Deivid explica 'onda cruzeirense' na Turquia, fala de projeto de base e crava Flamengo campeão

Ex-atacante com passagens expressivas por Santos, Corinthians, Flamengo, Cruzeiro e Fenerbahçe, ele hoje atua como gestor e desempenha um trabalho de formação de atletas no Jabaquara

Por: Nathalia Perez & De A Tribuna On-line &  -  15/10/19  -  12:44
  Foto: Nathalia Perez/AT

Os quase 17 anos de carreira dentro das quatro linhas renderam ao atacante fluminense Deivid títulos variados, um caminhão de gols marcados, histórias internacionais e um vínculo com a cidade de Santos que perdura até hoje. Ex-atacante com passagens expressivas pelo Peixe, Corinthians, Flamengo, Cruzeiro e Fenerbahçe, ele hoje atua como gestor e tem sua própria empresa, a Deivid Sports, que cuida das categorias sub-11, 13, 15 e 17 do Jabaquara.


Em entrevista à Tribuna On-Line, o ex-jogador abriu o jogo sobre o estigma que o persegue desde 2012, quando perdeu uma oportunidade com o gol aberto, pelo Flamengo, na decisão da Taça Guanabara, contra o Vasco. Além de revisitar sua trajetória em campo, comentou sobre seus planos na formação de garotos no Jabuca e sobre assumir o futebol profissional do clube.


Confira a entrevista completa com Deivid:


Quando foi que sua empresa assumiu a base do Jabaquara? Quais são seus planos para esses garotos? Como você atua no clube? E como é o trabalho de captação de atletas?


D: Assumimos a base do Jabaquara em fevereiro. Sempre foi um objetivo trabalhar com futebol, poder realizar sonhos, poder revelar. É um trabalho de longo prazo, que leva tempo, paciência. Hoje nós temos três, quatro profissionais para fazer captação de jogadores em peneira, escolinhas, projetos. Não só aqui em Santos, mas também em Aracajú, no Espírito Santo e no interior de São Paulo. A ideia é poder colocar as categorias que pegamos para fazer gestão no melhor patamar possível. Pretendemos ter mais captadores em outros lugares, para que possamos bater de igual para igual com time grande. O perfil que a gente está trabalhando é em cima do menino que já tem uma base.


Há pouco tempo, você deu uma entrevista falando que pretendia tomar conta do futebol profissional do Jabaquara. A que pé está isso? 


D: A gente tem a ideia de assumir o profissional, mas, para esse momento, não é viável. O custo é maior. Nossa ideia é, primeiro, organizar a base, do sub-11 ao sub-20, e depois poder pegar o profissional com mais estrutura e fazer um trabalho de quatro anos para você subir para a primeira divisão. Então, tem que ser um trabalho 'pente fino', bem estruturado, para que no meio do processo, não possa dar errado. Você pega um profissional, o campeonato começa em março, abril, e termina em novembro. Então, você já tem que pegar o seu gerente, o seu diretor e o seu treinador e começar a ver jogos daquela divisão. Precisamos escolher os melhores para fazer um time forte visando o acesso. Isso requer verba e tempo para que possamos fazer um profissional qualificado.


Depois que você parou de jogar, você chegou a fazer algum curso de gestão do futebol, se especializou, ou usou apenas seus conhecimentos de campo para fazer este trabalho que faz hoje?


D: Fiz um curso na BFC. fiz gestão, marketing, curso de futebol, preparação física. Fiz ele completo. Então, a gente está sempre aprimorando, sempre em busca. É muito importante. Da forma como eu estou trabalhando e como eu quero trabalhar, você tem que estar fazendo ou procurando fazer curso de gestão para estar sempre colocando coisas novas. Claro que a prática é uma escola, mas a teoria te ajuda muito.


Vocês pensam em um dia introduzir o futebol feminino às categorias de base do Jabaquara?


D: Nossa ideia é começar a colocar futebol feminino no Jabaquara. Mas tem que ser no seu tempo, onde a perna alcança. Não adianta a gente fazer um negócio até o meio do caminho. Então, depois que organizar o clube todo, a gente pensa em organizar o futebol feminino.


Você considera que o Luxemburgo foi seu melhor técnico?


