Meninos dançam balé; meninas jogam futebol

Jovens da região conquistam títulos em importante festival de dança em Joinville

Por: Arminda Augusto  -  26/07/19  -  13:17
Andrey Jesus ganhou dois troféus de segundo lugar no festival
Andrey Jesus ganhou dois troféus de segundo lugar no festival   Foto: Maykon Lammerhirt

Talvez ele não soubesse que aquelas tantas horas de dedicação diária um dia virassem prêmio. Talvez os pais imaginassem que, frente ao preconceito e ao bullying, fosse melhor convencer o filho a trocar a sapatilha pela chuteira. Talvez...


Mas a história está sendo contada com um outro enredo. Um enredo que prova, todos os dias, que nem sempre meninos vestem azul, e meninas vestem rosa. Nem sempre meninos jogam bola, meninas fazem balé.


Daniel Dantas optou pelo balé desde que tinha 6 anos, e é na ponta dos pés que ele equilibra o prazer pela arte, a leveza da dança, o sonho de um dia chegar lá. Sem que percebesse, o "lá" já está chegando. Nascido e criado na Vila Natal, uma comunidade pobre de Cubatão, ele conquistou esta semana o primeiro lugar na categoria júnior em jazz do Festival de Joinville (SC), um feito e tanto para seus 13 anos de idade.


História muito bem contata pela colega Nina Barbosa, da TV Tribuna, que acompanhou Daniel e sua família no cotidiano de Cubatão e, em Joinville, na alegria da conquista. Confira a reportagem com o bailarino cubatense.


"Sempre me dizem que balé é coisa de menina, que balé não tem utilidade, não vai me sustentar na vida", disse Daniel a Nina antes de partir para o festival. Devem ser as mesmas frases ditas a outro jovem talento da região, o Andrey Jesus, também de 13 anos, que ganhou dois troféus de segundo lugar no festival: solo de neoclássico e solo de variação de repertório.


Daniel conquistou o primeiro lugar na categoria júnior em jazz do Festival de Joinvile (SC)
Daniel conquistou o primeiro lugar na categoria júnior em jazz do Festival de Joinvile (SC)   Foto: SC

Fico pensando: o que tira esses meninos da cama todos os dias? O que os faz dar de ombros para o preconceito, o bullying e os olhares tortos dos colegas de escola, dos familiares? Só pode ser algo muito maior, que transcende a nossa compreensão miúda e, muitas vezes, imediatista e nada resiliente. Guerreira e corajosa são também as famílias desses jovens talentos, que estimulam, protegem, arregaçam as mangas e se vestem de coragem para levar os pequenos aonde eles querem chegar.


Daniel e Andrey, vocês já estão chegando, vocês já são exemplo.


Meninos dançam balé, sim. Meninas jogam futebol, sim. E que bom que há diversidade de opções, que bom que há reconhecimento pela arte de vocês, que bom que existem jornalistas sensíveis para contar essas histórias.


Por mais Daniel e Andrey na arte! Em qualquer arte! E sim, haverá um dia em que um menino dançando balé será apenas um menino dançando balé e nada mais.


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