Filhas de pais chineses, irmãs de Santos são revelação no xadrez

Com 10 e 7 anos, de origem chinesa, Sophia e Elisa foram descobertas nas aulas da modalidade do Colégio Cidade de Santos

Por: Régis Querino  -  16/12/19  -  15:43
  Foto: Matheus Tagé

A feição oriental pode até enganar, mas as irmãs Sophia e Elisa Feng são brasileiríssimas. Filhas de pais chineses e nascidas em Santos,elas são as revelações do xadrez santista. O talento das duas no tabuleiro foi descoberto nas aulas ministradas pelo professor Wlamir Pestana Ursini, no Colégio Cidade de Santos, no Embaré.


Sophia, a mais velha, de 10 anos, começou a jogar há dois anos, e, desde 2018, vem se destacando em campeonatos. Incentivada pela irmã, a caçula Elisa, 7, também pegou gosto pelo jogo e demonstra a mesma aptidão para dar xeque-mate nos adversários.


"O talento delas é fora de série, diferenciado, junta concentração e memorização. Gostam de fazer tudo correto, escutam o que a gente fala. A menor é mais criativa, a mais velha é mais certinha em tudo o que faz", constata Ursini, que dá aulas de xadrez há quase 20 anos.


Referências


Sophia conta que, no início, a mãe não a deixou fazer as aulas, mas depois que a liberou, ela mergulhou no jogo. Adora assistir grandes mestres internacionais. "Eu treino com eles no celular, em vídeo", diz Sophia, fã do mestre brasileiro Evandro Barbosa e da campeã mundial, a chinesa Hou Yifan.


A desenvoltura no linguajar da mais velha contrasta com uma certa timidez da mais nova. Elisa mais observa do que fala, enquanto a Reportagem conversa com as duas na biblioteca da escola, onde elas estudam e se aperfeiçoam no xadrez.


A matéria que elas mais gostam, não à toa, é matemática, que tem conexão direta com o jogo. Quando as duas se enfrentam, Sophia não dá moleza à caçula. "A maioria das vezes eu ganho, às vezes ela pede pra voltar alguns lances, aí eu deixo", conta Sophia, que finalizou o quarto ano e foi vice-campeã estadual em outubro.


"Comecei a jogar este ano por causa da minha irmã, que me ensinou. Gosto de jogar com ou sem relógio", diz Elisa, que terminou o primeiro ano, já se acostumou a vencer jogadores mais velhos e foi campeã paulista em outubro.


Sem essa de China


A descendência chinesa não empolga as meninas a conhecer o país de origem de seus pais. "A gente não lê nem fala chinês, só entendemos (o que os pais dizem). Ir pra lá seria uma dificuldade pra falar, demora pra chegar, depois têm que voltar...", resume Sophia. "É muito difícil aprender chinês", constata Elisa.


Música e programas


Do gigante asiático, às vezes elas ouvem músicas e assistem a um programa onde os candidatos têm que memorizar números que passam rapidamente na tela e fazer as contas de cabeça. "É um programa extraordinário, são números altos, 10, 12 números", explica Sophia.


Sonhando em disputar o Campeonato Brasileiro em 2020, as irmãs inspiram outras crianças a se aventurar no tabuleiro na escola.


"A Sophia ajuda a ensinar a molecadinha. A Elisa ganha de todos do ensino fundamental 2. Elas têm um caminho legal pela frente", aponta Wlamir.


Benefícios do projeto vão além do esporte


Professor da rede municipal no Ensino Fundamental 1 (do primeiro ao quinto anos), Wlamir diz que o projeto Xadrez nas Escolas, da Secretaria de Educação, vem formando campeões ao longo dos anos. E os ganhos vão além do esporte, pois o xadrez ajuda o aluno a se desenvolver nas matérias curriculares.


"Ajuda na memorização, raciocínio lógico e disciplina. O xadrez é bom porque dá pra todos, você pode respeitar o ritmo de cada um, não importa a idade. Até pra crianças especiais. Aliás, foi com eles que comecei a dar aulas", diz Ursini.


Vertentes


O projeto desenvolvido nas escolas tem duas vertentes: o xadrez escolar e ode competição. "O básico que é dado no xadrez escolar é mais mate em dois, três lances. O de competição requer muito estudo, são mais de 200 aberturas, cada uma com suas ramificações", compara o professor, que, este ano, teve 48 alunos no Cidade de Santos.


Wlamir tem ainda uma ONG, a Caminhos do Sol, onde ele também dá aulas gratuitas de xadrez. E já revelou 10 campeões brasileiros, oriundos de escolas particulares.


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