Reativação do turismo anima sindicatos que preveem oportunidades em Santos

Com cinco semanas seguidas de turistas e consumo local, a expectativa é de contratações e resultados positivos até o fim do ano

Por: Rafael Henrique  -  10/10/20  -  19:00
Fluxo de pessoas nos comércios e serviços gerais aumentaram desde a reabertura
Fluxo de pessoas nos comércios e serviços gerais aumentaram desde a reabertura   Foto: Matheus Tagé/AT

Os últimos fins de semana na Baixada Santista tem contado com um fenômeno, ainda que em tempo de isolamento social: As praias, restaurantes, bares e locais públicos estão cheios. Por onde o santista caminha tem sempre muita gente em volta, mesmo nos dias de semana, cenário diferente dos últimos dois meses.


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Mesmo com o desemprego afetando aproximadamente 13 mil pessoas, o momento é de otimismo por parte dos sindicatos de serviços de Santos. O presidente do Sindicato dos Hotéis, Restaurantes e Bares (SinHoRes), Heitor Gonzalez, afirma que desde a reabertura os resultados têm surpreendido todos os empresários da região.


Ele conta que o setor, nos últimos 15 dias, teve pelo menos 40% de ocupação nos restaurantes e 60% nos hotéis. Mesmo não sendo a ocupação total, o faturamento dessas empresas foi semelhante em comparação ao mesmo período no ano passado.


Pode soar estranho, mas ele explica que o Governo do Estado, no começo de agosto, fez uma pesquisa sobre o que aconteceria com o estado de São Paulo com a reabertura de hotéis, restaurantes e serviços em geral. O estudo chegou a conclusão que Baixada Santista e o interior do estado seriam contemplados com maiores procuras.


“São chamados de turismo à curta distância, aqueles locais que você faz uma viagem de duas horas, é a escolha do momento. As pessoas querem pegar o carro com a família e vir para cá ou para o interior. Então o avião e ônibus foram esquecidos. As pessoas, às vezes, fazem apenas um bate e volta ou ficam pouco tempo, mas acabam mesmo vindo. As últimas quatro semanas foram excelentes e está parecendo que esse fim de semana vai ser bom também”, conta o presidente do sindicato.


Heitor revela também que o turismo será forte e irá comandar a economia do estado e da cidade. Em um ano normal as pessoas teriam viajado no feriado de 7 de setembro para outros estados ou para fora do país, por isso houve essa alta concentração na cidade, a Baixada Santista, em geral sai ganhando, porque o dinheiro acaba circulando mais e gerando emprego.


“O desafio da prefeitura em 2021 é que a pandemia trouxe muitos prejuízos, o próximo prefeito precisa entender rapidamente que muitas coisas mudaram. A prefeitura precisa proporcionar que certos negócios rodem rapidamente, que a burocracia não atrapalhe os negócios que estão nascendo. Haverá uma mudança de comportamento enorme”, completa.


Diferença entre retomada e recuperação


Fernando Chagas - economista e especialista em finanças públicas - enxerga o momento com otimismo, mas entende que há muito a ser feito nas esferas públicas para que haja essa transformação de efetivo. Com a reabertura, a retomada fatalmente iria acontecer, as pessoas acabam poupando e consumindo menos. O auxílio emergencial acaba também por impulsionar o consumo dos santistas e da região.


“A surpresa é que as pessoas estão saindo para comprar não só bens mas também serviços. Eu esperava que, por temor, demoraria mais para as pessoas irem para restaurantes, mas essa ansiedade de voltar ao normal dá um impulso na retomada. No entanto, esse quadro diz respeito à retomada, já a recuperação acredito que vai ser difícil se sustentar. O que está garantindo essa retomada é o auxílio emergencial, caso ele não se torne uma renda básica ou permanente, a economia não vai se sustentar. Se entrar 2021 sem essas medidas, podemos ter uma queda acentuada", afirma o economista.


Com todas as mudanças que o isolamento trouxe, como pro exemplo o home office, Fernando acredita que a recuperação do emprego formal não será tão fácil. “Teríamos um fenômeno em 4, 5 anos que foi acelerado em 4, 5 meses e dificilmente as empresas vão ter a mesma estrutura pré pandemia, já que o home office funcionou. Agora se vai garantir a empresa, do jeito que ela pensa, difícil, porque até gera lucro, mas tem problemas de rendimento do trabalhador que cai com o tempo, seja por estar próximo à família, acaba dispersando a atenção e vai acabar atrapalhando a recuperação do emprego. Lá na frente eles vão ver que o home office é complementar, mas não estrutural”, conclui o economista.


Adaptações em tempos de pandemia


Toninho Pires, presidente do Sindicato das Indústrias de Panificação, explica que com o fechamento das copas, as padarias tiveram que se adaptar à uma nova realidade. A queda no setor foi de 40%, sendo que algumas padarias chegaram a 80%. Isso refletiu em um desemprego girando em torno de 15%, concentrado em padarias que tiveram uma queda maior no faturamento.


“Balcão de copa foram suspenso e agora estamos voltando à normalidade e parte da queda já recuperamos. Durante esse período as padarias se adaptaram desenvolvendo canal de delivery. Então o empresário até voltou a contratar mas de forma tímida, porque estão esperando mais um pouco para ver como vai ficar. Fora isso temos a questão que no fim de ano os gastos aumentam. Alguns preferiram postergar férias, décimo terceiro salário e FGTS e no final do ano sempre há esses custos maiores”. diz Toninho.


Nitidamente há uma retomada, mas a recuperação costuma ser de forma lenta. O primeiro impacto que mostra isso é a quantidade de empreendedores novos que estão aparecendo na cidade. Principalmente no setor de alimentação. Esse novo cenário, conta o presidente do sindicato, trará uma concorrência desleal aos empresários.


“Neste momento muitas pessoas começaram a desenvolver atividades como forma de subsistência. O cara abre uma porta e vende almoço, faz pão. Está se virando e a gente entende isso. Mas a próxima gestão terá esse desafio de um cenário que já existia mesmo antes da pandemia, mas agora está completamente diferente. Precisa haver uma educação num primeiro momento para esse empreendedor de forma para que quem está começando possa se adequar e não seja prejudicado”. finaliza Toninho.


A pandemia fez com que as pessoas se reinventasse e se adaptassem às mudanças abruptas que aconteceram nos últimos meses. A pedagoga Mariana Medeiros, 28 anos e o seu marido Robson Lima, 29 anos, taxista, abriram juntos um empreendimento de linguiça artesanal recheada. Ela estava sem trabalhar desde o começo do ano, enquanto ele sofreu os impactos diretos da pandemia. 


O casal conta que tinha uma reserva guardada e decidiu investir em maquinários básicos e iniciar o negócio. “Quando começou o isolamento social, meu marido não podia mais trabalhar. Um dia tivemos essa ideia e decidimos arriscar. Começamos em junho e a princípio tivemos receio pelo contato com as pessoas, mas tomamos todos os cuidados desde a preparação até a hora da entrega. Mesmo depois da pandemia pretendemos continuar e tentar crescer para vender mais”, finaliza Mariana.


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