Caso Solange Freitas: Honda PCX branca, revólver e boa pontaria na canhota

Estas conclusões são possíveis com a análise das imagens de uma câmera de segurança, que se tornaram públicas no próprio dia do crime

Por: Eduardo Velozo Fuccia  -  13/11/20  -  10:50
  Foto: Carlos Nogueira/AT

O homem que atirou no carro no qual estavam a candidata a prefeita de São Vicente, Solange Freitas (PSDB), e mais quatro pessoas de sua equipe de campanha é canhoto ou ambidestro. Ele agiu sozinho, disparou com a mão esquerda e demonstrou boa pontaria, apesar de pilotar simultaneamente com a outra mão uma scooter Honda PCX branca. 


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Estas conclusões são possíveis com a análise das imagens de uma câmera de segurança, que se tornaram públicas no próprio dia do crime. O equipamento está instalado na Avenida Minas Gerais, mais conhecida por Linha Vermelha, na Vila São Jorge, e captou o exato momento dos disparos, às 10h14 de quarta-feira (11). 


Ainda que se conteste a boa pontaria do criminoso, sob o argumento de que os tiros foram efetuados próximo do alvo, há circunstâncias que não podem ser desprezadas e reforçam a excelência da mira. Por exemplo, o veículo do atirador e o automóvel Tiguan ocupado pelas vítimas estavam em movimento. 


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Além disso, os disparos foram efetuados em uma curva, exigindo maior habilidade de quem disparava e ao mesmo tempo pilotava a scooter. Para completar, ainda deve ser levado em conta o fato de os cinco disparos terem sido agrupados, ou seja, um perto do outro. Eles acertaram o vidro lateral do passageiro, onde Solange Freitas costuma sentar. 


Porém, no momento da tentativa de homicídio, Solange ocupava o banco traseiro, porque discutia assuntos da campanha com um integrante da equipe. Devido à película bem escura nos vidros do Tiguan, não é possível ver de fora quem está dentro do veículo. A blindagem do carro evitou que as vítimas fossem atingidas. 


Arma e veículo 


Embora a filmagem não mostre, o criminoso utilizou um revólver. Não foram encontrados no local do atentado cartuchos deflagrados de pistola, que são ejetados deste tipo de arma a cada disparo. O armamento e a espécie de motoneta usados pelo atirador chamam a atenção por não serem comuns em ações com características de execução. 


Por ser semiautomática e comportar mais munição do que o revólver, a pistola é mais utilizada em crimes como o que foi cometido contra Solange Freitas. A escolha de uma moto que alie alta cilindrada (velocidade) e estilo trail (suspensão elevada) proporciona condições mais eficazes de fuga. 


O perfil da Honda PCX é urbano e ela teria desempenho comprometido se fosse necessário trafegar por locais sem asfalto ou ultrapassar barreiras, como calçadas ou canteiros. Com 149,3 cilindradas, a scooter não é considerada um veículo de “pinoti” (fuga), como se diz na gíria de bandidos e policiais. 


Investigações 


Titular da Divisão Especializada de Investigações Criminais (Deic), à qual a 3ª Delegacia de Homicídios está subordinada, o delegado Renato Mazagão Júnior comanda a apuração do caso. Sob a justificativa de que informações neste momento podem prejudicar as diligências em andamento, ele nada diz. 


Contudo, Mazagão garante que “estamos investigando tudo”. O discurso está afinado com o do delegado Manoel Gatto Neto, diretor 6º Departamento de Polícia Judiciária do Interior (Deinter-6), conforme o qual, enquanto o caso não é esclarecido, tudo é possível e nada é descartado. 


A candidata a prefeita de São Vicente afirmou não ter dúvidas de que a motivação do atentado é política. Nesta hipótese, a missão da Polícia Civil vai além da mera identificação do autor dos disparos. O objetivo maior passa a ser reunir provas que vinculem o atirador ao suposto mandante(s) do assassinato. 


Ameaças do PCC 


ATribuna.com.br entrou em contato com a Secretaria de Segurança Pública (SSP) para saber se, eventualmente, o Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) está assessorando a 3ª Delegacia de Homicídios de Santos na apuração do atentado contra a candidata a prefeita de São Vicente. 


A Reportagem também questionou a SSP se as polícias Civil e Militar ganharão reforços de efetivo e de viaturas em São Vicente, em particular, e na Baixada Santista, em geral, até o término do período eleitoral, principalmente devido a denúncias de que o Primeiro Comando da Capital (PCC) estaria impedindo/dificultando a atuação de candidatos. 


Os prejudicados seriam candidatos do PSDB e de partidos aliados. Eles estariam sendo proibidos de realizar campanhas em periferias e comunidades carentes – mais vulneráveis às ações da facção – na Baixada Santista, na Capital e em cidades do Interior. O PCC agiria desse modo como retaliação ao governador João Doria (PSDB). 


O descontentamento do partido do crime seria com a atuação das polícias Civil e Militar nas periferias e à remoção, em fevereiro de 2019, de 22 membros da cúpula do PCC de penitenciárias estaduais para presídios federais. Sobre as ameaças da facção criminosa a candidatos, a SSP nada respondeu. 


Por meio de nota, a assessoria do órgão divulgou que “todas as medidas necessárias estão sendo tomadas para garantir a segurança da população e a legitimidade das eleições 2020 no Estado de São Paulo. A Operação Eleições 2020 será deflagrada no próximo final de semana pelas polícias paulistas com o uso de drones, tropas especializadas”. 


O comunicado prossegue informando que, no sábado, a PM intensificará o policiamento com 30.600 policiais. No domingo, serão cerca de 70 mil. Especificamente na Baixada Santista, haverá a mobilização também de tropas do Comando de Policiamento de Choque. Sobre o atentado, a nota diz que a Deic/Santos o investiga, sem apoio do DHPP. 


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