Pepe detalha gol mais bonito da carreira de Pelé, marcado há exatos 60 anos, contra o Juventus

Rei do Futebol chapelou três marcadores, para, no fim, passar a bola por cima do goleiro e anotar uma 'pintura'

Por: Nathalia Perez & De A Tribuna On-line &  -  02/08/19  -  19:40
  Foto: Raphael Dias Herrera

Era 2 de agosto de 1959, um domingo. Abarrotada como nunca, a Rua Javari presenciou um dos momentos mais marcantes do futebol brasileiro e do esporte mundial. Há 60 anos, Pelé marcava o mais bonito entre seus mais de 1200 gols, um tento que carece de registros, nunca foi reproduzido, mas jamais sairá da memória dos que o viram.


Foi diante do Juventus, o time da casa. O Santos vencia o Moleque Travesso por 3 a 0 em uma rodada normal do Campeonato Paulista, disputado outrora durante o ano, e não no começo da temporada, como hoje. Cerca de 10 mil pessoas se amontoavam no pequeno estádio da Mooca, debaixo de garoa, para ver o Juventus enfrentar o Santos. O Santos comandado por um atacante de 19 anos que, até os 36 minutos do segundo tempo, já havia estufafo as redes duas vezes.


Foi naquele instante do relógio que a jogada que entrou para a eternidade por sua finalização começou a ser desenhada. Um dos que assistiram àquele lance antológico do Rei do Futebol foi Pepe, o Canhão da Vila. E de um local privilegiado: de dentro do campo, próximo às traves do Juventus e a alguns metros de Pelé.


Ambos compunham o quinteto de ataque escalado pelo técnico Lula naquele dia. Coutinho, Dorval e Jair completavam a linha de frente ofensiva. Os dois últimos, por sinal, orquestraram a jogada do quarto e último gol do Peixe naquele primeiro domingo de agosto de 1959. Jair lançou Dorval pelo lado direito, e este, por sua vez, centrou a bola para Pelé, que chegava em velocidade. O resto é história.


Um gol normal para um jogador incrível


"Pelé driblou, pelo menos, quatro jogadores. O último foi o goleiro. A bola ainda estava um pouco alta depois de ter dado um chapéu e ele foi lá e fez de cabeça. Foi uma pintura. Um gol incrível para um jogador normal e um gol normal para um jogador incrível como o Rei", descreveu Pepe em entrevista à Tribuna On-Line.


Embora tenha testemunhado inúmeros gols fenomenais como jogador e como técnico, em mais de 20 equipes trabalhadas, o vice-artilheiro do Santos afirma categoricamente que este foi o mais impressionante tento que já viu. Tamanha foi a habilidade do 'Atleta do Século' no feito que os marcadores e o goleiro, Mão de Onça, ficaram desconcertados, o resto do time ficou boquiaberto e toda a Javari o aplaudiu. Santistas e juventinos lá presentes.


Antes do gol, a torcida não economizava vaias a Pelé. "Quando ele era servido, quando ele estava com a bola, vaias em cima dele", contou o radialista Walter Dias ao programa Corpo em Ação. "Maravilhoso, espetacular. As frases são poucas para a gente dizer o que foi aquele gol na Javari. Gol mais bonito que já vi em mais de 65 anos de jornalismo esportivo", relatou ainda.


Depois da 'pintura', veio a redenção. "O Santos ainda não tinha tanta torcida em São Paulo naquela época, e a torcida do Juventus era formada também por palmeirenses, corintianos, são-paulinos. Todos aplaudiram ele, que já era campeão mundial, já era muito respeitado. É o que eu sempre digo: Pelé não é daqui, não é terráqueo. Ele nasceu em Saturno. Foi uma obra-prima", atestou o Pepe.


Na comemoração, nasceu o gesto que se tornaria uma das marcas do maior goleador da história alvinegra: o soco no ar. Mas, antes disso, a equipe inteira do Santos, exceto o goleiro Manga, saiu em direção a Pelé e derrubou o jogador, como relembra Pepe. Ramiro, Pavão, Mourão, Formiga e Zito, além dos colegas que jogavam mais avançados junto a ele.


O tento recontado e reconstruído


Histórico, o considerado gol mais bonito do Rei só é exibido quando detalhado por aqueles que tiveram a sorte de vê-lo ao vivo e a cores. As raras imagens do momento se perderam no tempo. Por este motivo, o tento foi recriado para o documentário "Pelé Eterno", de Aníbal Massaini, lançado em junho de 2004. 


Para reconstituir a jogada, o diretor de cinema ouviu cerca de trinta testemunhas além de Pelé. O Rei, então, foi levado a um estúdio em Nova York para repetir os movimentos que fez naquele 2 de agosto de 60 anos atrás. A locomoção do ex-jogador foi toda capturada por dispositivos colocados em seu corpo e, posteriormente, editada digitalmente. Assim, o lance de 1959 ganhou vida 45 anos depois, por meio da computação gráfica. 


No Museu Pelé, em Santos, é possível encontrar uma foto do exato momento da conclusão da jogada do quarto gol do Santos sobre o Juventus. O registro é do fotógrafo Raphael Dias Herrera, que capturou o salto do ídolo santista enquanto a bola fazia seu trajeto para o fundo da rede e os defensores olhavam. A legenda da fotografia exibida no museu diz que o tento é lembrado com carinho pelo Rei entre seus tantos gols inesquecíveis.



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