D: Eu não. Todo mundo que trabalhou com ele fala que o seu Vanderlei foi o melhor treinador que já tivemos. Foi o melhor técnico que tive na minha carreira. Pela visão de jogo, a forma como ele extraía de você, tirava o seu melhor. O cara pensava à frente. Tudo que está acontecendo hoje, há 20 anos, ele já falava e já fazia. É um cara muito diferente.


A temporada que você conquistou a Tríplice Coroa com o Cruzeiro, em 2003, foi a melhor da sua carreira?


D: O melhor período foi entre 2002 e 2004. Foram três anos consecutivos que cheguei na final do Campeonato Brasileiro, ganhando duas e perdendo uma.


E seu melhor momento, qual foi?


D: O momento que eu fiz quatro gols em pleno Mineirão, nas quartas de final do Campeonato Brasileiro, contra o Atlético Mineiro. Eu jogava pelo Corinthians.


Uma curiosidade: por que vários jogadores daquele time de 2003 do Cruzeiro foram jogar na Turquia?


D: Olha, foi uma coincidência, porque eu saí do Cruzeiro e fui para o Bordeaux. Do Bordeaux, eu voltei para o Santos e fui para Portugal. Nesse meio tempo aí, o Alex já tinha ido, em 2004, para o Fenerbahçe, junto com o Márcio Nobre. Aí foi o Fábio Luciano. Depois, em 2006, eu fui para lá. Além de um pedido do Zico, o Alex falou com o presidente que já tinha jogado comigo e gostaria de jogar de novo. Eu e o Edu Dracena fomos juntos. Aí depois foi o Maldonado. Mas foi uma coincidência.


Você falou que quando te perguntam para qual time você torce, responde que é para o Fenerbahçe. Costuma acompanhar os jogos da equipe? Tem um carinho especial pelos turcos ainda?


D: Tenho, muito grande. Foi um momento muito bom que eu passei dentro do clube. Chegamos às quartas de final da Champions League, é o maior time da história do clube, eu estou entre os 10 maiores jogadores do clube, no melhor time, fiz os gols do clube na Champions League. Se não me engano, fui vice-artilheiro ou fiquei como terceiro nesse ano. Também fiz o gol do ano centenário, fomos campeões. Então, marcou muito.


Pensa em um dia atuar como gestor de futebol na Turquia ou em algum outro país europeu? 


D: Ainda sou muito novo. Vou fazer 40 anos daqui alguns dias. O futuro a Deus pertence. Estou aqui agora com o projeto no Jabaquara, estou focado neste projeto. Vamos ver. Vamos ver o que espera a gente lá para frente.


Você fica chateado de ser lembrado por um gol perdido em meio a tantos que você marcou?


D: Não fico. Isso é cultural. No Brasil, a gente lembra do que você fez de ruim, e não de bom. Através desse gol, as pessoas esquecem que eu fiz 21 gols no ano, e que fui artilheiro do time. Tem um cara que sou muito amigo, que eu acho que foi um fenômeno, mas as pessoas lembram o pênalti que ele perdeu em 1982, que foi o Zico. Eu já vejo as coisas boas que ele fez. Então, isso é cultural. Isso não mexe comigo, não.


Quem será campeão brasileiro este ano?


D: O Flamengo. O que vier por baixo, está no lucro. O Flamengo é o campeão brasileiro. Não tem como, tem os melhores jogadores do País. Não tem como competir. O certo era Flamengo e Palmeiras brigarem pelo investimento que fizeram no futebol, pelos jogadores que têm no elenco. Mas a gente sabe que o futebol não é só assim, é você saber fazer. Então, Flamengo, porque está disparado, e vai ficar entre Palmeiras e Santos para quem vai ficar em segundo.


Você acha que este elenco do Santos é subestimado? Alguns dizem que o Sampaoli tira "leite de pedra" com esses jogadores, por ser um elenco inferior. Concorda?


D: Não é inferior. O time do Santos é um time bom. É que o Flamengo está em outro patamar. Não é que o Sampaoli está fazendo milagre. Ele é um bom treinador. Ele tem jogadores de qualidade na mão e você vê que o time dele tem padrão, que tem um comportamento tático, que é um time bem treinado. Mas é que o Flamengo está mesmo em outro patamar. Difícil tirar esse título do Flamengo.


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