Carlos Paz é o terceiro candidato à prefeitura de Santos entrevistado por A Tribuna

Analista-tributário aposentado da Receita Federal é candidato pelo Avante

Por: Da Redação  -  14/10/20  -  17:36

Carlos Paz é o terceiro candidato a prefeito de Santos entrevistado por A Tribuna. O integrante do Avante pretende envolver mais
a sociedade para descentralizar os investimentos pelo Município. Se eleito, ele pretende valorizar o servidor público e resolver a questão de carreiras e cargos. Além de defender uma maior humanização na Saúde, Paz quer melhorar o setor da Educação e ampliar a oferta de cursos profissionalizantes aos jovens, criando um ambiente na Cidade para geração de mais empregos.


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AT - Se o senhor for eleito, qual será a prioridade do mandato?


Carlos Paz - Minha prioridade é criar um ambiente na Cidade de capital e trabalho, ter geração de emprego e pleno emprego. Não é o emprego de um salário mínimo. Nós perdemos todos os empregos que tínhamos com salário condizente à realidade para o sustento das famílias, que era o trabalho portuário. Agora vem uma nova demanda com essa desestatização, que é uma privatização. A gente precisa capacitar o jovem para esse novo ambiente de trabalho. De nada adianta gerar uma vaga de trabalho com uma remuneração mínima.


Um diferencial em relação aos demais candidatos é a sua experiência no movimento sindical. Como isso pode contribuir em futura gestão do Executivo?


Fui cinco vezes presidente do Sindicato de Analistas-Tributários da Receita Federal (Sindireceita) no Estado, sendo uma vez nomeado e quatro vezes eleito. Fui da Mesa Nacional de Negociação Sindical no serviço público federal. Acho que o político tem uma importância enorme por ter uma visão social, econômica e macro da Cidade - e até mesmo filosófica e sociológica -, mas quem executa e faz o dia a dia é o servidor público. O político que não tem o servidor ao seu lado não consegue administrar a Cidade. Sou muito pró-servidor pela minha história sindical. O servidor é sempre quem acaba sendo desprestigiado pelos governos. No Brasil, 1,6% da população é servidor público. Nos Estados Unidos, esse número chega a 15%. Na França, 25%. O problema não é a quantidade, mas a qualidade do serviço ofertado. Pretendo informatizar todo o sistema da Prefeitura. Venho de um órgão de excelência (Receita Federal) e a gente vê que a administração da Prefeitura ainda é muito arcaica nesta questão. Já andei conversando com o Observatório Social para criar um controle externo das licitações e valorizar o servidor. Precisamos resolver a questão de carreiras e cargos na Administração.


O candidato pretende dar sequência às Organizações Sociais (OS) no gerenciamento de equipamentos públicos municipais ou ampliá-la a outros setores? 


Não sou muito favorável à privatização de um setor de saúde a partir do momento em que a gente faz o investimento em um imóvel e em equipamentos. A iniciativa privada tem o objetivo de aferir lucro e não explorar aquilo que é patrimônio público.


O que o senhor mudaria na área da saúde?


Vejo que as mulheres passam por uma consulta, mas demoram muito para serem atendidas pelos especialistas. A pessoa que tem uma enfermidade precisa receber um atendimento com muita humanidade, diferentemente do que a gente vê hoje. Minha formação é na área tributária e financeira. Costumo dizer que nada funciona se você não tiver emprego e economia. É importante que esses equipamentos mais sofisticados sejam alugados e tenham seguro para troca o quanto antes. Todo o equipamento prioritário precisa ser novo e ter pessoas treinadas para fazer a manutenção. Temos de agregar profissionais da saúde com paixão pelo serviço público. Precisamos criar esse ambiente.


Como manter a formação continuada dos professores e valorizá-los, assim como todo o funcionalismo público? 


Não é possível substituir as aulas presenciais. Está na hora da gente repensar isso, com toda a segurança e distanciamento, porque durante a inserção laboral de um adolescente, o que você perde de aculturamento, nunca mais se resgata. Estamos em uma cidade que mantém as escolas fechadas aos finais de semana. Isso é um absurdo. Sou muito favorável à ascensão profissional, criando cargos e carreiras. O servidor precisa ser capacitado e uso como exemplo a Receita Federal. Nela, existe um sistema pelo qual recebemos as leis e palestras diárias com os maiores especialistas sobre os assuntos. E é preciso assisti-las. Se a pessoa não visualizá-las, ela precisa dar satisfação à chefia. O servidor da Receita é altamente técnico e tem uma capacitação muito acima de servidores de órgãos municipais. Se houvesse o mesmo investimento na saúde e na educação que existe hoje na indústria das multas, teríamos uma educação e uma saúde de primeiro mundo.


O senhor já teria nomes definidos para o futuro secretariado, se vencer a eleição? 


