Flávio Medeiros adota a camisa 24 em campanha contra a homofobia

Ex-volante da base santista, o hoje titular do Bahia encabeça um movimento do clube contra o preconceito

Por: Régis Querino  -  01/02/20  -  11:20
Flávio Medeiros espera que a sua atitude influencie outros jogadores a adotarem a camisa 24
Flávio Medeiros espera que a sua atitude influencie outros jogadores a adotarem a camisa 24   Foto: Divulgação Bahia

Em um Brasil onde o preconceito impera, o futebol é um campo minado. Tão perigoso que o simples fato de um jogador usar a camisa 24 vira polêmica. Em janeiro, o diretor de futebol do Corinthians, Duílio Monteiro Alves, teve que se retratar ao dizer “24 aqui não”, quando rechaçou a possibilidade de o colombiano Cantillo usar tal número. 


Batendo de frente contra essa corrente, o volante santista Flávio Medeiros, de 23 anos, topou encabeçar uma campanha do Bahia contra a homofobia. No clube desde 2018, ele não titubeou quando recebeu o convite do departamento de marketing para vestir a 24. No jogo do bicho, o número é associado ao veado, animal usado para retratar homossexuais do sexo masculino. 


“Pra mim isso nada mais é do que uma grande bobagem. O 24 é um número qualquer, assim como o 10, o 5. E juntamente contra a homofobia é uma forma de homenagem ao Kobe Bryant”, declarou Medeiros, referindo-se ao jogador de basquete do Los Angeles Lakers, que usava a 24 e morreu em um acidente aéreo na semana passada. 


Flávio, que antes vestia a camisa 5, estreou com a 24 na última terça-feira (28), na vitória do Bahia sobre o Imperatriz-MA por 2 a 0, pela Copa do Nordeste, no estádio Pituaçu, em Salvador. 


“Usar a 24 não afeta em nada a minha masculinidade. E se eu tivesse outra opção sexual, cada um tem que ter respeitar o próximo, a opção de cada um”.


"Um número como qualquer outro", diz o volante Flávio em referência ao 24   Foto: Felipe Oliveira/EC Bahia

"As pessoas têm que evoluir"


O volante disse que a escolha da nova camisa não gerou brincadeiras dos colegas de time. “Todo mundo que joga aqui (no Bahia) sabe que o clube vem tratando essas causas sociais com bastante ênfase”. 


Flávio fez menção ao fato de o Bahia ter virado referência em ações contra o racismo. Além de ter cobrado investigação e punição aos responsáveis pelo derramamento de óleo que causou um desastre ecológico na costa brasileira. 


Apesar da consciência dos companheiros, Flávio sabe que pode ser alvo de provocação de adversários ou torcedores rivais. “Não vai me afetar em nada. Pelo contrário, eu acho que com essa iniciativa, esse tipo de comportamento das pessoas nos estádios vá acabando, porque o mundo tá evoluindo e as pessoas têm que evoluir junto”. 


Evolução, aliás, é o que mais espera o volante, irmão gêmeo do também meio-campista Fernando (no Portimonense, de Portugal), com quem ele começou na base do Santos. 


“Minha alegria vai ser ver outros jogadores usando esse número. O próprio Corinthians também adotou a 24 (para Cantillo). Que possa vir a ser uma coisa normal no futebol ou em qualquer outro esporte”, desejou Flávio. 


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