Afastado no início do ano, Sasha conta como virou artilheiro do Brasileirão

O atacante revela que pediu ao seu empresário para não procurar outros clubes interessados em seu futebol

Por: Bruno Lima  -  11/07/19  -  12:02
  Foto: Carlos Nogueira/A Tribuna

Filho de um açougueiro e de uma entregadora de jornais no Rio Grande Sul, Eduardo Colcenti Antunes, de 27 anos, também conhecido como Eduardo Sasha, tem sido um dos destaques do Santos no Campeonato Brasileiro. Artilheiro da competição com 5 gols, o atacante, em entrevista exclusiva, fala sobre como fez Jorge Sampaoli mudar de ideia ao seu respeito, o quanto a 'dispensa' no início do ano lhe fez crescer e os motivos que o fizeram pedir ao seu empresário para permanecer no Peixe. 

Você teve um bom início quando chegou ao Santos e depois caiu. No Internacional ocorreu algo parecido. Quais os motivos para esses altos e baixos? 

São coisas do futebol. Tive uma lesão no posterior da coxa, no ano passado, pouco antes de o Cuca chegar. Vinha numa sequência boa. Se machucar é sempre muito ruim, porque tem todo o processo de volta. Ainda mais com a chegada de um novo treinador, que precisa encontrar um time o quanto antes. Na ocasião, o time começou a apresentar resultados e eu tive que largar atrás. Mas a verdade é que não atingi o meu ápice físico. No Internacional foi a mesma coisa. Uma lesão. Não sei o que acontece, sempre que estou chegando no meu alto nível acabo sofrendo uma lesão. Tenho que tentar me precaver para que não volte a acontecer. 

Hoje você vive um ótimo momento. Tem se dedicado mais aos trabalhos de prevenção de lesões?

Nem penso, na verdade. Tento dar o máximo em cada jogo. Se for ficar pensando no risco, não vou treinar 100% focado e não chegaria bem para os jogos. Tenho que deixar os riscos de lado e esperar as coisas acontecerem. 

No início do trabalho, o Sampaoli afastou você, que, mesmo chateado, optou por ficar no Santos. O que fez para conquistar a confiança do treinador?

Fui procurando maneiras. Se a minha forma de jogar não estava agradando, eu tinha que fazer uma mudança, evoluir em relação àquilo que ele queria. E isso não só para mim, mas para o esquema de jogo dele. Eu sabia que por lesões ou cartões dos companheiros a oportunidade ia aparecer. Essa foi a minha linha de raciocínio e isso me fez querer permanecer para mostrar que ainda seria útil. E foi o que aconteceu.

Você pediu ao seu empresário para que encontrasse um novo clube?

Na verdade, eu não cheguei a pedir para sair. O meu empresário vinha com situações de clubes da Série A que tinham interesse na minha contratação. Expliquei que estava bem no Santos. Não queria sair. Falei que ia esperar as coisas acontecerem e, caso nada mudasse, seguiria a minha vida. Foi isso que aconteceu. Me dei um tempo para trabalhar firme e poder buscar espaço. 


Mesmo fora dos planos de Sampaoli, Sasha optou por ficar virar o jogo
Mesmo fora dos planos de Sampaoli, Sasha optou por ficar virar o jogo   Foto: Carlos Nogueira/A Tribuna

Ter mudado a cabeça do Sampaoli, um treinador de Copa do Mundo, faz de você um jogador mais experiente hoje?

Sempre tive a cabeça muito boa. Sempre soube entender os momentos pelos quais passei e respeitar todas as situações. Como no começo do ano. Naquela ocasião, trabalhei muito e não fiz corpo mole. Isso pode ter agradado o treinador para que me oferecesse mais chances. Mas saio sim mais fortalecido por ter superado essa barreira. 

Houve alguma conversa pessoal com o Sampaoli após esse episódio?

Não. Ele só chama para falar sobre situações de jogos.

Está sendo realmente diferente trabalhar com o Sampaoli? O que há de diferente no trabalho dele?

Ele tem um modo de pensar e de trabalhar diferente, sim. É um técnico que preza muito a posse de bola e faz trabalhos específicos para isso. Promove atividades simples, que outros treinadores não fazem, como movimentação e passe para dominarmos a bola já tirando da marcação. Ele faz muito trabalho de quatro atletas contra dois para que esses dois não peguem na bola. Na preparação pré-jogo também apresenta coisas específicas. E isso, em razão de tudo que aprendeu lá fora, é muito importante para nos ajudar evoluir.