Santos é uma cidade que tem muita gente capacitada. Eu valorizo muito a integridade moral e intelectual das pessoas. Pretendo criar um grupo de secretários altamente técnico, mas vou fazer a escolha após as eleições, se vencer.


Quais são os seus planos para as empresas públicas, como Cohab Santista, CET-Santos e Prodesan? 


Vejo que não há uma administração, mas sim uma gestão do orçamento. Venho da assessoria de um ministro que é considerado um dos dez maiores intelectuais vivo do mundo (Roberto Mangabeira Unger, que foi ministro-chefe da Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência da República durante o Governo Lula). E tudo você deve fazer com planejamento. Dentro dessess órgãos, é preciso entender a mão de obra, as carreiras, os sistemas e a real necessidade dessas empresas para a sociedade.


No plano de governo, o senhor cita a proposta de criar núcleos de desenvolvimento setorial por meio de entidades da sociedade civil organizada. Como isso será aplicado na prática?


Grande parte da Cidade que hoje faz o bem e que desenvolve algum trabalho social e/ou cultural é desconhecida por uma parcela da sociedade. Temos que organizar a sociedade de acordo com o setor, mas de forma coerente. Costumo dizer que a nossa campanha é uma mobilização social. Quero conscientizar as pessoas, mostrar que a gente tem uma sociedade plural. Se ela se organizar, se atentar e der um pouco mais de atenção à política, vamos ter uma sociedade mais humana e capaz de resolver os problemas da periferia. Precisamos descentralizar o orçamento para trazer mais lazer e educação para outras regiões. Quando o poder público não está nesses espaços, a criminalidade ocupa o espaço, com muita competência.


Como o Município pode contribuir para a melhor formação profissional?


Valorizo na Educação os cursos técnicos. Para você criar uma boa sociedade, o importante não são os catedráticos, os filósofos. Quem toca a sociedade são os técnicos. Os jovens fazem uma faculdade hoje e não conseguem trabalhar depois. Tenho o planejamento de, junto com a sociedade organizada, investir nessa área para atender a uma demanda turística. Com isso, vem a cultura. Temos vários teatros e as grandes peças passam por aqui. Por outro lado, temos um terminal de passageiros de cruzeiros há 23 anos e a gente não reúne capacidade de manter essas pessoas fazendo turismo na nossa cidade. O poder público precisa ter um planejamento voltado para o bem-estar de Santos.


Como o senhor pretende lidar com a questão dos moradores em situação de rua?


Encerrei a minha carreira na Receita Federal trabalhando nos últimos dez anos no CAC (Centro de Atendimento ao Contribuinte) de Santos. Muitas pessoas que eu atendia tinham acabado de sair dos presídios sem documentos. Isso não é admissível. Precisamos entender o porquê dessas pessoas estarem dormindo nas ruas, de onde elas vieram, quem elas são, quais as expectativas delas e quais estão nas drogas.


Pela sua experiência na Receita Federal, como o senhor avaliou o aumento de 3% para 5% da alíquota do Imposto sobre Serviços (ISS) da atividade portuária?


Há alguns anos eu escrevi um projeto para o PSB nacional chamado Porto Ágil. Grande parte das empresas que trabalham no Porto de Santos não contribui com o ISS aqui, mas com outros municípios que oferecem benefícios fiscais. É preciso ter uma política de contrapartida para elas. Não sou favorável ao imposto alto, pois é passível de ser sonegado. Sou favorável a uma base maior de tributação com impostos menores e exigir uma contrapartida social delas para a Cidade.


Como melhorar a drenagem e resolver a questão das enchentes da Zona Noroeste?


Se não tivesse solução, a gente não ouviria falar em Países Baixos. Precisamos fazer o planejamento, após ouvir a população. Vejo que foi feita uma obra eleitoreira na entrada da Cidade, mas a questão das enchentes, que é o principal, não foi resolvida. Precisamos de uma solução definitiva.


Como melhorar a zeladoria do Município?


Temos as associações de bairro, em um modelo que não funciona. Precisamos trazer a população para dentro da administração e identificar as prioridades para saber onde é preciso investir. Prefeito não pode ficar em gabinete e precisa estar na rua, assim como seus secretários. Não acredito em ninguém que administra um órgão público com a grandeza da Prefeitura de Santos dessa forma ou terceiriza totalmente a função para a iniciativa privada. Precisamos ter um monitoramento inteligente de segurança.


O senhor gostaria de acrescentar algo mais neste fim de entrevista?


Eu não quero apoio de direita ou de esquerda. Sou um candidato com ideias próprias e personalidade própria. Eu me sinto altamente preparado para administrar, modificar e mobilizar a sociedade, principalmente a juventude, para governar junto, priorizando aquilo que é realmente importante à população.


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