Zagueiros no chão, goleiro batido, ele corria para a torcida com o braço esticado, punho cerrado, para comemorar mais um gol do Atlético-MG. Quem acompanhou o futebol na década de 1970 e início dos anos de 1980 lembra-se do centroavante Reinaldo.
Um dos mais técnicos camisas 9 que o Brasil já produziu, ele está em Santos para o lançamento de sua biografia, Punho Cerrado - A História do Rei, escrita por Philipe Lima, um dos cinco filhos do maior artilheiro do Galo, com 255 gols. Será nesta quarta-feira (16), às 18h, no restaurante Bodegaia (Rua República da Argentina, 80, Pompeia).
Bom de prosa como todo mineiro, Reinaldo relembrou para A Tribuna algumas das passagens mais marcantes da carreira, que teve início aos 14 anos, quando ele chegou ao alvinegro de Minas Gerais. Talentoso, não demorou a estrear no profissional. “Em 1973, no Mineirão, aos 16 anos, nós jogamos contra o Santos. Eu sou um pouquinho maior que o Pelé, mas em campo ele crescia”, diz.
Outra passagem com Pelé foi em Nova Iorque, em 1978. Logo após a Copa da Argentina, a única da carreira de Reinaldo, ele foi para os Estados Unidos para ser submetido à quarta cirurgia no joelho esquerdo. “Ele (Pelé) teve um gesto lindo. Foi me visitar no hospital, ‘Pô Rei, isso aí vai me dar força pra me recuperar e voltar a jogar futebol’, disse a ele”, recorda.
Peitando a ditadura
O gesto imortalizado nas comemorações surgiu em 1975, em um jogo do Brasileiro. “A ideia era mesmo um gesto socialista, por causa do momento que o País vivia, da ditadura”, lembra. “A imprensa oficial começou a me descaracterizar, Me bombardearam com a minha vida particular”.
Antes da viagem à Argentina para a Copa, recebeu recado até do presidente. “Na despedida (da delegação), o presidente (Ernesto) Geisel me aconselhou: ‘Joga bola, deixa que a gente faz a política’”. Reinaldo não retrucou o general, mas na Copa, ao marcar o seu único gol, contra a Suécia, não teve dúvida: braço erguido, punho cerrado.
Maior frustração
Apesar de lamentar a ausência na Copa de 1982, quando o histórico de lesões o deixou fora, a maior tristeza de Reinaldo foi a perda do título do Brasileiro de 1977. Reinaldo estava voando. Fez 28 gols em 18 jogos, média de 1,55 por jogo, a maior até hoje do Nacional. Só que uma expulsão em um jogo em Manaus, no início do campeonato, refletiria na decisão do título.
“Tava jogando pra c..., o Atlético classificado pra final. Aí vem a força política: o Serginho Chulapa bateu no bandeirinha e iam julgá-lo. Mas peraí, o Reinaldo foi expulso e não foi julgado, temos que julgar ele também”.
Para o Rei, armou-se um circo para tirá-lo da final. De fora, ele viu o Galo perder do São Paulo nos pênaltis.
Do inferno ao céu
Fora dos gramados, Reinaldo enfrentou o maior adversário na década de 1990, quando se viu viciado em cocaína. “Foi quando nasceu uma filha minha, a Nina Flores. Foi a luz pra eu dar o primeiro passo, eu tomei a iniciativa de sair dessa escuridão”, conta, emocionado.
Vila, Seleção e Neymar
Reinaldo fez ontem a primeira visita à Vila Belmiro, palco em que ele não chegou a atuar como jogador. “Foi emocionante, o Santos tem a história mais bonita do futebol brasileiro”.
Sobre Seleção, o craque disse que os jogadores brasileiros perderam um pouco o sentimento de vestir a camisa amarela. “Os caras já acham que são bons se estão jogando na Europa”. Quanto a Neymar, Reinaldo saiu em defesa. “O futebol do Neymar tem mais cores, mais fantasia que o do Messi e do Cristiano Ronaldo. Acho que jogar pedra em ídolo é um esporte divertido (risos)”.