Conforme o Censo de 2010 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), Santos concentra 112 mil pessoas autodeclaradas negras ou pardas. A quantidade representa pouco mais de 25% dos santistas, que somam 433 mil habitantes. Mesmo com alto número, as eleições municipais de Santos são marcadas por pouca pluralidade racial.
A estudante de Serviço Social, Priscila Ribeiro, 39 anos, sustenta que o racismo estrutural é recorrente também na quantidade de candidatos lançados na corrida eleitoral. Em Santos, a relação candidatos versus população não representam a democracia racial. “Em Santos, tivemos Esmeraldo Tarquínio (1927-1982), que foi negro a ser eleito ao cargo de prefeito. Porém, foi impedido de assumir”.
A estudante enfatiza que o racismo no Brasil foi muito bem engendrado para que as coisas continuem como sempre foram. Poucos senhores sendo servidos por uma massa pobre e em sua maioria preta. “Mas as coisas estão mudando, devido a luta dos movimentos negros e coletivos que se debruçam desde a época da escravidão a lutar por espaço e emancipação da população negra".
Mas porque negros não votam em negros?
A estudante de Pedagogia, Monica Oliveira, 34 anos, afirma que as pessoas negras são 56% da população, sendo que a maioria sequer tem acesso à educação e desconhece a importância da política. “Só tínhamos candidatos brancos antigamente e no branco que era mostrado que a gente tinha que votar. De uns anos para cá está havendo essa desconstrução".
“Com o tempo isso tem mudado, os negros estão estudando após os acessos as universidades. Percebendo que tem um lugar na sociedade e na política para ocupar. Então agora tem tido a ascensão de muitas pessoas negras que entendem a importância de estarem inseridas na política”. finaliza a pedagoga.
A importância da representatividade
A psicopedagogia Janaína Ferreira de Almeida, 42 anos, lembra o fato de somente dois candidatos negros concorrerem nas eleições de 2016 à 2020. Para ela, baixo número em relação à população negra santista.
“O racismo estrutural é tão profundo e tão perverso que às vezes a pessoa que é negra ela não consegue se identificar como negra e nem consegue estar nos espaços de poder. Para mim é muito importante que candidaturas negras estejam no pleito”, diz
Ela afirma que Santos é uma cidade excludente, até mesmo na geografia da cidade.Janaína recorda que os bairros mais próximos ao mar são, majoritariamente, formados por brancos. “Eu acredito que o trabalho de base é muito importante. Temos que fazer esse trabalho também de identificação. Num quadro dos prefeituráveis só termos uma representação negra, fica bastante difícil.
O interessante também não é só pessoas negras votarem em pessoas negras, as pessoas brancas também podem votar, desde que a pessoa tenha essa percepção de combate ao racismo. Porque está atrelado. Brancos e negros precisam ter essa consciência política e fazer essa distribuição de equidade”, conclui Janaína.
Todas as mulheres entrevistadas são negras, moram em bairros periféricos e vivem diariamente os problemas raciais no Brasil.