Alex lembra carreira na Europa e enaltece passagem vitoriosa pelo Santos: 'O torcedor vibrou muito'

Formando, ao lado de André Luís, as "Torres Gêmeas" da defesa santista, o ex-zagueiro ajudou o Alvinegro a sair da incômoda fila de 18 anos sem a conquista de títulos importantes

Por: Régis Querino & Da Redação &  -  23/12/19  -  12:12
Atualizado em 23/12/19 - 12:50
Alex ajudou o Alvinegro a sair da incômoda fila de 18 anos sem a conquista de títulos importantes
Alex ajudou o Alvinegro a sair da incômoda fila de 18 anos sem a conquista de títulos importantes   Foto: Matheus Tagé/AT

Se a Academia Brasileira de Letras tem os seus imortais, no mundo do futebol não é diferente. Alguns jogadores ficam eternizados na galeria de campeões dos clubes e na memória dos torcedores. Integrante daquele Santos, campeão brasileiro de 2002, o zagueiro Alex é um deles.


Formando, ao lado de André Luís, as "Torres Gêmeas" da defesa santista, Alex ajudou o Alvinegro a sair da incômoda fila de 18 anos sem a conquista de títulos importantes. Foi bicampeão nacional pelo Alvinegro em 2004, antes de partir para a Europa.


Foram 12 anos no Velho Continente jogando por quatro grandes clubes. De volta ao Brasil, em 2016, após deixar o Milan, cogitou um retorno ao Santos, mas convivendo com sérios problemas no joelho direito, teve que abortar o plano.


Depois de viver uns tempos em Portugal, Alex voltou a morar com a família em Santos , em julho passado. Festejado pelos santistas por onde passa, o ex-zagueiro, famoso pelas potentes batidas de falta, conversou com A Tribuna sobre a carreira e o sonho de usar sua experiência para formar novos defensores.


Você voltou a jogar na Vila Belmiro na semana passada, no jogo do Narciso. Bateu a saudade?


Pô, bate saudade, principalmente na Vila, onde tudo começou. Profissionalmente foi aqui onde a gente teve aquele ano maravilhoso de 2002.


Aliás, no último dia 15 foi comemorado os 17 anos do título brasileiro de 2002. Você ainda é muito assediados pelos santistas?


Pelos mais velhos, as criancinhas não lembram (risos). Já vi pessoas chegarem pra mim e dizer 'eu tinha 5, 7, 10 anos, ia na Vila!'. A pessoa vibrou muito com aquele título, aquele momento que a gente viveu no Santos e isso é muito bacana, não tem preço. Por isso escolhi a Cidade pra viver, porque a gente é muito bem acolhido aqui.Foi um momento histórico. O fim do jejum de títulos importantes, a fase final contra grandes rivais...


Crescemos no momento certo. Não fomos tão bem nos pontos corridos (primeira fase) e acabamos entrando, com um pouco de sorte, em oitavo. E a gente cresceu pra cima do São Paulo, que era disparado o líder (13 pontos à frente do Santos). No primeiro jogo, com a força da Vila e junto com o torcedor, a gente deu um grande passo, ganhamos por 3 a 1 e ficou mais fácil de administrar. Contra o Grêmio, a mesma coisa, a mesma dificuldade e o Corinthians na final. Foi um ano maravilhoso.


Em que momento você sentiu que dava para ser campeão?


Quando a gente passou pelo São Paulo, porque até era o time que vinha batendo em todos. Quando a gente venceu na Vila e no Morumbi, a gente viu que dava pra encarar qualquer um. O Santos sempre tem que jogar na Vila Belmiro, porque eu, quando jogava, sentia essa diferença, você sente uma confiança muito grande quando está jogando aqui. E fizemos a mesma coisa com o Grêmio, eles tinham um time fortíssimo. Fizemos 3 a 0 e só perdemos esse jogo (na fase final) lá pra eles, por 1 a 0.


E as finais contra o Corinthians?


Falavam muito da falta de experiência da gente e a experiência que eles tinham, que isso poderia fazer a diferença. Mas a gente soube lidar com essa pressão, essa falta de maturidade, procurou fazer o que o Leão pedia, ir pra cima, e deu certo. Principalmente os jogadores da frente. O Robinho chamou a responsabilidade naquele pênalti cometido pelo Rogério. No primeiro jogo a gente viu que era capaz de ser campeão, apesar de enfrentar uma grande equipe.


E o papel do Leão naquela campanha?


Fundamental. O Leão, pra todos nós, era um paizão, é um paizão ainda, a gente acreditava muito nele, aprendeu muito com ele. A maioria vinha dos juniores, não tinha a experiência no profissional e precisava de alguém pra passar pra gente. E o Leão procurava adiantar tudo e nos ensinar muita coisa. Outros tinham medo do Leão, pela fama, mas ele acrescentou demais na nossa vida, na nossa carreira.
Vocês até quebraram a ranhetice do Leão...


Conseguimos fazer ele rir um pouco (risos). Principalmente o Robinho, Diego, William Batoré, André Luiz, que não paravam de brincar. O próprio Preto. Fizemos o Leão esquecer um pouquinho esse lado dele, durão. E ele não aguentava, acabava rindo e às vezes caindo nas brincadeiras. A gente tem um grupo no Whatsupp, todos têm muita saudade daquela época. Damos muita risada, bacana pra caramba, cada um em um lugar hoje, dá pra matar a saudade um pouco.


Lembra algum episódio engraçado daquela época?


Era muita brincadeira de moleque. Pendurar roupa em ventilador, de zoar um o outro. O Preto tinha muito medo de avião, era um desespero pra ele, e todo mundo procurava ficar próximo dele pra rir. Era muita molecada, sem responsabilidade nenhuma e isso acabou ajudando, porque a gente não sabia do tamanho da responsabilidade de representar um clube como o Santos.


