Sem restrições, casos de coronavírus seriam até 10 vezes superiores em São Paulo

Estimativa do Centro de Contingência do Coronavírus cita que até 800 mil paulistas estariam infectados ainda neste mês

Por: Eduardo Brandão  -  09/04/20  -  21:40
  Foto: Divulgação/Governo do Estado

Sem as medidas de isolamento social, válidas desde o fim de março, o número de pessoas infectadas e de mortes por decorrência da Covid-19 ultrapassaria a marca de até 10 vezes superior ao atualmente registrado no Estado de São Paulo. Com esse cenário, o sistema público de saúde paulista entraria em colapso no começo de maio. É que informa o médico coordenador do Centro de Contingência do Coronavírus, David Uip.


As estimativas foram debatidas, nesta quinta-feira (9), durante live (transmissão ao vivo) com representantes do Grupo de Líderes Empresariais (Lide), em São Paulo. O encontro virtual discutiu os avanços nas pesquisas globais de combate à Covid-19 e cenários para enfrentamento da pandemia no Brasil. “O governo [do Estado, com a ação de isolamento] agiu certo, na hora certa e do jeito certo”, diz o médico infectologista.


Conforme os modelos matemáticos apresentados por Uip, entre 50 mil e 80 mil paulistas devem ser contaminados pelo novo coronavírus até o fim do mês. Sem as regras de distanciamento social, esse número saltaria para pico superior a 800 mil pessoas no estado no igual período. “Em maio [no cenário sem isolamento], haveria uma superlotação dos hospitais, que agravaria a situação”.


Segundo Uip, 49% da população paulista segue em isolamento social, conforme georeferenciamento mapeado pelo gabinete de crise da pandemia, por meio dos 80 milhões de celulares ativos no estado. “Tivemos um pico de 56% [da população em casa]. Mas isso ainda é pouco. Precisaríamos avançar para 70%, o que será muito difícil”.


O maior percentual de confinados está concentrado nas regiões metropolitanas, como a Baixada Santista, São Paulo e Campinas. “Sabemos o quanto a população sofre e quanto é ruim para a economia, mas é uma medida necessária”, destaca.


O infectologista não quis opinar sobre o isolamento proporcional nas localidades em que a ocupação dos serviços de saúde seja abaixo de 50%, conforme passou a defender o Ministério da Saúde nesta semana. “Seguiremos com nossos planos”, sustenta.


Contudo, Uip destaca a “interiorização” dos casos da Covid-19. “A epidemia ainda está concentrada na Grande São Paulo, mas rapidamente o vírus já passou a circular em 100 municípios paulistas. Não acredito que alguma cidade poderá ser poupada”, afirmou. “Não se sabe ao certo quem vai ou não ser infectado. Há registros de recém-nascidos com a Covid-19”.


O coordenador do Centro de Contingência afirma que ainda é prematuro estimar o fim do isolamento social. Na cidade chinesa de Wuhan, onde surgiu a pandemia do novo coronavírus, o confinamento foi suspenso na quarta-feira (8), após 76 dias de duração. Nesta quinta, a localidade voltou a registrar duas mortes pela doença. “Ainda estamos no começo da curva ascendente de casos [no estado]”, diz.


Uip afirma que quatro medicações são testadas em pacientes com a enfermidade nos hospitais de referência paulistas. E relata que são tímidos os resultados científicos globais que atestam eficiência da cloroquina no tratamento do novo coronavírus. O uso da substância foi defendido pelo presidente Jair Bolsonaro (sem partido), em pronunciamento em rede nacional de Rádio e TV, na noite de quarta-feira.


Logo A Tribuna
Newsletter