'Zé da Graxa' é um dos últimos a se dedicar ao ofício de polir sapatos na região

Há mais de 15 anos no Gonzaga, José dos Santos Santana mantém seu ‘escritório’ ao lado de tradicional banca

Por: Eduardo Brandão & Da Redação &  -  06/08/19  -  17:29
Santista no futebol, seu maior orgulho é ter como cliente assíduo o Canhão da Vila, Pepe
Santista no futebol, seu maior orgulho é ter como cliente assíduo o Canhão da Vila, Pepe   Foto: Alexsander Ferraz/ AT

É com os dedos manchados de diversas tonalidades e com muita habilidade nas mãos que José dos Santos Santana, 46 anos, ganha a vida. O Zé da Graxa, como é popularmente conhecido no Gonzaga, segue como um dos raros a se dedicar a uma profissão que se encaminha para a extinção: engraxate.  


A excelência no ofício, aprendido ainda na infância, fez com que ele se tornasse responsável por lustrar os sapatos do xará famoso, José Macia, o Pepe, Canhão da Vila, campeão de tudo pelo Santos. 


Estar frente a frente com o craque santista é algo que ele jamais imaginaria ao fugir do Polígono das Secas, no sertão baiano, em busca de uma oportunidade. As raras chuvas e as condições difíceis do semiárido nordestino o expulsaram de sua terra natal, Paripiranga, distante 250 quilômetros da capital Salvador. “Não era fácil lá”. 


Foi por um rádio de pilha e relatos do pai, que Santana teve o primeiro contato com o clássico esquadrão santista. Nascia ali a paixão tardia pelo time que ainda inspira admiração no planeta bola e que o deixaria emocionado ao receber um cliente especial.  


“A primeira vez que o Pepe veio aqui fiquei feliz, emocionado mesmo. Ele é gente boa, conversador, simpático. Dá atenção para todo mundo. Mas este ano o Pepe está meio sumido. Só apareceu duas vezes. Tá na hora de voltar”, diz, com o característico sorriso com o qual recebe a todos. 


Orgulho 


Há mais de 15 anos, Santana mantém seu escritório ao lado da Banca Estátua, no Gonzaga, perdendo as contas de quantas personalidades, entre artistas e jogadores de futebol, ele ajudou a melhorar o visual. “O trabalho é fácil, mas tem o jeito certo de fazer as coisas”. 


Com o rendimento retirado de cada par de sapato lustrado, pôde criar dois filhos, um com 29 e outro com 27 anos, e manter o orçamento doméstico equilibrado. “As crianças já casaram. Tudo que tenho, tirei daqui, com suor”.  


A história do ponto comercial se confunde com a do bairro santista. Afinal, as duas cadeiras de engraxate estão no Gonzaga há mais de seis décadas, período que o bairro começou a se transformar num dos mais famosos para o comércio. No período, contudo, o engraxate passou a perder público com a popularização do tênis. Agora, a freguesia é basicamente formada por advogados e médicos com escritórios na área. 


Jornada 


Faça chuva ou sol, Santana mantém rigorosa jornada. Pouco antes dos lojistas do Gonzaga abrirem as portas, ele já está com os materiais aguardando a clientela. Morador do Jóquei Clube, em São Vicente, pedala por quase 90 minutos para iniciar o dia às 8h30.  


O almoço engolido às pressas é a única pausa até o final da tarde, quando encerra o expediente. “Chego em casa por volta das 20h. O dia é longo, mas nem sempre com muito movimento”. 


O descanso após 10 quilômetros sobre a bicicleta é adiado com a cota de trabalho que Santana leva para casa. É à noite que ele lustra botas e sapatos femininos mais delicados ou recupera calçados brancos. “Não há graxa nessa cor, então é preciso pintar. É demorado, mas fica bonito”.  


Homens ainda são a maioria da clientela, mas ele cita ser crescente o número de mulheres quem levam botas para uma recauchutada. “É inverno, né? Aumenta bastante”.  


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