Edmur Mesquita participará torneio de tênis de mesa nos EUA: 'Decidi que enfrentaria esse desafio'

A frase é de Edmur Mesquita, figura pública conhecida na política local. Há seis anos, um diagnóstico o fez mudar alguns rumos da vida

Por: Arminda Augusto & Da Redação &  -  08/10/19  -  19:50
Ele embarca nesta quarta-feira (9) para o 1° torneio de tênis de mesa para pessoas com Parkinson
Ele embarca nesta quarta-feira (9) para o 1° torneio de tênis de mesa para pessoas com Parkinson   Foto: Alexsander Ferraz/ AT

Vereador, secretário de Cultura de Santos, deputado estadual, secretário adjunto de Cultura do Estado, vice-presidente da Fundação Casa, secretário adjunto de Desenvolvimento Metropolitano. Os mais de 40 anos na vida pública e os percalços comuns desse caminho deram a Edmur Mesquita o gás que ele talvez precise para enfrentar, agora, um de seus maiores desafios, não profissional, mas pessoal.


Diagnosticado com Parkinson há seis anos, só agora decidiu falar publicamente sobre a doença, um mal que atinge em sua maioria pessoas com mais de 60 anos e afeta o sistema neurológico. Não tem cura.


Edmur diz que nasceu vocacionado para a vida pública, e é com esse sentimento que pretende levantar a bandeira da conscientização sobre a doença, a necessidade de uma política de saúde voltada ao diagnóstico precoce e acesso mais facilitado ao tratamento e terapias.


Mais que isso: trabalhar para que o preconceito que ronda a pessoa com a doença diminua a ponto de não ser um fator excludente da vida social.


Além dos medicamentos, Edmur Mesquita descobriu em uma modalidade esportiva comum a terapia necessária para preservar a agilidade mental, a rapidez dos movimentos, a concentração, reflexos e o foco: o tênis de mesa, praticado três vezes por semana no Clube Saldanha da Gama.


Nesta quarta-feira (9) ele embarca para os Estados Unidos, onde participará do primeiro Campeonato Mundial de Mesa-tenistas com Parkinson, na cidade de Mount Pleasant, em Westchester County, Nova Iorque.


Infarto, cirurgia, igreja


No currículo do ex-deputado não estão apenas desafios políticos, mas dois infartos e uma cirurgia cardíaca para implantar duas safenas e uma mamária.


“Sou muito resistente com essas coisas de saúde, porque já passei por situações muito delicadas”, diz, lembrando do tempo em que viveu no sertão de Goiás, nos idos dos anos 70, quando participava de uma missão da igreja.


E foi em uma incursão no interior goiano que contraiu retocolite ulcerativa, uma inflamação do intestino que não tem cura, fruto de condições sanitárias bem precárias à época.


Poucas pessoas sabem, mas Edmur começou a vida adulta estudando Filosofia e Teologia, com foco em ser padre. Fez votos de castidade, pobreza e obediência. Chegou a ser diácono. Revendo seus propósitos de vida, decidiu fazer Direito e entrar na vida pública.


Notícia de impacto 


Fumante desde jovem, só parou há sete anos, quando fez a cirurgia no Incor. “Mas, de alguma maneira, eu achava que era uma questão de tempo chegar à necessidade dessa cirurgia. De alguma maneira, eu me preparei para isso. A notícia do Parkinson foi, para mim, muito mais impactante. Eu não percebia”, conta. 


Foi Júlia, a esposa, que desconfiou que algo estava errado ao abraçá-lo e perceber que ele tremia. “Não dei muita atenção, achei que poderia ser qualquer outra coisa. Na consulta clínica ao neurologista veio o pré-diagnóstico, depois confirmado com a tomografia.” 


A doença de Parkinson acaba se manifestando só depois que parte significativa das células responsáveis pelo movimento já está comprometida, morta. “Fiquei muito impactado, mas reagi rapidamente e decidi que, como das outras vezes, precisava enfrentar mais esse desafio.” 


Apoio familiar 


Edmur Mesquita afirma ter encontrado na fé e na família o apoio necessário para lidar com a doença. “Pesou também a consciência de que é preciso lutar por uma política pública específica para o Parkinson. Existe um preconceito muito forte, fruto da falta de informação. Por tudo aquilo que já tive de benefício na vida, estou assumindo isso como uma missão: tratar desse tema dentro de uma visão de saúde pública.” 


Na próxima semana, quando retornar do campeonato, Edmur pretende conversar primeiro com a Prefeitura de Santos, na tentativa de criar campanhas específicas. Depois, expandi-las para toda a região. 


“Há um preconceito com quem treme. Muitos acham que a pessoa bebe, que a tremedeira é fruto do álcool. É preciso mudar isso.” 


Política 


Tão certo está de que o Parkinson não vai limitar suas ações, que Edmur Mesquita se prepara para as eleições de 2020. 


Sem partido desde abril do ano passado, quando se desfiliou do PSDB para fazer campanha para o então candidato a governador Marcio França (PSB), Edmur já faz parte da equipe de França para a campanha do vicentino a prefeito de São Paulo. 


Recado 


E que recado Edmur daria a quem foi diagnosticado agora com Parkinson? 


“Que enfrente a vida com esperança, com uma luta interior muito forte. Claro que não é simples, porque você sabe que é uma doença degenerativa, sem cura. Ninguém pode abandonar a possibilidade de resistir, enfrentar, trabalhar normalmente, se associar às pessoas, fazer exercícios e criar a capacidade de superação. Acho que isso é o mais importante de tudo: acreditar que você pode resistir a isso em razão de você mesmo, da sua força interior.” 


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