Logo na entrada do Pronto Socorro Infantil de Vicente de Carvalho, em Guarujá, uma placa alerta: “aguarde atendimento sentado”. Nunca um aviso fez tanto sentido, afinal, ficar duas horas esperando a consulta é recorrente, segundo os pacientes. Os médicos concordam que a situação está caótica. O sindicato da categoria, inclusive, entrou com representação no Ministério Público do Trabalho.
“Meu filho pequeno tem bronquite e crises em qualquer mudança de tempo. Há pouco mais de um mês, fiquei esperando mais de seis horas por atendimento”, conta o tatuador Jonathan Correa, de 32 anos, sobre o filho Thales, de 1 ano e seis meses.
O atendimento ao qual se refere foi em um dia por volta de 13 horas, quando há três pediatras no local. À noite, é pior. “Às vezes temos que fazer uma remoção e precisamos ir junto, aí fica só um médico para cuidar dos internados e do balcão (quem chega para atendimento)”, conta uma médica, que preferiu não se identificar.
O PS tem 11 leitos, sendo 1 de isolamento e dois de emergência. Outro médico, concursado há 15 anos, diz que o retorno das férias, em agosto e setembro, a procura é intensificada. “Há uma concentração a partir desse período. Estamos suportando desde a inauguração desta unidade (em outubro do ano passado), mas já estamos sobrecarregados”.
Processo
O Sindicato dos Médicos de Santos, São Vicente, Cubatão, Guarujá e Praia Grande (Sindimed) entrou comum a ação no Ministério Público do Trabalho, alegando omissão do Município no caso e pedindo soluções. Atualmente, 14 médicos concursados se revezam em esquema de turnos de 12 horas de trabalho por 36 de descanso. Durante o dia, há três profissionais.
O processo foi recebido pelo MPT, que o encaminhou à Vara da Cidadania do Ministério Público Estadual, por entender que a situação envolve mais do que questões trabalhistas. “Os médicos nos contaram que havia um entendimento pela Prefeitura e pelos médicos de que são necessários ao menos três médicos no plantão noturno. A média era de cinco”, diz a presidente do Sindimed, Maria Cláudia Santiago Cassiano.
Resposta
A Secretaria de Saúde de Guarujá afirma que há seis médicos contratados para suprir as escalas em que há falta de concursados. E nega que haja sobrecarga no PS Infantil. “Conforme levantamento da Secretaria Municipal de Saúde, a média de atendimento é de 2,8 pacientes por hora no período noturno”, sustentando que o ideal, de acordo com o Conselho Federal de Medicina, é de até quatro pacientes por hora, para cada médico. “Além dos seis contratados, a unidade conta com mais oito cadastrados para coberturas esporádicas, quando necessário”.