Edinho sonha ser técnico do Santos e planeja formar elenco profissional com muitos atletas da base

'Sei que preciso estar bem preparado, mas em breve estarei ali na beira do campo', diz o filho de Pelé em entrevista exclusiva para A Tribuna

Por: Bruno Lima & Da Redação &  -  05/01/20  -  10:14
Atualizado em 05/01/20 - 11:01
Edinho sonha ser técnico do Santos e planeja formar elenco profissional com muitos atletas da base
Edinho sonha ser técnico do Santos e planeja formar elenco profissional com muitos atletas da base   Foto: Pedro Ernesto Guerra Azevedo/Santos FC

Filho do Rei Pelé, ex-goleiro do Santos e agora, enquanto cumpre, em regime aberto, o restante da sua pena pelo crime de lavagem de dinheiro oriundo do tráfico de entorpecentes, Coordenador Técnico de Desenvolvimento das categorias de base do Peixe. Em entrevista exclusiva para A Tribuna, Edinho fala sobre o pai, o sonho de ser técnico do Alvinegro e, entre outros assuntos, o plano de formar o elenco profissional com 60% dos atletas revelados na Vila Belmiro.


Depois de atuar como goleiro e membro da comissão técnica, hoje você é um dos gestores das categorias de base do Santos. Qual tem sido a sua função?


Hoje sou o coordenador técnico de desenvolvimento, faço parte de um processo de reformulação das categorias de base, com a equipe de gestão da base, que tem o Jorge Andrade como diretor principal, e o William Thomaz, que assumiu a vaga do Paulo Autuori, mas que foi quem montou esse grupo de profissionais. O Autuori, quando saiu, pediu o nosso comprometimento com o projeto. A base do Santos sempre teve sucesso, mas não era um processo necessariamente muito profissional. Então, já com a história que o clube tem, somada a essa evolução na parte administrativa, entendemos que é a principal solução para o futuro do clube. O futebol brasileiro é produtor de jogadores. Então, temos que ter a máxima eficiência para produzir os atletas e assim inseri-los no mercado brasileiro e, principalmente, no mercado internacional.


Quando você estava para ser contratado, o presidente José Carlos Peres afirmou que um dos objetivos era capacitá-lo com cursos de treinador. Isso já está acontecendo?


Sim. São cursos da CBF de licenciamento. Existem o C, B, A e o Pró. Por ter sido atleta profissional por um determinado tempo, já entrei no B e em maio devo fazer o A. Hoje posso ser treinador do sub-20. Com a licença A, posso ser técnico do profissional e com a Pró estarei habilitado para comandar seleções e clubes internacionais. É um aprendizado obrigatório, mas bastante interessante, pois sempre que entramos em um fórum intelectual evoluímos. Todos os que ali estão trazem visões interessantes para refletirmos em relação ao futebol.


Então podemos vislumbrar, um dia, o Edinho como treinador do time profissional do Santos?


Sem dúvida. O Santos é a minha carreira. Já atuei como treinador em outros clubes e estou dando continuidade nisso. Me qualificando ainda mais. Sou santista e todo mundo sabe. Meu sangue é preto e branco. Como profissional, não posso considerar um sonho ser treinador do Santos. Porém, é um desejo pessoal e acredito que um dia vai acontecer. Será um orgulho muito grande, assim como foi vestir a camisa 1 do Peixe. Sei que preciso estar muito bem preparado, pois será uma responsabilidade muito grande. Mas em breve estarei ali na beira do campo.


Como o seu pai tem visto o seu retorno ao Santos?


Ele está muito feliz e eufórico por me ver aqui novamente. Principalmente depois dos problemas. Todos sabem que ele está passando por um momento difícil da vida no sentido de saúde, por causa de um problema no quadril. Ele fez uma cirurgia, a recuperação não foi a ideal e ele perdeu parte da mobilidade. Isso tem deixado ele triste e deprimido. Meu pai sempre esteve muito presente no clube e hoje não consegue fazer isso. Por extensão, está curtindo a minha presença aqui. Sempre diz que sou o representante dele. Tenho essa honra e imensa responsabilidade de representá-lo toda vez que visto essa camisa. E é muito bom saber que consigo trazer um sorriso pra ele.


