Dever do voto mobiliza quem deixou a Baixada Santista a comparecer ao pleito

Mudança de endereço não é motivo para transferir título ou deixar de votar

Por: Isabel Franson  -  01/10/20  -  12:01
Mudança de cidade não é motivo para transferir título ou deixar de votar
Mudança de cidade não é motivo para transferir título ou deixar de votar   Foto: Arquivo Pessoal

Já está programado. No dia dia 15 de novembro, o arquiteto Vinicius Neves Gonçalves tem compromisso consigo mesmo e com São Vicente, cidade onde nasceu. Há três anos morando na capital, o jovem ainda não transferiu o título, nem pretende fazê-lo. Porque, para ele, votar na cidade de origem é mais que obrigação. O que ele sente é orgulho em participar.


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“Como fui criado em São Vicente, acho importante ver a evolução da cidade. E logicamente ela só cresce a partir do trabalho dos políticos que elegemos. Mesmo não morando lá atualmente, eu tenho esse apego, essa vontade de ver São Vicente crescer”, conta.


Apesar da carreira na capital, Vinicius ainda não pensa em transferir o título para não perder o vínculo com as origens. “Meu colégio eleitoral é o mesmo, até hoje. Ainda tenho familiares, amigos em São Vicente. Faço minha parte para garantir que vivam numa boa cidade”.


Almoço em família


Também vicentina, a contadora Celma Gomes de Sousa Rasini subiu a serra há mais de duas décadas com o marido Carlos Alberto Rasini, de Praia Grande. Com filho de 18 anos, eles moram atualmente em Pirituba, grande São Paulo.


Domingo de eleições, pra ela, é dia de ver a família. Almoço na casa dos pais, encontro com os irmãos e voto, todos juntos, no colégio Yolanda Conte, na Náutica, em São Vicente. “Meu pai, com 73, e minha mãe, com 71, ainda votam. Sempre fomos juntos. Esse ano, pela divisão de horário, já não sei. Mas tenho certeza de que eles vão querer exercer o dever”.


Politizada, ela não se contenta apenas com o próprio confirma nas urnas. “Fiz meu filho tirar o título na Baixada e meu marido transferir. São votos a mais em São Vicente”, brinca.


O dia do pleito, além de ver a família, é oportunidade para fazer a diferença na cidade natal. “Nunca quis transferir meu título. O direito do voto é minha chance de melhorar um pouco os bairros mais periféricos, fazer a nossa parte pela política local”.


Burocracia impede o voto


O servidor público Pedro de Souza Melo, 27 anos, deixou Santos há nove anos, sempre para endereços longes o suficiente para colocar em risco sua obrigação cidadã.


Primeiro, morou em Brasília (DF), onde eleições municipais não acontecem. À época, quando possível, encarava a estrada para dar sua contribuição ao futuro santista. Mesmo exalando política, a Capital Federal não o seduziu para atuar ali. “Não existem eleições municipais. O movimento acontece uma vez, a cada quatro anos, a nível federal. Eu conheço as necessidades de Santos e faço questão de manter envolvido. Por isso, sempre tentei retornar”.


Em 2014, morando no Chile, o jovem foi impedido pelo tempo mínimo permanência no Exterior. “Precisava ter mais de um ano lá para solicitar votação no Consulado. Foi um dos poucos anos que acabei não votando”.


Agora, em São Luís (MA), Pedro vive o dilema da distância novamente. Desta vez, pela pandemia. “É muito ruim não poder votar, ainda mais no momento atual em que a democracia é atacada diariamente. Com a dificuldade da viagem, acaba sendo uma restrição de direitos. Vários países possuem sistema de eleição remota, seja por correios ou outros meios. Deveria ser pensado um sistema nesse sentido aqui pro Brasil - garantindo a segurança do voto, é claro”.


Prefere a ausência


O empresário Vinicius Tognetti de Oliveira, 27 anos, mora na Saúde, em São Paulo, e não acredita que vai descer a Serra no dia do pleito. Criado em Guarujá, é a primeira vez que deixa de exercer seu direito eleitoral.


Sem menosprezar a importância da ação, afirma estar “por fora” da política da cidade, com receio até de interferir negativamente nesta decisão que deve ser tomada em plena consciência. “Eu conheço e sei do valor do voto. Mas a minha vida é aqui agora, todo o círculo de preocupações é no lugar que moro, frequento, trabalho. Não acompanho mais a política da Baixada. Acaba sendo pior só votar por votar, sem saber dos projetos, campanhas, intenções do candidato e correr o risco de colocar a cidade em más direções caso eu o faça sem responsabilidade”, finaliza.


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