Quem nasceu e se criou na cidade faz o percurso todo “de cabeça”. O primeiro ponto é a Praça Tom Jobim, no Gonzaguinha, ao lado da Ponte Pênsil. Com o tradicional Marco Padrão – símbolo lembrado anualmente na encenação da fundação da cidade – e o monumento Eu Amo São Vicente inaugurado em 2017, o local segue nas mesmas configurações, sem agregar novas opções culturais.
Atravessando para a Praça 22 de Janeiro, é possível encontrar a Biquinha de Anchieta, e os tradicionais quiosques de doces, reformados em 2018, com verba de R$ 490 mil. À frente, ainda na Praça, está o Espaço Multicultural 22 de Janeiro, completando nesta quarta-feira (30) um ano de reinauguração. O local abrigaria oficinas de artes, esportes e até idiomas. Os planos, no entanto, foram interrompidos pela pandemia.
Logo em frente, a Casa Martim Afonso, museu que leva o nome do fundador da São Vicente e conta a história da vila com artefatos e quadros. No mesmo complexo fica o Sítio Arqueológico Bacharel, com uma parede do século 16, cerâmica tupi e vestígios de sambaqui que datam de 2 a 3 mil anos.
Seguindo pela Rua Padre Manoel, na Praça João Pessoa, fica o Parque Cultural Vila de São Vicente, inaugurado em 2001 e reformada em 2019, reproduzindo de modo cênico o início da sociedade vicentina.
De iniciativa privada, há ainda o Instituto Histórico e Geográfico de São Vicente, próximo ao Paço Municipal, localizado no antigo casarão do alemão Gustav Kurt von Pritzelwitz, que habitou a mansão na primeira metade do século 20. Atualmente, o andar térreo funciona como museu e as salas com entrada subterrânea recebem cursos particulares de idiomas e música.
Fato é que, na área mais antiga da cidade, nove quadras (3 quilômetros quadrados) concentram os equipamentos, que podem ser todos visitados na mesma tarde.
Horto Municipal
No bairro Vila Voturuá há o Parque Ecológico Voturuá, com mais de 60 anos. Revitalizado em 2012, o local abriga leões, hipopótamos, aves e répteis, além de um pequeno parque com brinquedos para crianças.
A reforma agregou a Casa da Cultura Afro-Brasileira, entregue em 13 de maio, aniversário da Lei Áurea, que ordenava a libertação dos escravos. No memorial, pode-se conferir peças de arte retratando o período da escravidão e as fases vivenciadas no período Brasil Colônia.
Humaitá
Em 2019, os vicentinos ganharam o primeiro equipamento localizado na Área Continental: a Estação Cidadania Cultura. A parte externa oferece quadra poliesportiva coberta, pistas de skate e caminhada, playground e equipamentos de ginástica.
Uma edificação abriga a biblioteca, com mais de 2.500 títulos, incluindo livros adaptados para deficientes visuais. Há também um tele centro com computadores, para uso cotidiano e cursos de capacitação. O local possui, ainda, um cineteatro com 60 lugares, equipamentos de som, iluminação e cabine técnica para realizar peças de teatro e sessões de cinema gratuitas.
Cultura só vem depois de muita luta
Músico e membro do Movimento Amplo Cultural São Vicente (MAC SV), Rogério Baraquet acompanha - e defende – de perto as necessidades de investimento nessa pasta do município. “A verba existe, ela só é aproveitada da forma errada”.
Contrário às proporções da tradicional Encenação, o vicentino aposta numa redistribuição recursos para outras áreas da Cultura na cidade, principalmente o nicho de oficinas e equipamentos. “O espaço do Humaitá quase não saiu. O projeto começou errado, era falho.. Depois arrumaram. É uma vergonha que um pedaço tão grande da cidade esteja esquecido, tanto pela Cultura, quanto Saúde... Em todos os aspectos”.
Ainda sobre o investimento dos últimos governos, o artista lembra do “teatro” levantado de qualquer forma há alguns anos no Parque Bitaru. “Não houve estudo. Lá era área de mangue, enchia. Pelo menos agora aproveitaram a estrutura para a nova rodoviária. Mas é isso que fazem com o dinheiro da cultura: desperdiçam”.
Ativo no cenário municipal, Baraquet cita emendas recebidas pela cidade já a tempo de expirar. “Vereadores e deputados encaminham montantes a São Vicente, que ficam na mesa para ser assinados e nunca são. Estamos a poucos dias de perder mais algumas oportunidades para a Cultura. Falta o chefe da pasta cobrar um pouco mais o Executivo”.
Em função da pandemia, o Governo criou este ano a Lei Aldir Blanc, que visa dirigir verba emergencial à classe artística, com trabalhos paralisados durante a quarentena. Mais uma chance, segundo o músico, que a cidade desperdiça. “Eu abri mão de ter acesso, justamente pra poder estar isento e garantir que chegue a quem tem urgência, mas não dá para fazer nada sozinho. Dependemos da boa vontade de quem comanda”.
Para o futuro governo, a expectativa é na transversalidade: trabalhos alinhados entre Cultura, Educação, Esporte, Turismo e Meio Ambiente, que otimizem ações e atuem de forma inteligente. “Cultura está em tudo. É o que você vive, é o que você fala. Não tem como separar de todo o resto. E, se hierarquizados, acaba ficando esquecido. Mas não é possível que não possamos realizar juntos”.
Serviço
Marco Padrão e Monumento Eu Amo São Vicente - Av. Embaixador Pedro de Toledo, s/n, Gonzaguinha
Biquinha de Anchieta – Praça 22 de Janeiro, Gonzaguinha
Espaço Multicultural 22 de Janeiro - Praça 22 de Janeiro, s/n, Gonzaguinha
Casa Martim Afonso - R. Padre Manoel, 469 – Centro
Parque Cultural Vila de São Vicente – Praça João Pessoa, s/n – Centro
Instituto Histórico e Geográfico de São Vicente - R. Frei Gaspar, 280 – Centro
Parque Ecológico Voturuá – Av. Dona Anita Costa, s/n - Vila Voturuá
Estação Cidadania Cultura - Rua Nivaldo Leite da Silva, s/n, Humaitá