Thiago Andrade é o 15º candidato a prefeito de Santos entrevistado por A Tribuna

O combate à desigualdade social é o principal objetivo do governo, se for eleito

Por: Da Redação  -  30/10/20  -  12:10
Candidato pelo PCdoB conta por que concorre à vaga de chefe do Executivo de Santos
Candidato pelo PCdoB conta por que concorre à vaga de chefe do Executivo de Santos   Foto: Vanessa Rodrigues/AT

Thiago Andrade (PCdoB) é o 15º candidato a prefeito de Santos entrevistado por A Tribuna. O combate à desigualdade social é o principal objetivo do governo, se for eleito. Uma de suas ideias é instalar um centro de qualificação profissional na Zona Noroeste. O comunista pretende fortalecer o Programa de Saúde da Família para desafogar o sistema hospitalar da Cidade. Ele defende ainda uma política de valorização dos professores e uma nova roupagem para a escola em tempo integral.


Se o senhor for eleito, qual será a prioridade do mandato?


A minha prioridade é mitigar a desigualdade social em Santos e enfrentá-la com mais determinação por meio da geração de emprego e renda, absorvendo os talentos que se formam na Cidade.


Como a Prefeitura pode contribuir na hora de enfrentar a desigualdade social?


A primeira coisa é conseguir atrair investimentos. Eu sou de um partido de esquerda e as pessoas esperam da gente muito radicalismo, mas a gente precisa de um choque de mercado, um choque de concorrência para atrair mais investimentos, em especial do setor retroportuário. A Prefeitura pode estimular a geração de empregos de qualidade. A minha geração está condenada a ser motorista ou entregador de aplicativo. São profissões dignas e as pessoas batalham bastante para levar o pão de cada dia para casa, mas a Cidade pode estimular a geração de empregos qualificados. Podemos estimular a instalação de novas empresas. A região retroportuária precisa ser um parque tecnológico e industrial capaz de gerar essa nova demanda.


Essas empresas seriam instaladas em quais regiões da Cidade?


A nossa ideia é atrair mais empresas para a região central do Município. Ela tem quase 580 prédios abandonados e que estão sendo utilizados para a especulação imobiliária, o que contribuiu para a degradação dessa região. Queremos adotar a política de IPTU Progressivo, para que tenhamos a preocupação ordenada do Centro e empresas simples sejam instaladas. Eu sempre tenho dito isso: Santos possui três moinhos de trigo, mas não tem nenhuma fábrica de pão ou de macarrão. A riqueza passa por aqui, vai embora e volta como um produto muito caro para a população. Esse parque industrial diversificado poderia receber empresas para a fabricação de eletrônicos e insumos hospitalares, por exemplo. 


Uma de suas ideias citadas no plano de governo é a criação do Centro de Qualificação Profissional, de Fomento e Inserção para Trabalho e Renda. Que tipo de cursos ele deverá ofertar?


A nossa ideia é que ele seja instalado na Zona Noroeste, pois está atrelado a esse objetivo de enfrentar a desigualdade social. O nome do nosso plano de governo é Uma Só Santos. Temos uma cidade partida em duas. A Zona Noroeste não tem agência bancária, cartório e escola técnica. A nossa ideia é criar esse centro de qualificação profissional para os jovens mais carentes e oferecer cursos básicos, técnicos e tecnológicos. Tudo para que eles possam ser inseridos no mercado de trabalho. 


No plano de governo, o candidato fala em liderar um consórcio industrial metropolitano. Como surgiu essa ideia?


Quando a gente elaborou o plano de governo, a ideia principal era saber quais são as soluções metropolitanas para a geração de emprego e renda. Santos, de uma certa forma, é a capital da região, e recebe as demandas de emprego, de vagas de hospital e de transporte. O prefeito de Santos precisa liderar esse novo pacto pela geração de emprego e renda na região. O mais importante é liderar um pacto político para integrar a Baixada Santista e enfrentar os diversos problemas.


Além da instalação de novas empresas, a ideia é que a região central de Santos receba mais moradias?


Sim. Nossa proposta é unir essa questão do comércio e da prestação de serviços com moradias. Podemos resgatar parte desses imóveis e utilizá-los para a habitação. Santos tem um deficit habitacional atinge 26 mil pessoas e é de quase 11 mil moradias. O Centro pode abrigá-las. Poderíamos utilizar essa faixa dos armazéns do 1 a 8, na região do Valongo, para a instalação de moradias em parceria com a iniciativa privada. O maior problema habitacional está no Dique da Vila Gilda. Nossa ideia é urbanizar aquela região e não removê-las de lá. O maior projeto habitacional de Santos fica em São Vicente. Como você pode tirar milhares de famílias para uma outra cidade, prejudicando aqueles que têm um pequeno negócio, as relações familiares e o envolvimento deles com times de futebol local e associações? Precisamos fazer a recuperação ambiental e garantir o saneamento ambiental às famílias.


Se eleito, o senhor pretende manter as organizações sociais (OSs) na saúde e utilizá-las em outras áreas?


