Preto x Branco: Em campo, uma partida, e nenhuma rivalidade

Embora o tradicional jogo seja disputado, ele dá o recado: nada de racismo

Por: Régis Querino & Da Redação &  -  15/12/19  -  15:55
  Foto: Vanessa Rodrigues/AT

Fim de ano no Morro Nova Cintra é tradição. Quando o assunto é futebol, o papo é reto, é preto no branco. E foi nesse clima que aconteceu sábado (14) à tarde, no campo do Juventude, o XXI Torneio de Futebol Preto x Branco, que reuniu novos e velhos amigos para a pelada anual.


“No começo, ia ser um jogo de solteiros contra casados, mas 20 anos atrás, a maioria era solteiro e a gente decidiu fazer um Branco contra Preto”, conta Francisco Egídio Passos, o Chiquinho, um dos organizadores da tradicional peleja.


Observando a formação das equipes, no entanto, foi fácil constatar que não havia somente brancos em uma equipe e negros na outra. “Tem uns que preferem jogar pro Preto, outros pro Branco. A gente respeita a opção de cada um”, ressalta Rogério Maduro, outro membro da organização.


Mais do que levantar uma bandeira contra o racismo, o evento é a oportunidade para que a comunidade do Morro Nova Cintra receba visitantes da Baixada Santista e até da Capital, em um dia de festa.


“É uma confraternização de final de ano, é Preto contra Branco, mas é só na bola. E racismo zero. Vem pessoal da Baixada e gente de São Paulo. São 300, 400 pessoas, o pessoal da várzea aqui [da Nova Cintra] e gente de Cubatão, São Vicente, Guarujá”, diz Chiquinho.


Jogo pegado


Quando a redonda rola, cada bola é como se fosse um prato de comida. Com fome de vitória, negros e brancos não dão moleza uns aos outros.


“O futebol é pegado, não tem jeito. Se fizer futebol em família tem confusão, porque ninguém quer perder. Mas em 21 anos nunca teve uma briga. No futebol, brigou, normal. É vermelho, tem juiz pra organizar”, decreta Chiquinho.


No histórico dos confrontos, o Preto mantém a ponta. Em 21 edições, foram 12 vitórias da equipe contra 9 do Branco. Sábado, mais um triunfo do time Preto: 2 a 1.


“Teve um ano que empatou e eles dão como vitória deles, do Preto, mas na real foi empate”, contesta Alessandro, em tom de brincadeira.


Disputas à parte, o evento é uma celebração à amizade. “No final é uma festa maravilhosa. Todo mundo se reúne, se abraça, são amigos. Tudo acaba em samba, cerveja, amizade e resenha”, resume Valdir Ferreira Júnior.


Mulher não entra


O tradicional encontro no Morro da Nova Cintra só tem um aspecto, digamos, politicamente incorreto: mulher não entra. Nem para assistir ao jogo e muito menos para participar da festa na quadra do Grêmio Recreativo Cultural e Escola de Samba Unidos dos Morros, regada a muito samba e cerveja. “Nós fazemos três festas no ano. Duas delas são familiares e essa doPreto x Branco é só pra rapaziada”, diz, gargalhando, Valdir Ferreira Júnior.


Chiquinho, Valdir e Rogério, três dos organizadores do Preto x Branco, que virou tradicional ponto de encontro de boleiros da Baixada
Chiquinho, Valdir e Rogério, três dos organizadores do Preto x Branco, que virou tradicional ponto de encontro de boleiros da Baixada   Foto: Vanessa Rodrigues/AT

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