Alex jogou mais de 10 anos na Europa, passando por quatro grandes clubes europeus
Alex jogou mais de 10 anos na Europa, passando por quatro grandes clubes europeus   Foto: Matheus Tagé/AT

Depois do Santos você jogou mais de 10 anos na Europa, passando por quatro grandes clubes europeus.


Foram 12 anos. Eu fui vendido pro Chelsea, mas não podia ir pro clube e fui emprestado ao PSV. Fiquei três anos na Holanda, quatro anos e meio no Chelsea, dois anos e meio no PSG e dois anos no Milan.


A sua passagem no Chelsea foi a mais vitoriosa?


No Milan não peguei uma época boa. O Chelsea era um time de mais peso, o Abramovich tinha acabado de comprar o clube. Aprendi muito no PSV, principalmente do estilo europeu de jogar, totalmente diferente do nosso. Tive um pouco de dificuldade no começo na Holanda, de não acelerar muito o jogo, como vinha acostumado a jogar aqui.


Você estava no Chelsea quando o Felipão foi treinar o time.Sim, nos oito meses que ele ficou por lá eu tabalhei com ele.


Ele foi boicotado por líderes do elenco, não?


Falam sempre isso, mas eu nunca vi ninguém fazendo reuniões pra queimar o Felipão. Eu acredito, sempre falo, da filosofia de trabalho dele, muito diferente da dos ingleses. Eu via que isso irritava profundamente os ingleses. Já na pré-temporada, com o trabalho só de corrida e sem bola. Na Inglaterra, na Europa, não é normal. Os primeiros dias de treinamento já são com bola, todos os trabalhos físicos são com bola. Isso tirou muito do sério os ingleses e eles eram fortes, tinham nome, representavam o clube. E depois os resultados acabaram não vindo, ele não resistiu e acabou caindo.


A mídia inglesa dizia que alguns jogadores não entendiam o que o Felipão dizia. Tanto ele como o Murtosa (auxiliar) tinham dificuldade com o idioma, isso também atrapalhava. Claro, John Terry, Lampard e Drogba tinham muito poder no clube e poderiam decidir o futuro de um treinador. Só que eu não posso falar uma coisa que eu não vi. Nós, brasileiros, junto com os portugueses, conversavam bastante. Os portugueses eram mais amigos do Felipão do que da gente, estavam mais tempo no clube do que eu e o Belletti. O Paulo Ferreira sabia de tudo que se passava no clube e o que a gente ficou sabendo era disso, os resultados e a filosofia de trabalho dele.


Não ter tido uma sequência na Seleção deixou uma lacuna na sua carreira?


Ficou sim, principalmente quando eu saí do Brasil. A imprensa falando muito bem de mim, eu vinha fazendo um bom trabalho. E claro, você é novo, espera chegar na Seleção, mas eu tive muitos problemas de lesão, principalmente depois que eu saí da Holanda e fui pro Chelsea. Me machuquei muito, fiz três cirurgias de púbis e comecei a ter problema no meu joelho direito. Fiz em 2008 uma cirurgia com o doutor (José Luis) Runco, peguei uma infecção no hospital no Rio e com isso perdi muito espaço dentro do Chelsea. Depois não voltei a ser mesma coisa. E com uma idade, o rendimento acaba caindo.


O que você anda fazendo? Algum trabalho relacionado ao futebol?


Não. Eu fui pra Portugal, porque meus filhos, principalmente as duas mais velhas, de 16 e de 12 anos, tiveram um pouco de dificuldade com o português. Fui pra lá pra elas estudarem o português e o inglês. Só tentei recuperar o meu joelho e hoje, graças a Deus, consigo jogar futebol e futevôlei. Foquei primeiramente nisso, mas se eu receber algum convite de algo que me interesse, que eu possa ser útil, eu aceito.


Pensa em algum cargo diretivo ou técnico?


Dirigente não, o que eu gosto é de trabalhar em campo, treinar principalmente a minha posição. Não ser o treinador principal, mas um auxiliar, principalmente na base. Eu gostaria de trabalhar nessa área, poder ajudar a molecada na minha posição.


Seus filhos estão com que idade?


A Thaissa tem 16, Nasceu aqui, mas com quatro meses fomos pra Holanda. Com três anos a gente a colocou na escola e ela acabou ficando com o inglês como primeira língua. A Kethelin tem 12 e o Alex Patrick, 6. Os três nasceram em Santos.


O garoto já bate bola?


Ele gosta de jogar futebol, vou colocá-lo numa escolinha .


E ele leva jeito? Vai ser zagueiro também?


Vai ser altão, ele tá sempre fora do gráfico pra idade dele. Os médicos dizem que vai ser um pouco mais alto que eu (Alex tem 1,88m). Ele bate bem na bola, mas nessa idade é difícil falar pra criança onde se posicionar, mas leva jeito. Vamos ver (risos).


Você acompanhou o Santos este ano?


Fui ver dois jogos na Vila, mas quase todos os jogos pude ver na TV. Principalmente no primeiro turno, que eu via lá de Portugal. No primeiro turno eu acreditava muito no título do Santos. Mas depois veio o Jorge Jesus e o Flamengo cresceu bastante. O Santos acabou fazendo uma pontuação de campeão, mas caindo de rendimento. Gosto muito desses dois treinadores, pena que o Sampaoli foi embora.


Ele vai fazer muita falta ao Santos em 2020?


Eu gosto dele, mas não concordava, muitos não concordavam, com a mudança de vários jogadores em alguns jogos. Mas a intensidade que o Santos colocou e aquilo que o Sampaoli fez com o Santos, sem grandes investimentos, foi um grande trabalho, foi bacana ver o Santos jogar.


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