Pé de guaco

Médica veterinária de São Vicente resolveu distribuir folhas da árvore de graça para quem precisa

Por: Arminda Augusto  -  25/11/18  -  10:42
  Foto: Arminda Augusto/A Tribuna

Havia um professor na Faculdade de Comunicação, o Dirceu Fernandes Lopes, que sempre nos dizia: "há histórias prontas por aí só esperando para serem contadas. E esse é o papel de vocês". Quando se tem 18 ou 20 anos, essa é uma frase difícil de interiorizar, mesmo para um estudante de Jornalismo, ávido por furos de reportagem e manchetes incríveis.


O bom da idade chegar é que começamos a enxergar as tais histórias por todos os lados, e essa vem de São Vicente, de lá de perto do Horto Municipal.


A Sandra Peres é a médica veterinária do horto, apaixonada por animais, plantas e coisas simples da vida. Esta semana, percebendo que o pé de guaco que tem no quintal da velha casa da família estava novamente transbordando de folhas, resolveu fazer pequenas sacolas com a folhagem e pendurar na árvore que fica na calçada. O bilhete avisava: "Folhas de guaco (para chá - tosse). Pode pegar sua sacola e levar para quem precisa".


"Aplanta precisava ser podada, mas dá dó simplesmente descartar. Então, uma forma de não desperdiçá-la foi deixá-la à disposição dos que poderiam aproveitá-la. Fui separando em sacolinhas e preparei um aviso simples. Logo que as pendurei na árvore, já passou uma moça com uma criança, dizendo: "Olha, filho, vamos levar para a vovó fazer chá pra você!" Fiquei tão feliz!", me disse a Sandra.


A história é bem simples, do jeito que o professor Dirceu disse que seria, mas a beleza vem no transcorrer da conversa com a Sandra:


"Não pensei nisso tudo quando podei mas, sem dúvida, uma sacolinha dessas foi motivada, também, pela lembrança de minha avó e de minha mãe, cultivando plantas medicinais e distribuindo a quem pedia. Crescemos nessa realidade. E isso também era uma forma de carinho e mantinha uma energia boa, de doação do seu tempo aos desconhecidos e aos familiares, preparando o chá. E quando aquela moça levou a sacolinha, senti que essa amorosa intenção continua. Ela não sabia preparar o guaco, mas deixou claro que levaria para quem sabe. Assim, naquela despretensiosa atitude, percebi que há uma força que nos liga aos ancestrais, por respeito e gratidão, e que eles, naquele instante, receberam de volta parte do amor doado".


Quantas histórias assim estarão por aí à espera de serem contadas, não é mesmo, professor Dirceu? Obrigada por me dar o alerta lá atrás, ainda na faculdade. Não fosse isso, talvez eu até tivesse achado normal ver sacolinhas penduradas em uma árvore.


Este artigo é de responsabilidade do autor e não reflete necessariamente a linha editorial e ideológica do Grupo Tribuna. As empresas que formam o Grupo Tribuna não se responsabilizam e nem podem ser responsabilizadas pelos artigos publicados neste espaço.
Ver mais deste colunista
Logo A Tribuna
Newsletter