Um ano marcado pela reinvenção do ensinar na Baixada Santista

Dia dos Professores tem como foco luta para assegurar Educação, mesmo de longe

Por: Tatiane Calixto  -  15/10/20  -  18:19
  Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil

A pandemia da covid-19 impôs mudanças a todos, mas dos professores exigiu uma reinvenção. A sala de aula teve que virar reunião on-line em algum programa que boa parte nem conhecia. A lousa, companheira inseparável de muitos, transformou-se em uma tela compartilhada do notebook. E nunca a falta de um aluno causou tanto medo de evasão. Neste ano, o Dia dos Professores homenageará profissionais que tiveram de se reinventar para provar o que sempre foram: a peça chave da Educação. 


“Todo começo de ano, nós, professores, nos reunimos para planejar o ano letivo. Debatemos o modelo de avaliação, os objetos de aprendizagem e pensamos em como ajustar a demanda de expectativas globais a características da escola”, conta Odair José Pereira, professor da rede pública da região e historiador. E este ano não foi diferente. 


Mas ele relembra um comentário de um colega de Química que, no meio do planejamento das atividades, ainda em fevereiro, alertou que tudo o que eles conversavam perderia o sentido e seria preciso pensar em como ajudar os alunos a superar o vírus que estava prestes a chegar ao País. 
“Dito e feito. Naquele momento ninguém imaginava que a visita indesejada ficaria tanto tempo em nossa casa, mudando nossos hábitos, nos obrigando a enfrentar um processo de difícil adaptação”, afirma o professor. Ele diz que, em um tempo curto, foi preciso se familiarizar com ferramentas tecnológicas e mecanismos que muitos não conheciam. 


O impacto atingiu todos. Lidyane Oliveira dos Santos é professora da rede particular na região e conta que, ao ser informada do distanciamento exigido na quarentena, começou a preparar aulas diferentes para o retorno que não houve. 


“Aí, comecei a estudar sobre aulas virtuais para os pequenos e me arrependi de não ter iniciado uma pós em Educação a Distância, para a qual eu havia feito inscrição ano passado.” 


Lidyane conta que a unidade criou uma plataforma digital que trouxe inúmeras possibilidades, mas também demandou muita dedicação dos docentes para aprenderem a utilizá-la e auxiliar os alunos. “Isso nos fez trabalhar mais tempo e, mesmo com a família dentro de casa, o tempo com eles não aumentou. Muito pelo contrário”, diz ela, que tem uma filha pequena. 


Alunos 


Junto à preocupação com a elaboração das aulas virtuais, a angústia quanto aos alunos tem acompanhado os professores. 


“Eu fico pensando se eles estão bem, se alguém ajuda nos acessos e, no começo, se eu seria capaz de cumprir bem o meu papel, se conseguiríamos manter nossos laços de afetividade a distância”, desabafa Lidyane. 


Essa preocupação causa um alerta. O cenário construído pela pandemia pode levar a um aumento drástico da evasão escolar, apontam especialistas. 


“Tenho sentido cada vez mais, nas conversas com os alunos, uma falta de motivação, um esgotamento”, revela Odair. 


Segundo ele, muitos estudantes têm desistido de continuar e está cada vez mais difícil resgatar os que “desapareceram” das aulas remotas. “Cada vez mais, eu e meus colegas temos agido como terapeutas familiares.” 


O universo escolar, antes restrito aos muros da escola, se expandiu com o coronavírus. “Hoje, estamos considerando e conhecendo mais todas as variantes das famílias dos alunos: violência doméstica, fome, desemprego e por aí vai. O contato com essas novas realidades nos põe frente a desafios com os quais ainda estamos aprendendo a lidar.”


Hoje, elogios. Dúvida é o pós-pandemia


Com as atividades escolares acontecendo em casa, muitos pais perceberam o quanto a tarefa de ensinar exige preparo, paciência, amor e esforço. Porém, é preciso que o prestígio que a profissão está tendo na pandemia permaneça e se transforme em políticas públicas de valorização e apoio.


Marcelo Ganzela, coordenador pedagógico no curso de Letras do Instituto Singularidades, que atua na formação de professores, afirma que apesar de este ano estar sendo de muitos desafios, é preciso pensar qual será o cenário em 2021 e apoiar os docentes. 


“Na melhor das hipóteses, teremos uma vacina. Precisaremos pensar em como articular o que ficou de frágil nas competências e habilidades e como seguimos com o planejamento de 2021 a partir disso”, comenta. Assim, será preciso retomar e avançar, retomar e avançar, dentro de um processo em espiral.
Para fazer tudo isso acontecer, no entanto, Ganzela aponta que será preciso realizar uma escuta humana e atenta dos docentes.


“Seus temores, suas necessidades, seus anseios. Um olhar equilibrado para a carga de trabalho. Fazer essas transposições de modelos de aula (presencial, remoto, on-line, híbrido) demanda experimentação, pesquisa, acerto e erro... Ou seja, demanda tempo. É fundamental reconhecer isso.” 
A partir da escuta e da observação do trabalho dos docentes, considera Marcelo Ganzela, haverá a necessidade de verificar as necessidades de formação dos docentes.


“Posso adiantar que aprender a lidar com planejamento em espiral pode ser desafiador para muitos . Da mesma, forma, se apropriar das habilidades necessárias para construir trilhas de aprendizagem híbridas também pode ser algo de que os docentes necessitem”, analisa.


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