Em tratamento contra o câncer, técnico das Sereias revela cuidado com o coronavírus

Guilherme Giudice quer retribuir o carinho das jogadoras, da diretoria e da torcida com títulos

Por: Bruno Lima  -  08/04/20  -  12:36
O treinador irá começar o terceiro ciclo de quimioterapia na próxima segunda-feira (13)
O treinador irá começar o terceiro ciclo de quimioterapia na próxima segunda-feira (13)   Foto: Pedro Ernesto Guerra Azevedo/Santos FC

Técnico das Sereias da Vila, Guilherme Giudice começou 2020 animado com a possibilidade de iniciar a temporada no comando da equipe feminina de futebol do Santos e conquistar os campeonatos Paulista e Brasileiro. Um problema, no entanto, o fez repensar tudo: um nódulo maligno no pescoço. 

A doença, na verdade, não é novidade na vida de Giudice. Em abril de 2019, ele descobriu que tinha câncer em um dos testículos e precisou operar. Ele acreditava ter eliminado o problema, que resolveu se manifestar, desta vez, em outra parte do corpo. 

“Não me abalei. Por já ter convivido com a doença no ano passado, permaneci calmo. Claro, eu não esperava. Principalmente porque agora não é uma questão de operação, mas sim de quimioterapia. Apesar de tudo, fiquei forte”, conta o treinador, que tem passado os dias da quarentena em sua casa, em São José dos Campos, com a família. 

Giudice afirma que, por conta da pandemia do novo coronavírus, transferiu todo o tratamento de quimioterapia para sua cidade natal. As duas primeiras sessões foram realizadas em Santos. A primeira delas foi justamente no dia em que as Sereias venceram o Cruzeiro, pelo Campeonato Brasileiro, por 2 a 0, com recorde de público na Vila Belmiro.

O terceiro ciclo de quimioterapia está marcado para a próxima segunda-feira (13). Conforme o técnico, trata-se de um processo desgastante.

“Os ciclos são realizados a cada 21 dias. É bem puxado. São cinco dias seguidos, das 8 às 14 horas. Quando acaba, fico esgotado. Nas semanas de quimioterapia não estava trabalhando, porque fico muito exausto por dias. Apesar disso, o Santos, por meio do nosso gerente de futebol, Alessandro Rodrigues, me tranquiliza o tempo todo em relação ao emprego. Eles colocam a minha saúde como prioridade, e sou muito grato por isso”.


  Foto: Pedro Ernesto Guerra Azevedo

Os resultados do tratamento têm sido positivos. O nódulo que antes era visível, hoje, por conta das sessões de quimioterapia, já diminuiu, e só é perceptível por meio do toque. 

“Depois do quarto ciclo vou fazer novos exames para saber se as coisas estão bem. Pode ser, inclusive, que já esteja resolvido. Caso não, continuo com o tratamento”. 

Elas são demais

Além do apoio da mulher, Erica Amaral, de 42 anos, companheira de todos os momentos, o carinho que as jogadoras têm demonstrado emocionam e deixam Giudice mais forte. 

“Ao descobrir que estava com câncer, fiquei em silêncio. Não comentei com elas. Mas as que são mais próximas começaram a desconfiar por me ver sempre indo ao médico, voltando com exames. No dia em que raspei o cabelo, elas perceberam que tinha algo estranho. Algumas vieram me perguntar se estava tudo bem. Omiti. Só falei o que realmente tinha em fevereiro, depois do jogo contra o Iranduba, em Manaus, para todas juntas. E expliquei que seguiria trabalhando quase que normalmente”, relembra ele. 


  Foto: Reprodução/Instagram

“A partir daí, elas fizeram muitas coisas inesquecíveis por mim. Esse grupo novo é muito bom. Recebo mensagens diárias delas. Fizeram uma foto com drone no meio do gramado do CT escrevendo 'Gui'. A Tayla escreveu um texto no Instagram que me emocionou muito. Elas são demais”.

Mas não são apenas as atletas que emocionam o técnico das Sereias.  “Recebo muitas mensagens da torcida, de gente que nem conheço. Diariamente. Isso é muito gostoso. E como treinador, devolver isso com títulos para o clube e para torcida é o meu objetivo quando voltar a trabalhar”.

Coronavírus

Junto com o tratamento do câncer, Giudice tem redobrado os cuidados por conta da pandemia.

“Tenho que ter mais cuidado. Não sou idoso, mas agora sou do grupo de muito risco. Por conta do tratamento, tenho imunidade muito baixa. Só saio de casa para ir nas sessões de quimioterapia. Uso máscara o tempo todo, roupas compridas. Mas além do coronavírus, que está em alta, tenho que tomar cuidado, porque mas qualquer resfriado me prejudica muito”, diz. 

A paralisação devido ao novo coronavírus, entretanto, tem trazido coisas boas para Giudice. Sem jogos, o treinador tem ganhado tempo para voltar e dar sequência ao trabalho. 

“No final, toda essa quarentena tem sido positiva profissionalmente no meu caso. Estou ganhando tempo no Santos. Não fosse isso, as competições estariam rolando e eu perdendo os treinamentos”, concluiu o técnico, que mesmo ausente segue a par de tudo o que ocorre com as Sereias da Vila.


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