'Você pensa: ‘será que eu vou morrer?', relata vítima de coronavírus que ficou internada em Santos

Homem de 49 anos estava na cidade a trabalho e foi encaminhado para a Santa Casa: “Você fica à mercê do organismo”

Por: Júnior Batista  -  28/03/20  -  21:20
Exame feito em Santos será idêntico ao do Instituto Adolfo Lutz, mas resultado sairá mais rápido
Exame feito em Santos será idêntico ao do Instituto Adolfo Lutz, mas resultado sairá mais rápido   Foto: Divulgação/Secretaria Estadual de Saúde

“Será que eu vou escapar?”, perguntou-se a vítima, de 49 anos, quando descobriu o diagnóstico pelo novo coronavírus, há uma semana. Morador de Recife, ele veio a Santos a trabalho. Estava aqui há pouco mais de uma semana, quando começou a sentir os sintomas da doença e foi internado na Santa Casa. E reconheceu ter subestimado a doença. Para ele, foram “dias que pareciam semanas, meses”, enquanto ficou internado no hospital. Agora, está em quarentena em um flat. 


O começo 


Sexta-feira, 20 de março, fim de tarde. O homem não se conformava que a tosse seca não passava. Sentia dores pelo corpo, coriza. Passou a semana com febre intermitente, mas achava que era só mais uma gripe severa. Ao não aguentar mais se cuidar em casa, resolveu ir ao hospital.


“Quando cheguei, tiramos chapa, fui analisado. E aí eu fui para a tomografia. Quando saiu o resultado, eu nem fui para casa, já fui internado”, relembra.


O resultado para ele, que é hipertenso, mas toma remédios controlados, foi uma surpresa. “O médico disse que eu estava com 25% dos pulmões comprometidos e pneumonia. Eu nunca tive problema sério de saúde. Foi aí que fiquei com muito medo”


O medo era deixar para trás dois filhos, pais, mulher. O medo de deixar tudo isso o angustiou. “Você se vê nessa situação e pensa: ‘será que eu vou morrer?”. A internação foi seguida de diversos exames. A vítima conta que havia retirada de sangue,duas,três vezes por dia. Para ele, foi um dos períodos mais longos de sua vida. “É literalmente medo de morrer. São muitos relatos de pessoas que têm problemas pulmonares e as medicações não fazem efeito. E realmente é assim”. 


Além dos exames, tomava diversos medicamentos, entre eles, antibióticos. Tudo era só para amenizar as complicações, diz ele. “Você fica à mercê do seu organismo se recuperar, porque a medicação não faz efeito. Você pega o vírus e precisa que o seu organismo tenha tempo de se recuperar. Se for mais forte que a sua defesa, vai ter problemas sérios”.


Sintomas 


O homem conta que o problema era principalmente a febre, tosse seca e a falta de ar. “Tenho 49 anos, não me considero velho. Apesar da idade, estou bem de saúde. Então, para mim, essa falta de ar foi muito difícil, porque eu nunca tinha passado por isso antes”


Ele conta, também, que o paladar é completamente alterado. “Toma água sente gosto ruim na água. Acha que a água tem alguma coisa”, diz. Além disso, essa alteração também fez com que ele perdesse o apetite. “Se não forçar para comer, você desiste de se alimentar, porque a vontade vai embora”, conta.


Sem referência 


O fato de a doença não ter uma vacina em vista ou até mesmo poucas informações fez com que a angústia aumentasse. Embora agora ele esteja um pouco melhor, o homem diz que não sairá dessa experiência da mesma maneira.


“Você tem uma vida normal e de repente vem um vírus desse, perigoso. Você vê claramente que é um vírus oportunista. Em um idoso, pessoas com qualquer problema de saúde, ele é extremamente perigoso. O problema é que ele vai direto no pulmão”, diz ele. “Ele é forte. É muito forte.Se eu tivesse mais de 70 anos, como dizem, não sei o que seria de mim. Passei maus bocados com 49, imagina se eu fosse mais velho?”.   


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