Eu quero envelhecer! Com saúde e qualidade de vida!

Por: Roberto Debski  -  15/12/18  -  09:12

Nascemos, crescemos, nos tornamos adultos e nosso organismo vai envelhecendo.


Se trata de um processo natural, esperado, e não deve ser temido, se nos prevenirmos e cuidarmos de nosso envelhecimento com sabedoria.


A pele perde a elasticidade, os órgãos se modificam, adoecemos, nos curamos, passamos por experiências emocionais, nos decepcionamos, amamos. O tempo passa...


Os telômeros são as extremidades dos cromossomos, onde fica nosso DNA.


Eles sofrem encurtamento progressivo, fenômeno que está ligado ao envelhecimento e ao processo de adoecimento, e são protegidos pela enzima Telomerase. Essas descobertas deram à bióloga americana Elizabeth Blackburn o prêmio Nobel de Medicina de 2009.


Nossos órgãos vão se adaptando e reduzindo gradualmente sua função geralmente a partir da idade adulta, em ritmos diferentes.
Também o estilo de vida conta muito para a qualidade do envelhecimento.


Uma pessoa que fuma, bebe em excesso, é sedentária, usa drogas, se estressa em demasia, tem um sono de má qualidade envelhece num ritmo mais acelerado do que outra que cuida de sua saúde e toma medidas preventivas.


Também há a individualidade que faz com que cada pessoa envelheça em seu próprio ritmo.


Em um olhar mais amplo, a população brasileira está envelhecendo bem?


O brasileiro possui um dos piores índices de avaliação de longevidade saudável.


Esse é o intervalo entre a idade até quando estamos saudáveis e quando nos tornamos doentes, até a data da morte.


O ideal seria que esse intervalo fosse pequeno, adoecessemos em idade avançada logo antes de morrer, mas os brasileiros adoecem muito antes de morrer, passando longos anos com doenças crônicas que roubam sua qualidade de vida.


O que é uma velhice saudável?


Velhice saudável acontece quando envelhecemos com saúde física e psicológica, com o mínimo ou ausência de doenças crônicas, com independência, boa rede social, ou seja, com qualidade de vida.


Pesquisas mostram que as pessoas têm muito medo da velhice. Por que acha que isso acontece?


O medo como qualquer outra emoção é um sinal de alerta. Ter medo significa que corremos o risco que algo aconteça, e que não será bom.


No caso do medo de envelhecer, há o medo de sofrer, adoecer, nos tornarmos dependentes, da solidão, e também olhamos para a possibilidade de nos arrependermos de algo que fizemos ou que não fizemos, e esse possível arrependimento decorrente de nossas atitudes também gera medo.


A solidão, a perda do pertencimento a grupos socialmente importantes como os amigos e a família geram medo e ansiedade.


A possibilidade de nos tornarmos sós e dependentes, sem saber como seremos cuidados ou o que acontecerá conosco também é um importante fator de preocupação e medo, ainda mais se tivemos familiares que passaram por um difícil processo de envelhecimento e incapacidade.


Uma contradição se faz normalmente presente ao pensarmos na velhice.


Quando pensam na velhice, a maioria das pessoas se imagina com saúde, autonomia, viajando e aproveitando.


Mas paradoxalmente não se preparam para que isso aconteça, como se o normal no envelhecimento fosse manter todas as condições da juventude, o que não é realidade para a maioria das pessoas.


As pessoas muitas vezes poupam financeiramente para a velhice, fazem sua poupança ou previdência privada, mas não se preocupam como irão envelhecer nem de que maneira chegarão à velhice em relação à saúde, independência e qualidade dos relacionamentos, e esquecem desses pontos cruciais, o que fará toda a diferença no futuro.


Deveríamos ter aulas para aprender a envelhecer? Certamente!


Dra. Elizabeth Blackburn traz em seu trabalho sobre os telômeros descobertas fundamentais sobre o papel das emoções no envelhecimento. As doenças da "modernidade" ansiedade e depressão estão ligadas diretamente ao maior encurtamento dos telômeros e a um envelhecimento precoce.


Em entrevista quando do lançamento no Brasil de seu livro "o segredo está nos telômeros", ela declarou:


"Tanto a ansiedade como a depressão estão ligadas a telômeros mais curtos. E, quanto mais severas elas são, mais curtos são os telômeros. Essas condições extremas do estado emocional têm um efeito no maquinário de envelhecimento das células, que envolve os telômeros, a mitocôndria [organela celular] e processos inflamatórios. Doenças do coração, pressão alta, diabetes, todos esses problemas de saúde tendem a aparecer mais cedo e mais rapidamente em pessoas ansiosas ou deprimidas. A ansiedade é um tema relativamente recente no campo de pesquisas sobre os telômeros. Sabemos que pessoas que vivenciam a aflição de um transtorno de ansiedade tendem a apresentar telômeros significativamente mais curtos. Quanto mais tempo a ansiedade persiste, mais curtos ficam essas estruturas. Mas, a partir do momento em que a ansiedade é resolvida e a pessoa se sente melhor, os telômeros eventualmente retornam ao seu comprimento normal. Esse é um importante argumento a favor da identificação e do tratamento da ansiedade."


Em relação à depressão, ela comenta o seguinte:


"A conexão entre a depressão e os telômeros tem uma sólida base de evidências científicas. Um estudo impressionante, de larga escala, envolvendo quase 20 mil mulheres chinesas, descobriu que aquelas deprimidas tinham telômeros mais curtos. Quanto mais grave e duradoura é a depressão, mais curtos ficam os telômeros."


Há uma falta de olhar e se preocupar com as questões importantes da vida, e a ligação entre o emocional e o envelhecimento saudável é uma delas.


Cuidar da saúde mental, gerenciar as emoções, investir nos relacionamentos saudáveis, faz parte da prevenção para uma velhice que vale a pena!


As pessoas esquecem que para que algo aconteça devem ser tomadas uma série de medidas preventivamente, deve haver um preparo adequado com a alimentação, o estilo de vida, e no caso do envelhecimento, já se sabe que temos de ter atitudes que, sem garantia, nos possibilitem o envelhecimento saudável, com qualidade de vida.


Poupar para o envelhecimento saudável requer consciência do que significa o processo de envelhecer, e das medidas preventivas para fazê-lo com qualidade.


Roberto Debski


Este artigo é de responsabilidade do autor e não reflete necessariamente a linha editorial e ideológica do Grupo Tribuna. As empresas que formam o Grupo Tribuna não se responsabilizam e nem podem ser responsabilizadas pelos artigos publicados neste espaço.
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