Pelé fala sobre o dia em que perdeu o sono por conta do futebol

Marcar o milésimo gol em sua carreira não foi problema para o Rei. Mais difícil foi o dia anterior ao jogo

Por: Régis Querino & Da Redação &  -  13/11/19  -  15:18
  Foto: Carlos Nogueira/AT

Marcar o gol 1.000 em sua carreira, no dia 19 de novembro de 1969, no Maracanã, contra o Vasco, não foi problema para Pelé. Mais difícil foi o dia anterior ao jogo, que deixou o Rei, àquela altura já bicampeão mundial com a Seleção e com o Santos, quem diria, ansioso.


"Na véspera do jogo foi o meu maior sofrimento. Quando eu fui deitar, na oração, eu não sabia exatamente o que ia pedir a Deus. Eu não sabia se pedia pra sair o gol, foi meio confuso", revelou Pelé nesta terça-feira (12), em entrevista concedida na Sala do Rei, no Museu Pelé, em evento comemorativo aos 50 anos do icônico gol.


A preocupação pré-jogo, de como seria o desfecho da expectativa gerada em torno da inédita marca, foi dissipada quando Pelé bateu o pênalti. De pé direito, no canto esquerdo do goleiro argentino Andrada.


E veio a comemoração explosiva, com a invasão de campo por dezenas de repórteres, fotógrafos e radialistas, que o carregaram nos ombros. Emocionado, o Rei pediu para que cuidassem das crianças do Brasil. Foi taxado até como demagogo, mas, cinco décadas depois, o que mudou?


"Foi um sentimento, um momento de mandar minha mensagem. A gente atravessa uma fase difícil, vamos dizer que melhorou, mas como a população é maior agora, precisamos continuar trabalhando, dando Educação, fazendo o possível pra melhorar a nossa base", disse Pelé.


Pronto para 2022


Apesar de enfrentar problemas de locomoção, o eterno camisa 10 esbanjava bom humor. E até brincou com uma "dívida" que ele vem pagando tanto tempo depois de parar de jogar, em 1977, no Cosmos (EUA).


"Estou pagando a conta depois que parei. Foi menisco, tornozelo, duas vezes o quadril, fiz a coluna uma vez e estou aqui, pronto pra próxima Copa(risos)".


Encontrar Pelé e não falar do Santos é como ir à praia e não ver o mar. Entusiasmado com o time de Jorge Sampaoli, o Rei lamentou que o clube tenha remotas chances de ser campeão brasileiro. Mas elogiou o trabalho do argentino.


"Acho que é a primeira vez na história no Brasil que um técnico traz tantos jogadores estrangeiros pra um time só e mantém o time numa boa posição. Tá certo que se fosse campeão seria melhor, mas podemos até, se tiver sorte, terminar o campeonato mais perto (do Flamengo)".


Esquivando-se de fazer comparações sobre o badalado time flamenguista atual com equipes de tempos passados, Pelé só cravou uma certeza.


"Fazer comparação com equipesde épocas diferentes é difícil, porque são momentos diferentes. Eu acho que nenhum time no mundo vai fazer o que o Santos (de Pelé) fez fora do Basil, pelas excursões e títulos que ganhou", comentou o Rei, embalando a clássica camisa branca.


"Se eu não tivesse essa (camisa) aqui do Santos, não sei se teria condições ou oportunidade de jogar com essa camisa (mostra a camisa da Seleção)".


Racismo


Pelé comentou os casos de racismo no Brasil e no mundo. "Não tem nada a ver como futebol, é uma questão de cultura. Na época que eu jogava tinha um pouco,mas eu nunca tive (problema). Pelo contrário, quando o Santos saía pra excursionar, às vezes eu tinha que ficar no hotel, porque todo mundo queria me abraçar".


Reencontro


O dia foi mais do que especial para Pelé nesta terça-feira. Ele reencontrou grande parte do "seu Santos". Pepe, Dorval, Mengálvio, Clodoaldo, Manuel Maria e outros foram dar um abraço no Rei.


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