Em campo, deu Carille; fora dele, a vitória foi de Sampaoli

Corintiano venceu o duelo tático, mas o santista mostrou grandeza ao reconhecer a inferioridade

Por: Heitor Ornelas  -  11/03/19  -  18:10
Atualizado em 11/03/19 - 18:15

O clássico entre Corinthians e Santos terminou 0 a 0. Mas, no duelo dos técnicos, Fábio Carille levou a melhor sobre Jorge Sampaoli. Afinal, os donos da casa jogaram melhor e talvez só não tenham alcançado os três pontos pela ausência de Gustavo, o improvável artilheiro do time.


Improvável também foi a postura do Corinthians. Contrariando tudo que tem feito, o ataque, desde o princípio, foi a aposta. O que provoca a seguinte reflexão: por que não jogar sempre assim? Bem, Carille certamente tem suas razões para preferir a cautela na maioria das vezes. Entretanto, merece reconhecimento quando proporciona um espetáculo agradável, independentemente do resultado.


Por falar em reconhecimento, Sampaoli mostrou ser diferente  na entrevista coletiva após a partida. Sem rodeio nem receio de parecer menor, ele reconheceu que foi surpreendido por Carille e admitiu que os erros que cometeu afastaram o Santos da vitória. Por mais que tudo não passe de discurso, poucos são os treinadores que têm a humildade de assumir a inferioridade. Aqui, o caminho mais fácil é o tomado por Carille antes do clássico.


Perguntado sobre Sampaoli, ele disse que não há nada de novo no trabalho do argentino  e que a aprovação dos jornalistas a ele seria um desrespeito com Fernando Diniz, que há pelo menos três anos adota filosofia semelhante e não teria o mesmo crédito.


O mea-culpa de Sampaoli é só mais uma atitude fruto de seu desprendimento. O futebol corajoso do Santos e os gestos naturais do argentino decorrem de sua independência. Diferentemente da maioria dos treinadores brasileiros, ele trabalha sem medo de contrariar interesses e perder o emprego. Se amanhã ou depois o Santos entrar em crise e dispensá-lo, ele sabe que já tem uma imagem vitoriosa construída e que ela não será arranhada. Além disso, logo surgirão interessados.


Os treinadores brasileiros, em geral, são capazes. Além disso, em muitos casos são vítimas da incompetência e dos interesses escusos de boa parte dos dirigentes. Ainda assim, se não romperem a barreira da mediocridade e trabalharem por um futebol de alto nível, nunca vão sair da roda viva que os devora. E isso vale não só para os iniciantes, como também para os experientes, todos no mesmo barco.


Alguém sempre vai ganhar e alguém sempre vai perder. A diferença que consagra os fora de série está na forma como ganham e como perdem. Que o diga Telê Santana e a Seleção de 1982.


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