Difícil escolher uma palavra que melhor descreva o sentimento daquele 22 de junho de 2011, momentos antes de enfrentarmos o Peñarol pela final da Libertadores. Era a minha segunda chance de disputar o maior título do continente e também uma oportunidade de deixar para trás um fantasma de três anos antes, quando estava em campo pelo Fluminense na mesma situação, mas saí de campo sem a taça. Não queria mais sentir aquele gosto amargo.
Além do fator pessoal, nossa equipe também sofria muita pressão. Aquele era um troféu que não chegava à Vila Belmiro há quase 50 anos. Desde Pelé e companhia. Tínhamos uma responsabilidade enorme.
E, por fim, o mais importante: tínhamos um adversário forte, tradicional e extremamente competitivo pela frente. Muitos ingredientes para o caldeirão que o Pacaembu se tornou naquela noite fria.
Tudo pronto! Torcida na arquibancada fazendo muito barulho e a ansiedade só aumenta para entrar logo no gramado.
Naquela hora, cheguei a ter um branco. Ainda hoje não me lembro muito bem do ônibus chegando ao estádio e da preleção do professor Muricy Ramalho, tamanha a descarga de adrenalina e o nível de concentração. E<CF70>u só queria a conquista, não importava o preço.
Nosso time estava se acostumando a vencer. Uma Copa do Brasil e dois paulistas depois, ali estávamos novamente disputando uma taça. A quarta em seis campeonatos que jogamos desde quando eu cheguei, no começo de 2010. Mas aquilo era diferente. A Libertadores era a nossa maior obsessão.
Quando o juiz iniciou o jogo, tudo o que não era positivo ficou do lado de fora. Queríamos ganhar e fazer história. E coube a mim a primeira chance de gol, com apenas um minuto de bola rolando, mas não consegui concluir bem.
A cada oportunidade que perdíamos, a angústia da torcida aumentava. Quando não era a trave, era o goleiro deles, que estava em uma noite inspirada.
Por todo o contexto, desde o início sabíamos que era necessário manter os nervos no lugar e não entrar no jogo deles, porque além de ter um time muito forte, o Peñarol também gostava da catimba e do combate – quase sempre.
Fim do primeiro tempo! Só não saímos ganhando com uma boa vantagem por mero acaso.
O grito de alívio, contudo, viria logo depois do intervalo, no comecinho da segunda etapa. De novo com um minuto. E novamente eu tive a bola decisiva.
Ainda consigo ver aquela jogada em câmera lenta na minha mente. Ganhei a disputa de cabeça, recebi do Léo, passei no meio de dois e tabelei com o Ganso; passei por mais dois e toquei para o Neymar marcar.
São dez, quinze segundos inesquecíveis. Os movimentos, os adversários tentando me desarmar (e me derrubar), a busca pela melhor opção de jogada – tocar ou chutar? - e a bola explodindo na rede.
Já merecíamos esse gol desde o primeiro tempo, mas ele veio! E ainda tivemos a calma necessária para ampliar com um golaço do Danilo. Apesar de terem diminuído a nossa vantagem no final do segundo tempo, conseguimos levar o resultado com segurança até o apito final.
Final de jogo! Momento de glória! Apesar de alguns jogadores do Peñarol tentarem estragar nossa festa com confusão, aquele é um instante que eu gostaria que durasse para sempre. Que fosse eterno, assim como aquele time e aquela atmosfera.
Mas vencemos! A espera pela libertação acabou e a taça veio das mãos do maior de todos: o Rei!
Seria muita pretensão concordar com alguns que comparavam nossa trajetória à do time de Pelé, Coutinho, Pepe, etc. Para muitos, o maior time da história do jogo.
Contudo, tenho certeza que poucas equipes na história do Peixe tiveram tanto a cara do clube e da torcida como aquela. Nós fizemos história jogando um futebol ofensivo e agressivo. Acima de tudo, bonito de se ver.
O resto é só história e comemoração!