Após encarar a fome, Renyer sonha com sucesso no Santos e em dar uma casa para a mãe

Contratado para substituir Jorge Sampaoli e dar oportunidades aos jogadores da base no Santos, Jesualdo Ferreira desembarcou na Vila Belmiro já focado em um garoto de 16 anos: Renyer. Artilheiro em diferentes equipes inferiores do Peixe, o jovem, no clube desde os 9 anos, tem sido lapidado como uma verdadeira joia pelo treinador português. 

Natural de Duque de Caxias, no Rio de Janeiro, Renyer teve os  primeiros contatos com a bola nas equipes de futsal do Flamengo. Porém, a verdadeira paixão daquela criança era o futebol de campo que seu pai, Eudes Bezerra Damasceno, de 61 anos, e Leandro Oliveira Damasceno, de 35, um dos seus sete irmãos, costumavam jogar aos finais de semana. 

E foi justamente a vontade de atuar nos gramados que trouxe Renyer à Vila Belmiro. Na época, o Flamengo não tinha times de campo para crianças com menos de 10 anos e surgiu a oportunidade de fazer um teste para o Santos, que já trabalhava com garotos de 8 e 9 anos nos gramados. O menino foi aprovado na peneira santista e isso mudou todo o planejamento da família. 

“A minha mãe (Leuzinete Damasceno de Oliveira, de 53 anos) tinha uma confecção de roupas em Duque de Caxias que foi vendida quando o Renyer passou no teste do Santos. Ela veio para cá (Santos) com ele (Renyer) e os dois irmãos mais novos. O início foi muito complicado. A minha mãe usou o dinheiro da confecção no aluguel de um apartamento no Gonzaga, mas as coisas aqui são caras”, conta o irmão mais velho e agora empresário do atacante, Leandro. 

“No primeiro ano, eles chegaram a passar fome, porque não tinham dinheiro para muitas coisas. Muitas vezes o jantar dos meus irmãos era o lanche que o Renyer ganhava no Santos e levava para casa para dividir”, acrescenta o representante do garoto. 

Talento

Em meio a todas as dificuldades fora de campo, Renyer começou a mostrar talento dentro das quatro linhas. Com 11 anos, o atacante disputou o Campeonato Paulista Sub-13 e terminou como artilheiro. 

O bom desempenho fez Renyer estar sempre atuando por categorias acima da sua. No sub-15, com 12 anos, ele foi o reserva imediato de Rodrygo, que atualmente está no Real Madrid. Posteriormente, o garoto foi chamado para defender a seleção brasileira da categoria, que disputou um torneio na França.

Benfica e Inter de Milão

Em 2019, um imbróglio para a renovação de contrato afastou Renyer dos gramados por cerca de quatro meses, e por pouco não o tirou do Santos. 

“Os valores oferecidos para a renovação eram muito baixos e não aceitamos. Foi então que começaram a sair notícias de que ele não permaneceria no Santos. Nesse período de indefinição, a Inter de Milão, o Porto, o Benfica e o Atlético de Madrid entraram em contato comigo interessados na contratação dele”, conta o irmão mais velho. 

O Benfica foi o clube que mais se aproximou de tirar Renyer do Peixe. O desejo dos portugueses era tão grande que eles recorreram a um ídolo do futebol brasileiro para levar o garoto para Lisboa. 

“O Júlio Cesar, ex-goleiro da Seleção Brasileira, da Inter de Milão e do Benfica, um dia me procurou falando sobre o interesse do Benfica e pediu autorização para levar o Renyer a Portugal, pois os dirigentes portugueses queriam apresentar o clube e um projeto. Nós fomos e conversamos diretamente com o presidente do Benfica (Luís Filipe Vieira)”, relembra Leandro.

“Quando a Inter de Milão soube que estávamos em Portugal com o Júlio Cesar, os dirigentes italianos fizeram uma proposta também, mas eles queriam que esperássemos o Renyer completar 17 anos. Com 16 não poderiam contratar", completa o
irmão e empresário. 

Renovação e oportunidades

Após longo impasse, Santos e Renyer chegaram a um acordo, em dezembro do ano passado, e o jovem assinou o seu primeiro vínculo profissional, válido até dezembro de 2022. 

Dias depois da renovação, o time da Vila Belmiro acertou a contratação do técnico Jesualdo, que, ainda em Portugal, definiu Renyer como um dos melhores atacantes brasileiros dessa faixa etária. As palavras do treinador levaram o jovem às lágrimas. 

“Aquilo foi emocionante. O Jesualdo é um técnico consagrado na Europa. Quando o Renyer ouviu aquilo, chorou um pouco de emoção. E eles têm conversado muito nos treinamentos. O Renyer fala que ele dá dicas e pede para se preparar bem, porque vai colocá-lo para jogar”, diz.

Sonhos

Todo o esforço feito pela mãe desde o momento em que passou no teste do Santos não é esquecido pelo garoto de 16 anos, que não vê a hora de realizar um sonho.  “Uma das maiores vontades do Renyer é comprar uma casa para a  mãe. Ele sempre fala isso e lembra que ela largou tudo em Duque de Caxias para vir viver tudo isso ao lado dele”. 

Mas esse é apenas um sonho do Menino da Vila. Um outro desejo que tem, ele pretende realizar em dezembro de 2020.

“Nós sempre vamos ao bairro em que crescemos, porque os outros quatro irmãos ainda moram lá. Já são todos adultos. E em dezembro ele quer doar 300 cestas básicas para crianças de Santa Cruz da Sierra”, finaliza Leandro, que morre de orgulho do talento e da força de vontade do irmão caçula.