Vamos reavaliar os contratos com as OSs. Sou usuário do SUS. Não tenho plano de saúde. O santista sabe que o atendimento realizado pelas UPAs deixa a desejar. Vamos abrir os termos de contrato para quem usa o serviço público. Não temos nada contra as OSs ajudarem a gerir o governo. O problema é que o serviço prestado está muito aquém do que a Cidade precisa. Falta um melhor acompanhamento e uma fiscalização mais efetiva desses contratos. A Saúde é prioridade para a gente e vários profissionais da saúde ajudaram a construir o nosso plano, como o médico infectologista e ex-vereador Evaldo Stanislau. A ideia é retomar com muita força o Programa de Saúde da Família para desafogar o sistema hospitalar. Também defendemos o incremento tecnológico para agendamento de consultas e exames, que é um gargalo importante.


Como melhorar a formação continuada dos professores e valorizá-los?


A coisa mais importante é a valorização desse profissional. Vamos ter uma política de diálogo permanente com os educadores, que têm trabalhado de forma heroica durante a pandemia de covid-19, em especial as mulheres, que estão tendo jornada tripla ou quádrupla. É preciso haver uma política de valorização real dos professores, como ocorre no Maranhão, o estado mais pobre do Brasil. O governo de lá montou um plano para os alunos terem escolas dignas e o professor maranhense recebe hoje o maior salário do Brasil. A ideia é transformar o professor no servidor mais valorizado da Prefeitura. Vamos retomar o projeto de escola em tempo integral. A experiência do Escola Total adotada nos governos anteriores foi muito positiva e precisa ter uma nova roupagem para esse período pós-pandemia, inclusive com o uso de tecnologia. Santos já possui alguns programas de formação continuada do professor e pretendemos estabelecer uma parceria com as universidades para ampliar essa formação. 


Uma das suas propostas é garantir o passe livre a estudantes, idosos a partir de 60 anos, crianças e adolescentes. Como isso será possível sem onerar a tarifa atual?


Sim, já existem experiências vitoriosas no Brasil. O transporte público é um direito do cidadão. Isso é muito forte para a gente. A tarifa de Santos é uma das mais caras do País e o transporte público é ruim. Queremos reavaliar o contrato com a concessionária, garantir a gratuidade aos idosos a partir dos 60 anos, como está garantido no Estatuto do Idoso. Essa gratuidade para os estudantes é importante para que eles conheçam a Cidade. A Educação vai muito além dos muros da escola. A vivência na Cidade e nos equipamentos culturais são importantes. Vamos reavaliar o valor da tarifa, que é muito alto, quase extorsivo.


Como o senhor pretende lidar com a questão dos moradores em situação de rua?


O número de pessoas em situação de rua tem crescido e isso é reflexo do aumento da desigualdade social. A Santos que gera oportunidades e a Santos que cuida das pessoas. Quanto mais oportunidades forem geradas, menos pessoas estarão nessas condições. As pessoas estão sofrendo nas ruas. Não compartilhamos com a ideia que elas estão lá por quererem ou por serem vagabundas, como alguns dizem por aí. É preciso um híbrido de ações, envolvendo assistência social, atendimento psicossocial e segurança pública preventiva e comunitária.


O senhor criaria ou extinguiria alguma secretaria municipal?


Santos precisa da Secretaria Municipal de Habitação para pensar o planejamento urbano e o projeto habitacional da Cidade. Isso é uma prioridade, mas sem extinguir a Cohab Santista. Ainda precisaremos avaliar a situação fiscal e do custo da máquina para fazer outras mudanças. 


Quais são os seus planos para as empresas municipais, como CET-Santos, Cohab Santista e Prodesan?


Vamos valorizar e requalificar essas empresas. Nos últimos dez anos, ganhou novamente força o discurso que a empresa pública é muito ruim e que o privado é a melhor solução. A Prodesan tem uma dívida milionária. A Cohab Santista já não tem mais papel, porque não faz mais casas. E a CET-Santos acabou virando um espaço de negociação política. Vamos verificar a dívida delas, como ela foram contraída e como equacioná-la. Sobre a CET, vamos colocá-la efetivamente na engenharia do tráfego, pois o trânsito da Cidade é caótico. Vamos construir uma transição para que a Cohab possa se fundir na Secretaria Municipal de Habitação. A ideia não é liquidá-las.


Como melhorar a zeladoria da Cidade?


Precisamos ter zeladoria na cidade inteira. Temos uma boa zeladoria nas zonas Intermediária e da Orla, mas isso fica esquecido na Zona Noroeste e nos morros. Queremos criar frentes de trabalho nas regiões mais carentes para garantir às pessoas acesso a uma cidade bonita e agradável para viver. A qualidade de vida precisa chegar para todo mundo. A zeladoria não tem a ver apenas com a beleza, mas com segurança das pessoas. As áreas de risco precisam ser alvo de zeladoria constante para evitar deslizamentos e tragédias.


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