Matheus Tagé/A Tribuna

O Sampaoli chegou a te escalar como lateral-esquerdo e como zagueiro pela esquerda no esquema com três defensores. Na Bélgica, você atuou como ala. Qual é a sua preferência?


Com certeza de zagueiro pela esquerda como estou jogando hoje com o Jesualdo e onde joguei algumas vezes com o Sampaoli. Ele (Sampaoli) sabia que eu era zagueiro, porque quando me usava na lateral dizia que não era a minha função, mas precisava de mim ali. E se tiver que escolher entre ala e lateral, com certeza vou escolher ala. Não dá para esperar que eu seja um lateral ofensivo, porque não vou chegar até a linha fundo, pedalar e cruzar. Posso até chegar na linha de fundo, porque sou veloz, tenho a passada larga, e cruzar a bola na área. Mas a minha preferência é por onde atuo hoje.

Você é um jogador esclarecido e isso se reflete no seu jogo e nas suas entrevistas. Gosta de ler? Acompanha notícias fora do futebol? Tem posicionamento político?
Não leio livros. Posicionamento político? É muito difícil eu falar sobre isso, porque às vezes fico boiando, não entendo nada dessas coisas de ministros. É tanta coisa lá (em Brasília) que fico perdido. Gosto muito de ver filmes, séries e jogar videogame. Quando criança, estudei em escola particular e a minha mãe até me cobrava para fazer faculdade. Mas acabou não acontecendo por causa do futebol.

Os seus últimos gols como profissional foram marcados em 2016 pela Portuguesa. Já se vão quatro anos. Esse jejum acaba com a camisa do Santos?
(Risos) Os dois de pênalti. Se Deus quiser acaba esse ano. No último jogo (Santos contra o Botafogo) tive uma chance clara que acabei não conseguindo fazer, e uma outra em que fui bem, estava longe do gol, mas a bola passou perto. Na Ponte Preta, coloquei duas bolas na trave. Então, está na hora de sair esse gol.

Qual atacante mais difícil que já marcou?
Robinho. Lembro de um Santa Cruz e Atlético-MG, no Horto, em Minas Gerais, e ele veio pedalando na minha direção. Consegui dar o bote, mas no rebote eles fizeram o gol. É um jogador que, se deixar um pouco de espaço, já era.


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