Até a pausa para a Copa América você vinha fazendo a função de centroavante. Porém, já disse que prefere atuar pelo lado do campo. Com a chegada do Uribe, está sendo possível atuar pelos lados nos treinos?

Vamos ver como ele vai optar. Ainda não sei se vai querer que eu atue mais centralizado, como vinha fazendo e me adaptei bem. Estava sabendo bem o que tinha que fazer nessa função. Agora, se ele optar por me fazer jogar aberto, não terá problema nenhum. Vou me adaptar novamente.

Se o Sampaoli confirmar você pelo lado, está pronto para substituir o Rodrygo? 

Substituir aquele jogador é difícil (risos)

Como está sendo a adaptação com o Uribe?

O Uribe é um jogador com características diferentes das minhas. Ele é mais 9 mesmo. O nosso entrosamento está sendo bom. Estamos conseguindo fazer boas jogadas. Ele protege bem a bola. É um atacante que se movimenta bem dentro da área quando algum jogador está fazendo a jogada por fora. Chama a atenção dos zagueiros e isso facilita para os extremos chegarem na área de surpresa, sem marcação. Mas os jogos vão ser importantes para aprimorarmos o entrosamento e ajudar a equipe com gols e vitórias.

Em 2016, você disse: "Todo jogador precisa colocar uma meta para alcançar. Eu tenho uma. Durante o ano quero fazer, no mínimo, 20 gols" Qual a meta para 2019?

Meta para fazer um determinado número de gols não estipulei. O meu objetivo é marcar gols em todos os jogos dar um passe para algum companheiro. Mas não tenho um objetivo. A minha meta é só a vitória. 


Sasha não tem meta de gols estipulada para o segundo semestre
Sasha não tem meta de gols estipulada para o segundo semestre   Foto: Carlos Nogueira/A Tribuna

Antes da parada para a Copa América o Santos era apontado como um time desequilibrado, principalmente quando sai atrás, como ocorreu contra Ituano, Botafogo-SP e Palmeiras. Isso foi corrigido na intertemporada?

Nesses jogos aconteceram erros. Por estarmos sempre buscando o ataque e o gol ficamos um pouco expostos. Estamos consertando para que essas falhas não se repitam. Mesmo que a gente saía atrás no placar, tem que continuar jogando da mesma forma. Evitar de se atirar de qualquer jeito. Junto a isso, temos que manter o que vínhamos fazendo antes da parada e evoluir em  outros aspectos. 

O Palmeiras tem cinco pontos de diferença do Santos na liderança do Brasileirão e é o time mais badalado do país. Isso intimida?

Intimidar não. Temos um grupo qualificado e queremos buscar o título. Como a gente sempre fala entre nós: vamos buscar jogo a jogo. Quando estivermos lá no fim do campeonato vamos ver por quais objetivos estamos jogando. O título ou a Libertadores. Jogo a jogo a gente vai traçando a nossa meta. 

Você está com 27 anos. O que pensa para o futuro? Tem o sonho de atuar na Europa ou não pensa mais nisso?

Pela idade é um pouco mais difícil sim. Mas hoje no futebol acontecem várias coisas. Inclusive jogadores que vão (à Europa) com mais idade. Tenho o desejo sim de jogar na Europa. Todos têm. Mas tudo no seu tempo. Me mantenho focado no Santos, pois estou num grande clube e não tenho motivos para querer sair logo. Um dia, quem sabe, posso vir a jogar lá.

Tanto no início do ano quanto nessa pausa para a Copa América o seu nome foi vinculado ao futebol turco. Houve propostas ou conversas?

Chegou algo no início do ano, mas faltava pouco tempo para o fechamento da janela e não se confirmou. Nessa parada para a Copa América eu avisei ao meu empresário que estava tranquilo e, nesse momento, não quero saber de nada. Estou num grande clube e não tenho pressa. Não quis ir embora em janeiro e não vou quero sair agora, que vivo um bom momento. 

O seu nome completo é Eduardo Colcenti Antunes. Por que Eduardo Sasha?

O meu irmão, que é dois anos mais velho, era chamado de Xuxa no bairro. Assim como eu, ele tinha o cabelo comprido, na altura dos ombros. Um dia,  com 5 ou 6 anos, fui jogar bola com ele e, quando os amigos dele me viram, logo avisaram que seria Sasha, por causa da filha da Xuxa. O apelido pegou. Quando cheguei no Internacional, com 9 anos, já era Eduardo Sasha


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