Edinho é Coordenador Técnico de Desenvolvimento das categorias de base do Peixe
Edinho é Coordenador Técnico de Desenvolvimento das categorias de base do Peixe   Foto: Pedro Ernesto Guerra Azevedo/Santos FC

Como foi o convite para voltar ao Santos após receber autorização da Justiça para cumprir o resto da sua pena no regime aberto?


Foi iniciativa do presidente com o apoio de ex-presidentes, além de ex e atuais conselheiros. Não foi uma decisão simples de ser tomada. Foi um consenso das pessoas que me conhecem. Que conhecem o Edinho profissional e homem. O amor e a dedicação que sempre tive. Ser lembrado nesse momento de mudança profissional no clube é difícil de descrever. Tenho uma dívida de gratidão com o Santos e vou corresponder à expectativa criada. Sou um profissional honrado por isso. Passei por muitos problemas, vivo isso ainda, mas o importante para mim são as pessoas que me conhecem e que me estenderam a mão. Hoje posso chegar em casa e olhar para as minhas filhas e a minha família. E eles também sentem muito orgulho do que está acontecendo.


E como tem sido o seu trabalho no dia a dia?


Na prática, nesse primeiro momento, o que nós fazemos é observar. Iniciamos esse processo agora, mas a base já estava aqui ao longo dos anos. Temos toda uma metodologia para implementar. Porém, para fazer as mudanças que queremos precisamos ter muita coerência e ser justos. Nesse momento é observação, avaliação dos atletas, comissões técnicas, treinadores, departamento médico e de fisiologia. Estamos em competições do sub-20 e nos preparando para campeonatos do sub-17. Portanto, não é hora de mudanças drásticas. Após essas competições, com parâmetros, dados consistentes, tomaremos decisões e faremos eventuais mudanças.


E como tem sido essa experiência de coordenador?


Tudo isso é muito importante para o meu crescimento, pois, paralelamente, continuo a minha trajetória como treinador. A partir do ano que vem a CBF vai exigir uma licença, que a própria CBF oferece por meio de um curso, e estou me credenciando para voltar ao mercado de treinador. Então, estou nessas duas frentes. É uma visão diferente. O universo do futebol, apesar de todos sempre voltarem os olhos para o campo, tem diversas formas de atuar. Já atuei como atleta, treinador e hoje atuo como gestor, e isso só engrandece o conhecimento.


Você diz que o futebol brasileiro é produtor de atletas. O Santos sempre teve sucesso na formação de grandes jogadores. O que muda em relação ao que já era feito?


Acredito que estamos fazendo história no clube. Penso que daqui a uns anos vamos olhar para trás e vamos ver que existia um Santos antes e outro depois desse processo. O que o meu pai fez para o clube é inquestionável. Houve outras gerações de muito sucesso em termos de conquistas. Mas hoje estamos trabalhando em outro nível e isso vai trazer uma mudança fundamental para a história do Santos.


A intenção do clube é ter o elenco profissional formado em sua maioria por garotos da base?
Não existe uma meta específica de percentual. Quanto maior, melhor. Hoje a equipe da qual faço parte é composta quase que integralmente por profissionais que vieram do Atlhetico-PR, e temos eles como referência em gestão de base. O Athletico-PR tem 60% do seu elenco composto por jogadores da base, finanças sadias, com condições de grandes investimentos e uma estrutura de base que é referência no Brasil. Nos baseamos neles para traçar os nossos objetivos no Santos.


Existe um prazo para que o elenco profissional tenha 60% ou mais formado na base?


Não estipulamos meta para que isso seja colocado em prática. É um processo de médio e longo prazo. Existe um senso de urgência, mas é preciso coerência e paciência. Trabalhamos em um ambiente muito político, então esperamos compreensão de todos a partir do final de 2020. Nós, do operacional, esperamos que quem venha a assumir o clube dê a oportunidade de continuarmos isso, porque é um processo que está acima de qualquer partido e visão política. É para o bem do Santos.


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