Cientistas políticos apostam em eleições sem ‘puxadores de voto’ na Baixada Santista

Modificações na legislação eleitoral devem barrar “efeito Kenny” nas urnas este ano

Por: Isabel Franson  -  12/11/20  -  12:25
Câmara aprovou as contas de 2018 da prefeitura
Câmara aprovou as contas de 2018 da prefeitura   Foto: Vanessa Rodrigues/ AT

A principal mudança no sistema eleitoral brasileiro – proibindo formação de coligações para vereadores, deputados federais e estaduais – entra em vigor neste ano pela primeira vez, nas eleições realizadas neste domingo (15). 


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A medida alterou o cálculo para que os partidos consigam eleger candidatos, e deve inibir os chamados puxadores de voto: aqueles concorrentes mais populares, cujos resultados nas urnas são suficientes para si e ainda somam para emplacar outros pleiteantes. 


“É o chamado Efeito Enéas em nível nacional”, afirma o cientista político Fernando Chagas. “Em 2002, o candidato foi escolhido por 1,6 milhões de eleitores e acabou puxando outros cinco nomes irrisórios de seu partido - tendo, um deles, 275 votos apenas. As mudanças desse ano são para impedir que o fenômeno volte a acontecer”.   


Quem são os ‘puxadores’ desse ano?   


Chagas acredita que as novas exigências tenham impedido os partidos de conseguir puxadores em 2020. “Não temos nenhuma celebridade, nenhum influencer, cantor de pagode, jogador de futebol. No máximo, um ou outro nome mais consagrado já da política mesmo – mas não o suficiente para levar ninguém. O novo cálculo do quociente eleitoral também interferiu”.   


Já Raul Christiano, aposta em alguns políticos de carreira, além de figuras da comunicação local. “Pessoas que costumavam estar nas rádios, programas de televisão aberta. De repente, você vê uma série de apresentadores lançando candidaturas. Talvez os partidos apelem com isso para chamar atenção dos eleitores”.   


Concorrentes com ‘nome-piada’ terão chance? 


Para Christiano, eleitores ficaram mais críticos quanto ao ‘nome-piada’, como foi o palhaço Tiririca em 2010. “Já foi a época em que o voto-piada prevalecia. Agora, as pessoas estão realmente buscando um nome que represente suas prioridades e valores. Não vão mais desperdiçar com personagens”. 


Divisões de vaga mais democráticas   


Fernando Chagas lembra da dificuldade que os partidos terão em emplacar vereadores sem os puxadores. Portanto, a sobra de vagas deve aumentar e, agora, o ‘rodízio’ das cadeiras extras pode favorecer as legendas menores. “Supondo que o município tenha 200 mil votos válidos, o Partido X tenha 25 mil votos e a nota de corte para o vereador entrar seja de 10 mil. Nesse caso, o Partido X vai emplacar dois vereadores – usando 20 mil dos seus votos – e ainda sobram 5 mil. É com esse excedente que ele vai disputar a sobra de cadeiras”.   


Neste conceito, um partido menor, exemplificado como Partido Z – que não chegou a bater a nota de corte porque só atingiu 8 mil votos – está à frente na corrida pelas vagas remanescentes. “Podemos dizer então que ele é favorecido pelas mudanças, porque briga pelas sobras com 8 mil votos. E o Partido X, apesar de maior, só tem mais 5 mil”. 


Influência americana pode pesar 


À moda do recém-eleito democrata Joe Biden à presidência dos Estados Unidos, o professor Raul Christiano acredita numa tendência do santista priorizar candidatos mais experientes. “Biden foi o mais velho a assumir a Casa Branca, com 78 anos. Isso é um alento, porque o público começa a olhar para os cabelos brancos e ver experiência, não senilidade. Passamos a ver que a ‘nova política’, interesse do eleitor nos últimos pleitos, nem sempre quer dizer candidatos jovens de idade. E que os mais experientes também podem trazer algo bom”. 


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